15 de abril de 2012 | 3h 07
ALBERTO TAMER - O Estado de S.Paulo
A economia chinesa desacelerou para 8,1% no primeiro trimestre, o comércio mundial vai crescer apenas 3,7%, abaixo dos 5,0% do ano passado, um dos piores resultados desde a crise de 2008, e só os Estados Unidos dão sinais ainda de expansão. Mas é um crescimento em grande parte baseado no aumento das exportações, 7,2% este ano, enquanto as importações não devem passar de 3,7%, de acordo com previsões da Organização Mundial do Comércio (OMC). Mesmo assim, são ainda o mercado mais aberto no mundo, com importações anuais da ordem de US$ 1,5 trilhão e um impressionante déficit comercial US$ 744 bilhões nos últimos 12 meses.
Desculpem. Vou cansar. Sim, a coluna pede desculpas por cansar o leitor com mais dados oficiais, mas são imprescindíveis para mostrar como o Brasil ainda não explorou as oportunidades nessa economia que, sozinha, tem um PIB igual ao dos 27 países da União Europeia. Está aberta, e a espera de nós. E não se trata apenas de comércio, mas de investimentos e, como assinalamos na última coluna, de ensino técnico e superior nas universidades americanas.
Parceiro menor. As relações bilaterais deram sinais de leve melhora este ano, mas ainda são marginais. O Brasil exportou no primeiro trimestre o equivalente a US$ 25,9 bilhões para os EUA. Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que entre janeiro e fevereiro, havia 3.218 empresas exportando para o mercado americano, número quase igual ao mesmo período do ano passado e, anualmente, cerca de 8.176 importando dos EUA: um aumento de 500 empresas.
E isso num mercado que, ao contrário do outro parceiro (a China), importa do Brasil 64% de produtos manufaturados e básicos (43% só industriais!) e 21% de semimanufaturados. Não é só petróleo e minério, como revela o site do Ministério do Desenvolvimento, mdic@gov.br, no comércio Brasil-EUA.
Mas eles não atrapalham? A resposta é não. Não só não atrapalham, mas, no governo Dilma, estão fazendo tudo para ajudar. Nos últimos meses, Obama adotou uma série de medidas que favorecem diretamente as exportações brasileiras. A mais simbólica foi a extinção do subsídio e a sobretaxa que incidia nas compras de etanol brasileiro, um tema político delicado para o presidente americano que enfrentou e venceu a forte oposição dos produtores americanos de milho e grãos.
Ao mesmo tempo, ao contrário do que fez com a Argentina, Obama decidiu manter o Brasil no SGP, importante programa que reduz tarifas que incidem sobre exportações brasileiras para o mercado americano. Houve também liberalização da importação de carne suína de Santa Catarina, entre outras medidas. Resta completar a mudança do subsídio ao algodão, determinada pela OMC, ainda dependendo do Congresso, e a liberação total de carne bovina.
Nada a acusar. Como lembra o colega Rolf Kuntz, em seu artigo do dia 12, no caderno de Economia do Estado, "ninguém pode acusar o governo americano de haver criado obstáculo à expansão do comércio bilateral, nem de haver imposto nos últimos anos barreiras importantes aos manufaturados brasileiros... Brasília deu prioridade a entendimentos comerciais com parceiros emergentes e em desenvolvimento". E deu nisso que está aí.
Melhorou, mas é pouco. No primeiro trimestre do ano, as exportações do Brasil para os EUA aumentaram 41%. Estão agora em US$ 6,9 bilhões, o que representa 12,6% das vendas totais. Se o leitor quiser saber se é muito, lembro que somente em fevereiro apenas os Estados Unido importaram US$ 227 bilhões! Dados oficiais do Departamento do Comércio divulgados na quinta-feira. Nada mesmo.
Clinton, pouco a fazer. A secretária de Estado Hillary Clinton chega ao Brasil para visita de dois dias, mas quando muito, vai dizer que seu governo nada mais pode fazer para alterar esse quadro que foi agravado nos desmandos diplomáticos do governo passado. Ela poderá lembrar que os EUA são de longe os maiores investidores no Brasil, representam este ano quase 13% do total. Mas é inútil procurar nos EUA os obstáculos às nossas exportações que permanecem à margem do trilionário mercado americano, aberto e à espera do Brasil. A presidente mostrou decisão de mudar esse cenário. Agora, é ir adiante, com mais essa reunião em Cartagena. Mas o trabalho a fazer está aqui.
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