quinta-feira, 24 de maio de 2012

A concentração mundial do agronegócio



Coluna Econômica - 24/05/2012, Por Luis Nassif
Há um fenômeno global de concentração econômica na área agrícola, a merecer atenção especial da parte do governo.
Essa concentração manifesta-se na cana, soja, pecuária e na laranja. Dá-se globalmente ao longo de toda a cadeia produtiva - de trás para diante, das redes de supermercados aos produtores de matéria prima.
No caso do suco de laranja, antes 200 engarrafadores adquiriam o suco brasileiro; hoje são  70, 15 dos quais compram 70% do suco brasileiro. No Brasil, eram 20 indústrias, hoje são 3, respondendo por 98% da produção de suco brasileiro e 83% das exportações mundiais. 51 produtores detêm 40% das árvores plantadas; outros 12 mil ficam com o restante.
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Esta é a explicação da Citrus (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos) para os conflitos com a Associtrus (Associação Brasileira dos Produtores de Laranja).
A produção de laranja é dividida em três grupos:  produção própria, produtores com contratos de longo prazo e produtores que vendem no mercado à vista.
Quando os preços melhoram, há queixas dos produtores com contratos de longo prazo e alegria dos produtores spot. E vice-versa, quando os preços despencam.
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Segundo ele, até 1994 o setor era regido por um contrato-padrão: todos compravam laranja baseados na variação dos preços de Bolsa e performados nos Estados Unidos.
Na época, um grupo de citricultores denunciou o contrato ao CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico), alegando formação de cartel, já que todos, pagando o mesmo preço, iriam contra as regras de concorrência.
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No modelo antigo, a usina se responsabilizava pela colheita e transporte da laranja. Pelo novo sistema, esse custo passou a ser dos citricultores. Muitos não conseguiram assimilar o novo modelo e pretenderam voltar ao contrato-padrão. Mas havia o veto do CADE.
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O pano de fundo dos conflitos - segundo ele - é a queda mundial do consumo do suco de laranja. Há 10 anos, o mundo tomava 2,7 milhões de toneladas de suco por ano; no ano que vem, serão apenas 2 milhões. O Brasil exporta 98% do suco que produz e tem conseguido manter o mesmo nível de exportações devido ao declínio das exportações norte-americanas.
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No ano passado uma superssafra de laranja forçou o primeiro acordo setorial do setor. A safra de 428 milhões de caixas foi a maior dos últimos 15 anos. O Ministério da Agricultura deu um crédito de R$ 80 milhões a juros baixos para manter o suco estocado nos tanques dos produtores.
A maior vantagem do acordo foi impedir que essa estocagem fosse vista lá fora como manobra especulativa, já que servia de garantia para o empréstimo.
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Em geral, depois de um ano de boa safra as árvores ficam cansadas, e segue-se uma safra menor.
Para aumentar os problemas do setor, a safra deste ano promete repetir a do ano passado. Há o risco de se perder  50 milhões de caixas - correspondendo à produção dos que não têm contratos de longo prazo.
Essa supersafra ocorre em um momento em que mercados norte-americano, europeu e japonês enfrentam quedas históricas.
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São dois desafios pela frente. O primeiro, como estabelecer isonomia entre os fornecedores e compradores brasileiros nesses setores oligopolizados. O segundo, como resolver os nós da produção de laranja.

Mercado de Rotterdã

Uma das queixas da Associtrus é sobre o poder de mercado dos produtores de suco, que dominam a Bolsa de Nova York - base para a fixação de preços no spot.
Segundo Lohbauer, a Bolsa não é tão importante. Já representou 70% do comércio mundial, hoje em dia não mais que 15%.
70% das exportações brasileiras são para a União Européia. cujas cotações baseiam-se nos preços spot e nos contratos do mercado de Rotterdã.

Aumentando o consumo

Internamente, a preferência ampla é pelo suco de laranja fresco.
Esta semana, uma consultoria internacional iniciou estudos em 12 mercados para analisar as razões para a queda do consumo de suco de laranja. O problema é que o suco é uma commodity, vendido no atacado. Na sequência, há os engarrafadores - Coca e Pepsi nos EUA, 15 grandes na Europa - e, na ponta final, os supermercados, cada vez mais concentrados.

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