quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Bruno Boghossian -Lula conta os centavos para um ajuste de rota em 2024,, FSP

 Faltam dois meses para o fim do ano, mas Lula está inquieto com 2024. A tentativa de afrouxar a meta fiscal e blindar os gastos do governo aponta para o que o petista trata como um ajuste de rota. "No ano que vem, se preparem, porque eu vou viajar para cada estado. Eu quero inaugurar muitas escolas, muitas universidades", afirmou o presidente.

Em 30 minutos de entrevista ao canal do governo, nesta terça (31), Lula falou três vezes em promessas para o próximo ano. Nas três vezes, misturou um balanço positivo de 2023 com um sutil reconhecimento de frustrações do eleitor. "Obviamente, quando você planta um pé de fruta, não vai dar fruta no mesmo ano", disse. "Às vezes, demora um pouco."

Dentro do governo, a avaliação é que a agenda internacional de Lula e a recuperação de programas antigos, como o Bolsa Família, permitiram uma decolagem suave de seu terceiro mandato. Ao mesmo tempo, essas escolhas submeteram o presidente a um teto de popularidade neste primeiro ano, a partir de uma certa percepção de marasmo.

O presidente Lula (PT) se reúne com líderes da base aliada no Palácio do Planalto - Gabriela Biló/Folhapress

Lula quer cada centavo disponível para tentar mudar o quadro. O plano é multiplicar palanques para a inauguração de obras públicas em 2024. Ele deixou esse objetivo claro quando admitiu um déficit nas contas para evitar cortes em investimentos e quando avisou a parlamentares que não congelará gastos, principalmente no PAC e em programas sociais.

A reunião do presidente com líderes da base aliada, nesta terça, serviu para firmar um pacto nessa direção. Lula cobrou apoio a medidas que aumentem a arrecadação, mas sinalizou que manterá os gastos previstos para o ano que vem, mesmo que elas não sejam aprovadas.

Como o centrão tem acesso privilegiado aos cofres do governo, não é difícil apontar o lado para o qual essa balança vai pender. Ao preservar despesas, os partidos protegem também o dinheiro que vai para suas bases eleitorais na forma de emendas e pelo orçamento dos ministérios que comanda. Lula pode rachar a conta do déficit com o centrão.

Igualdade na corrida da vida -Deirdre Nansen McCloskey, FSP

 O "estatismo" diz que nossas vidas deveriam ser dirigidas, ajudadas, seguradas, garantidas, reguladas, geridas, restringidas, tributadas, recrutadas, executadas, induzidas pelo Estado. O estatismo de antigamente não se preocupava com o "deveriam". Simplesmente eram. Acostumem-se com isso. Seu rei, mestre ou marido lhe dizia o que devia fazer e tinha o chicote para se impor. A hierarquia foi feita para parecer "natural". Assim como o pai era o senhor coercitivo da casa, o rei era o pai da nação.

O estatismo moderno propõe outra teoria, qual seja, que como você vota ocasionalmente nos seus mestres no Palácio da Alvorada ou no Congresso Nacional, deve ter concordado em ser dominado pela "vontade geral". No entanto, cada um de nós tem vontades altamente individuais, como a vontade de abrir uma mercearia em Pirituba ou a vontade de comprar um carro japonês ou a vontade de amar seu marido. Vontades verdadeiramente gerais são cada vez mais raras, embora desde Jean-Jacques Rousseau sejam um mito poderoso para justificar a ampliação do poder do Estado. Infinitamente.

O oposto do estatismo é o liberalismo, que diz que você pode fazer o que quiser, desde que isso não coaja diretamente outra pessoa. Você não pode roubar sua vizinha sob a mira de uma arma. Mas pode negociar com ela tudo o que quiser –independentemente de uma suposta vontade geral de punir os homossexuais, de invadir o Paraguai ou de impedir a importação de carros japoneses.

O liberalismo é uma igualdade de permissão, não de renda ou oportunidade. Sob o liberalismo, todo mundo tem o mesmo direito de entrar na corrida da vida. Mas não temos o direito de cruzar a linha de chegada ao mesmo tempo que todos os outros, que é a promessa irreal do socialismo europeu que Rousseau inspirou. Numa família ou grupo de amigos, sim, essa igualdade na linha de chegada funciona muito bem. Mas não num país de 215 milhões de habitantes, nem mesmo em Pirituba. Na prática, você também não tem o direito de começar na mesma linha de partida. Uma criança guarani não começa com as mesmas oportunidades que o filho de um sócio do Anhembi Tênis Clube.

