segunda-feira, 2 de junho de 2025

Morre Mario Adler, presidente da Estrela que tornou Dia das Crianças uma data comercial, FSP

 São Paulo

Morreu nesta sexta-feira (30) o empresário Mario Adler, 86, responsável por tornar a Brinquedos Estrela a principal empresa de brinquedos do país. A causa da morte não foi revelada.

Adler presidiu a empresa até 1993, depois de ficar mais de 30 anos à frente dos negócios. A Estrela foi fundada por seu pai, o alemão Siegfried Adler, que em 1937 comprou uma pequena fábrica de bonecas de pano e carrinhos de madeira localizada no Belém, bairro da zona leste de São Paulo.

A imagem mostra um homem idoso com óculos e um quipá, vestindo um paletó claro e uma camisa branca. Ele está em um ambiente social, com outras pessoas ao fundo, algumas delas desfocadas. A iluminação é suave, com lâmpadas pendentes visíveis no teto.
Mario Adler, na Congregação Israelita Paulista (CIP) - Zanone Fraissat/Folhapress

De um negócio pacato, a indústria se tornou a maior empresa do setor nas décadas seguintes, principalmente a partir do empenho de Mario. Mas, com a abertura de mercado para produtos estrangeiros no início dos anos 1990, perdeu espaço para os importados da China.

Mario foi também o responsável por tornar o Dia das Crianças uma data comercial. Em uma entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, ele contou que a intenção com a criação da data era reduzir a dependência do comércio em relação ao Natal. A ideia inicial, afirmou, era comemorar a data no primeiro semestre, mas uma lei criada pelo ex-presidente Arthur Bernardes em 1924 fixava 12 de outubro como o dia dos pequenos.

"Acreditávamos que seria uma ação de marketing interessante para incrementar os negócios, mas não tínhamos a menor noção da importância que iria adquirir com o tempo", disse ao jornal em 2017.

Mario vendeu a empresa em 1996, quando ela já estava em dificuldades. O comprador foi Carlos Tilkian, então presidente da companhia. Desde então, dedicou-se ao trabalho filantrópico no hospital Albert Einstein, como representante em São Paulo da Universidade de Tel Aviv e na Congregação Israelita Paulista.

"Não carrego mais o fardo da disputa acirrada pelo mercado", disse ele à Folha ainda em 1999. "Pela minha idade quando vendi a empresa, não ia me aposentar, mas sim reorganizar a minha vida, com mais tempo para projetos pessoais."

Por meio de nota, a Congregação Israelita Paulista manifestou profundo pesar pelo falecimento de Mario, que presidiu a instituição de 1996 a 2000. "Mario Adler dedicou-se com compromisso, generosidade e visão à vida comunitária judaica e ao fortalecimento da CIP como uma casa plural, acolhedora e fiel aos valores judaicos de ética, estudo e justiça social", escreveu.

"Durante sua gestão, contribuiu para o desenvolvimento institucional da nossa Congregação, sempre pautado pelo espírito de serviço, diálogo e construção coletiva. Neste momento de tristeza, expressamos nossa solidariedade à sua família e amigos, e registramos nosso reconhecimento pelo legado que deixa na história da CIP e da comunidade judaica brasileira. Que sua memória seja uma bênção. Que o seu legado, um exemplo comunitário", acrescentou.

Já a Conib (Confederação Israelita do Brasil), da qual também foi diretor, afirmou em nota que Mario foi um empresário incansável em sua atividade, líder comunitário e figura de grande destaque também na filantropia.

Mario deixa a esposa Eva, além de duas filhas e duas netas.

Após morte de menina, desafio do desodorante ganha variações no TikTok e no Kwai, FSP

 Isabella Menon

Berlim

A morte de Sarah Raíssa Pereira de Castro, 8, após supostamente participar do "desafio do desodorante" que viu nas redes sociais, em meados de abril, acendeu um alerta sobre o consumo de telas entre crianças e adolescentes. Apesar da tragédia, vídeos promovendo esse tipo de prática continuam sendo publicados e compartilhados.

Um relatório coordenado pela psicóloga e pesquisadora Fernanda Rasi Madi, especializada em conteúdos violentos nas redes, identificou a presença recorrente desses desafios em plataformas de vídeos curtos, como o TikTok e o Kwai.

