Os bordões de um certo jornalismo econômico chegaram a limites insuportáveis. Age-se por uma espécie de efeito Pavlov: qualquer redução de juros é vista como imprudência; se dos bancos públicos, é por ordem do governo, se dos bancos privados, por pressão da Dilma. Como se a normalidade consistisse em manter inalterada a mais anormal taxa de juros do planeta.
Conseguem ser mais realistas que o próprio setor bancário.
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Tome-se o caso do Banco do Brasil.
Com a crise de 2008, o sistema bancário trancou o crédito, os bancos públicos avançaram. No período, o BB conseguiu ampliar de 17% para 21% sua participação de mercado - e a conserva até hoje.
Nesse período, manteve um crescimento de 17 a 21% na carteira de crédito, e o ROI (retorno sobre investimento) permaneceu entre 20 a 22% do Patrimônio Líquido. A inadimplência, de 2,1%, é a mais baixa do sistema, contra uma média de 3,6% do mercado.
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Quando ficou claro que o BC traria a taxa Selic para níveis civilizados, o banco redefiniu um segundo round, buscando ampliar posição, conta Paulo Cafarelli, vice-presidente da Área de Negócios e Área Internacional do banco.
O cenário em que o BB começou a trabalhar mostrava 44 milhões de pessoas recebendo salários pelo sistema bancário, dos quais 13 milhões através do BB. Portanto, há uma faixa de 31 milhões a ser trabalhada. No INSS, são 24,7 milhões de pessoas recebendo benefícios de aposentadoria e pensão: dessas, o BB possui 6,9 milhões. São 18 milhões de correntistas com cadastro pré-aprovado para operar com banco, 13 milhões dos quais com apetite para o crédito. Desses, o BB tem 5 milhões.
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Mais. Em suas pesquisas o banco constatou a existência de clientes, recebendo o benefício através do próprio banco, mas tomando crédito em outros bancos, por taxas de juros até maiores.
Decidiu, então, implementar um programa de abordagem desse público, de forma mais qualificada que os "pastinhas", utilizados para captar clientela.
Para atuar sobre esse mercado, o BB criou um conjunto de operações de fidelizando, baseando-se até em práticas dos anos 80, meio esquecidas.
O pacote, denominado de Bom Para Todos, prevê até dez dias de uso do cheque especial sem pagar juros. Se continuar utilizando os serviços por 60 dias, possibilidade de refinanciamento do saldo devedor do cheque especial por taxas de 3% ao mês.
Haverá também um estímulo à portabilidade, tanto da folha de salários de empresas públicas e privadas, como do crédito. Cliente que recebe salário pelo banco poderá trocar um financiamento mais oneroso em outro banco por linhas módicas no BB.
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Como explica Cafarelli, o sistema bancário se deu conta que está acabando a era das taxas de juros elevadas. Os novos tempos exigirão nova postura, um aumento da escala, das operações de crédito e de clientes, compensando a redução do spread.
Os bancos vao ter que se reinventar, diz Cafarelli, viver em um ambiente de margem menor, de spread menor, com novos produtos e serviços, buscando redução de despesa, racionalização de custos (como o compartilhamento de caixas eletrônicos).
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