27/02/2012 - 20h25
Terceiro turno
A pré-candidatura do tucano José Serra confere à eleição paulistana um ar de terceiro turno da disputa presidencial de 2010. Com Serra no páreo, a peleja esquenta e ganha um caráter mais nacional.
No Palácio do Planalto, já se diz que era esperada a candidatura. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, levou a informação à presidente Dilma Rousseff antes do Carnaval. Isso é fato. Mas o PT está assustado. Preferia que Serra não fosse candidato. Muda de cor aquele cenário róseo, que sonhava uma eleição só de novatos e com maior isolamento da oposição federal.
A própria Dilma terá de se envolver mais nas eleições municipais do que desejava. O PT a pressionará a cobrar fidelidade de seus aliados federais para tentar dar ao pré-candidato do partido, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, um aliança partidária robusta.
Ao mesmo tempo, o governador Geraldo Alckmin pedirá aos seus aliados estaduais que fiquem ao lado de Serra na disputa municipal. Partidos como o PDT e o PSB, apoiadores das administrações Dilma e de Alckmin, terão de fazer suas escolhas e arcar com as consequências.
A briga por aliança é fundamental para PT e PSDB. O desconhecido Haddad precisa de tempo de TV e rádio para vender o seu peixe. Com alta taxa de rejeição, Serra necessita do mesmo remédio.
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O DUELO
Haverá um claro embate entre dois políticos de longa estrada: Serra e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Serra encarna o anti-Lula. O petista gostaria de conquistar uma fortaleza da oposição que sempre resistiu a ele.
Ao contrário de 2010, quando começou a campanha tentando se vender como amigo de Lula, agora o tucano estará livre para bater no PT. Claro que Serra dirá que o eleitor não votará em Lula, mas em Haddad. Argumentará que a briga é com o candidato, não com o ex-presidente.
No entanto, Lula está disposto a tentar repetir o que fez com Dilma. Ou seja: ligar sua imagem à do candidato para que o eleitor vote em Haddad com seu aval.
Quem perder sofrerá uma grande derrota. Lula será acusado de ter errado na estratégia ao vetar a candidatura da ex-prefeita e hoje senadora Marta Suplicy. Também terá de digerir a rasteira que tomou de Kassab, que namorou o PT, mas ficou mesmo com Serra.
Uma derrota de Serra enfraquecerá ainda mais a oposição ao governo Dilma. Seria ainda humilhante para quem disputou a Presidência duas vezes e foi governador, prefeito, ministro, senador e deputado. Seria um fim de carreira pior do que o ostracismo em que se encontrava até assumir a candidatura.
Uma derrota de Serra enfraquecerá ainda mais a oposição ao governo Dilma. Seria ainda humilhante para quem disputou a Presidência duas vezes e foi governador, prefeito, ministro, senador e deputado. Seria um fim de carreira pior do que o ostracismo em que se encontrava até assumir a candidatura.
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KASSAB E O PSD
Já há tucanos que dizem que, na prática, Serra entrou no PSD de Kassab. Ou seja, sua candidatura segurou o prefeito na órbita da oposição ao governo federal.
Em troca, Kassab provavelmente será candidato a vice-governador na chapa de Geraldo Alckmin em 2014, quando o tucano concorrerá à reeleição ao Palácio dos Bandeirantes. Kassab teria a chance de disputar o governo de São Paulo em 2018.
Ironia: seria a segunda vez que teria a chance de herdar um cargo aceitando ser vice de um tucano. Em 2004, ele formou com Serra a chapa que derrotou a tentativa reeleitoral de Marta Suplicy.
Serra deixou a prefeitura com Kassab em 2006 para conquistar o Palácio dos Bandeirantes e, assim, ficar mais bem posicionado para tentar o Palácio do Planato em 2010, como tentou.
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OUTROS CANDIDATOS
O PT tem feito uma análise sobre os prós e contras de pressionar o PMDB a rifar a candidatura do deputado federal Gabriel Chalita (SP). A vantagem seria formar uma aliança que daria um belo tempo de TV a Haddad. A desvantagem seria tirar do páreo alguém que pode roubar votos de Serra e impedir uma eventual vitória no primeiro turno.
Nesse sentido, o PT também teria interesse em estimular a candidatura de Celso Russomano, do PRB. Desafeto de Serra, Russomano poderia ajudar Haddad a bater duro no tucano. Serra, aliás, sofrerá para explicar a renúncia de 2006.
Craque na articulação política, Kassab já saiu anunciando a candidatura de Serra a prefeito como uma desistência do projeto presidencial. Vacina pura, como dizem os marqueteiros. Acredite quem quiser.
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AÉCIO
Se conquistar a prefeitura, Serra voltará ao jogo nacional. Isso significa poder e trincheira para, no mínimo, atrapalhar a vida do senador Aécio Neves (MG) rumo à candidatura presidencial de 2014.
Nos bastidores, tucanos dizem que Serra resistiu muito a concorrer a prefeito por falta de vontade de se dedicar a um projeto municipal. Logo, o sonho da Presidência ficará apenas adormecido em caso de vitória em São Paulo.
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PREVISÃO INSUSPEITA
Adversário mortal de Serra, Ciro Gomes (PSB) acha que ele vencerá a disputa. Foi o que disse em entrevista ao "É Notícia" no dia 12 de fevereiro.
Kennedy Alencar escreve na Folha.com às sextas. Na rádio CBN, é titular da coluna "A Política Como Ela É", no "Jornal da CBN", às 8h55 de terças e quintas. Na RedeTV!, apresenta o "É Notícia", programa dominical de entrevista, e o "Tema Quente", atração diária com debate sobre assuntos da atualidade.
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