Mas agora podemos deixar qualquer um participar da corrida. É verdade, diz Eclesiastes na Bíblia, que o tempo e o acaso intervêm. No entanto, a igualdade de permissão dignifica e enriquece a todos nós, altos e baixos, ricos e pobres.


Opinião - Agronegócio brasileiro inspira eficiência energética, por Vicente Abate

 O Brasil é considerado um dos países de maior relevância global no combate às mudanças climáticas, em função de sua matriz energética ser composta de mais de 47% de energias de fontes renováveis, segundo a Empresa de Pesquisa Energética - EPE.  Além disso, alinha-se positivamente aos 17 ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU - que abrangem diferentes temas, relacionados a aspectos ambientais e sociais, visando à Agenda 2030, coordenada pelas Nações Unidas, por meio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD.


Em 1975, foi criado o Programa Nacional do Álcool, o Proálcool, uma iniciativa conjunta dos fabricantes de automóveis, governo e acadêmicos, resultando no que, mais tarde, seria considerado o maior programa dedicado ao incentivo de biocombustíveis renováveis do mundo. Embora extinto anos depois, esse programa, já consolidado, provocou a intensificação da produção de etanol, combustível de primordial importância para a descarbonização do transporte.

Os benefícios do Proálcool foram permanentes: a melhoria nas condições ambientais e a maior flexibilidade na produção de açúcar. O programa ainda atuou de maneira significativa na geração de milhões de empregos e na manutenção da massa salarial.  

Em 2016, o Ministério de Minas e Energia lançou o RenovaBio, que visava expandir a produção de biocombustíveis para gerar sustentabilidade ambiental, econômica e social, conceitos básicos do ESG (sigla do inglês para Environmental, Social and Governance, traduzido no português para Meio Ambiente, Social e Governança). Tais medidas governamentais deram o suporte para a produção de combustíveis alternativos, amigáveis ao meio ambiente.

Com efeito, em 2023, é prevista uma robusta safra de grãos, em torno de 310 milhões de toneladas, 17% maior que em 2022. Já a safra de cana-de-açúcar (2023/2024) terá cerca de 630 milhões de toneladas a serem esmagadas, com a constatação, desde já, de uma excelente produtividade. Esses volumes têm-nos conduzido, há tempos, a um importante papel na transição energética global, de forma prioritariamente sustentável.  

Além de alimentar nossa população e cerca de um bilhão de pessoas no mundo, os subprodutos dos grãos e da cana-de-açúcar permitem gerar energia renovável disruptiva, particularmente através do hidrogênio verde, a nova fronteira energética brasileira.
O etanol terá participação crucial na eletrólise do hidrogênio, cujo desenvolvimento será capitaneado pelas energias eólica e solar, que ganham participação crescente em nossa matriz energética. Assim como os grãos já têm contribuído na geração de biocombustíveis, chegamos ao franco desenvolvimento experimentado pelos sistemas de biomassa e de baterias.

A produção do hidrogênio, em suas variadas formas, já se torna realidade em alguns dos principais portos nacionais, como Pecém, Suape, Açu e Santos, cujo hidrogênio servirá também para abastecer nossas indústrias. Ademais, será inaugurada em breve, na Bahia, uma fábrica de eletrolisadores, para contribuir com o necessário desenvolvimento do setor.
A indústria ferroviária brasileira também está engajada nesse contexto. Um dos fabricantes nacionais de locomotivas entregou em 2020, no mercado interno, a primeira locomotiva de manobra 100% a bateria que já  tem sido exportada para os EUA. Esse e  outro fabricante nacional têm conduzido testes na Califórnia com locomotivas híbridas, de linha, com célula de hidrogênio.

Os fabricantes nacionais de trens de passageiros estão trazendo tecnologia de suas matrizes para replicar no Brasil o sucesso de Trens Regionais na Europa e VLT (Veículos Leves sobre Trilhos) na Coreia do Sul, movidos a hidrogênio. Mesmo o vagão de carga tracionado pode contribuir com 3,5% de eficiência energética pela diminuição do coeficiente de arrasto, através da melhoria de sua aerodinâmica, comprovada por ensaios em túnel de vento.

Estou certo de que essas oportunidades, e outras que surgirão, farão com que o Brasil consolide, no curto e médio prazos, sua posição estratégica como produtor e fornecedor mundial de energias renováveis, alavancando toda a cadeia produtiva deste setor promissor.


 
Este artigo foi originalmente publicado pela Revista Opiniões
 Edição Novembro/2023