terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A sangria na política monetária



Coluna Econômica - 06/02/2012
Vamos ampliar um pouco mais a discussão sobre a relação Selic-PIB, retomando o tema da última coluna.
A maneira como a Selic impacta a economia lembra muito o uso de sanguessugas para o uso da sangria no tratamento de saúde. Se contasse para um médico como a Selic atua sobre a economia, haveria denúncia ao Conselho Federal.
A idéia central de uma política monetária é atuar sobre o nível de atividade. Se a economia está aquecida, há risco de aumento de preços. Aumentam-se os juros para reduzir a atividade e, com isso, aliviar a pressão sobre preços. E vice-versa. Se a economia está desaquecida derrubam-se os juros para estimular a atividade econômica.
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Na prática, ocorreo seguinte.
O Banco Central aumenta a Selic:
1. O efeito sobre o canal de crédito é mínimo. Um comentarista do Blog (www.luisnassif.com.br) comentou que a cada aumento da Selic seu banco aumenta as taxas de juros.
Experimente calcular o efeito sobre o valor final da prestação. Dado o elevadíssimo nível de juros do crédito, variações da Selic são inexpressivas.
Por exemplo, um bem de R$ 1.000,00, por 36 meses a taxa de 3% ao mês (42,6% ao ano) resultará em uma prestação de R$ 45,80. Um aumento de 1 ponto na Selic (que provoca comoção nacional), se repassado para o financiamento, resultará em uma prestação de R$ 46,21. Um aumento de 3 pontos na Selic anual resultará em uma prestação de R$ 47,03. Pergunto: impactará a decisão de compra do consumidor? Evidente que não. Portanto, o efeito do canal de crédito é inexpressivo.
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2. Decisão de investimento privado.
Suponha um investimento de R$ 1 milhão, com uma taxa anual de retorno de 10% e um prazo de 10 anos para amortização. O fluxo de caixa terá que ser de R$ 162,7 mil por ano para amortizar o investimento em 10 anos (sem considerar o valor residual).
Se a taxa de retorno exigida aumentar 3 pontos, o prazo de retorno aumentará para 14 anos. É evidente que ocorre um corte em todos os investimentos que proporcionem um retorno inferior.
É uma lógica maluca. A política monetária atua sobre a demanda visando corrigir o descompasso com a oferta. No entanto, a maneira que tem de atuar sobre a demanda agregada é inibir o aumento da oferta - isto é os investimentos. Só um país da jabuticaba para aceitar essa lógica.
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3. Um terceiro efeito é sobre o câmbio. Aumenta a Selic, atrai mais capital especulativo, que pressiona o câmbio tornando mais baratos os chamados produtos exportáveis - os importados e aqueles controlados por cotações internacionais. É o uso da sangria no tratamento médico. Interfere-se em um preço fundamental da economia, com implicação direta sobre as contas externas e sobre a competitividade, para atingir o objetivo de controlar a inflação. Mesmo assim, hoje em dia o efeito é pequeno.
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4. Reduz investimentos públicos.
Esse é o ponto mais nefasto da operação sanguessuga.
Aumenta a Selic. Há uma pressão adicional sobre as contas públicas e sobre a relação dívida/PIB. Para contrabalançar, exige-se um aumento do superávit primário. Cortam-se investimentos públicos e, com isso, reduz-se a demanda agregada.
Depois, alega-se que o país não pode crescer (e tome juros altos para segurar o crescimento) porque não tem infraestrutura adequada.

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