A imagem mostra uma interface de vídeo ao vivo, onde à esquerda há uma mão tocando uma superfície clara, possivelmente uma parede ou um tecido. À direita, há uma seção de comentários com texto visível, incluindo uma pergunta sobre acessibilidade. O fundo é escuro, e a interface é típica de plataformas de streaming ou redes sociais.
Vídeo se espalham pelas redes sociais com desafio do desodorante, angariam milhões de visualizações e usuários comentam com incentivos - Reprodução

As empresas, que normalmente se manifestam por meio de notas sobre conteúdos perigosos, deram respostas vagas ou simplesmente ignoraram os questionamentos enviados pela Folha.

Sem disponibilizar porta-voz, o TikTok alegou que suas diretrizes proíbem a promoção de atividades ou desafios perigosos. A Folha enviou à plataforma quase 30 links com vídeos que incentivam ou ensinam esses desafios. Em resposta, o TikTok afirmou que os conteúdos foram "minuciosamente revisados" e que os que violam as regras foram removidos —mas não especificou quantos.

Questionada novamente, a empresa respondeu apenas que, entre outubro e dezembro de 2024, mais de 153 milhões de vídeos foram removidos globalmente, sendo que 20,8% violavam diretrizes relacionadas à saúde mental e comportamental — categoria que inclui os desafios perigosos.

"Mantemos esforços contínuos para moderar e remover prontamente esse tipo de conteúdo", diz a nota enviada pela empresa.

O Kwai, também citado no relatório por veicular vídeos com esse tipo de desafio, não respondeu às perguntas da reportagem, enviadas na terça-feira (13).

O estudo conduzido por Fernanda Rasi Madi mostra que, além de ainda circularem nas redes, os desafios são muitas vezes adaptados em novas versões, como queimar a pele com o aerossol ou pressionar o spray até que exploda.

Também mostra que as principais hashtags utilizadas pelos usuários para divulgação do vídeo usam combinações do nome do desafio, mas também utilizam combinações de palavras ligadas a temas de saúde mental, o que demonstra, segundo a pesquisadora, que o objetivo também é atingir adolescentes psicologicamente vulneráveis.

Nem todos os vídeos coletados por Madi incentivam diretamente os internautas a fazerem os desafios, há aqueles que se parecem com alertas a este tipo de conteúdo, porém servem como uma espécie de tutorial de como colocá-lo em prática.

A coleta de dados foi feita entre os dias 15 de abril —poucos dias após a morte de Sarah— e 7 de maio. Nesse período, a pesquisadora reuniu mais de 30 conteúdos relacionados a esses desafios, que variavam de menos de 100 a mais de 84 mil curtidas, além de milhões de visualizações.

Segundo Madi, jogos e redes sociais têm sido portas de entrada para jovens em ambientes de radicalização, nos quais se promove a dessensibilização a conteúdos de extrema violência —como automutilação, tortura de animais, pornografia infantil e até assassinatos.

Ela argumenta que os desafios fazem parte de uma etapa inicial desse processo de dessensibilização, alimentado por grupos de extrema-direita e de ódio, que se valem da lógica da gamificação para atrair adolescentes. "Eles criam missões em troca de recompensas como fama e validação social", diz.

A pesquisadora alerta que, uma vez engajados nesses desafios, os jovens se tornam mais vulneráveis a integrar comunidades fechadas e radicais. "O conteúdo tende a se tornar cada vez mais extremo. As crianças testam seus limites, incentivadas por discursos de coragem e força", afirma.

A imagem é uma nota de pesar em fundo preto, com uma foto em preto e branco de uma menina sorridente. O texto inclui o nome 'Sarah Raissa Pereira de Castro' e menciona que Deus convidou a menina para 'bater asas e voar para o Céu'. As datas de nascimento e falecimento estão indicadas como 28/03/2016 e 12/04/2025, respectivamente. Também há informações sobre o velório e sepultamento, com horários e local.
Raíssa Pereira de Castro, que morreu após supostamente participar do chamado desafio do desodorante, que circula nas redes sociais - Reprodução/Instagram

No caso específico do desafio do desodorante, muito popular no TikTok, dois fatores se destacam como motivadores: a busca por fama e o chamado Fomo ("fear of missing out", o medo de ficar de fora, em inglês). "Ambos reforçam a necessidade de aceitação, o que, mesmo sem intenção, contribui para o avanço da radicalização", diz Madi.

Ela destaca ainda que a permanência desse tipo de conteúdo nas plataformas evidencia a fragilidade dos mecanismos de moderação dessas redes, especialmente diante de um público tão jovem e vulnerável.

Morte sem respostas

Um mês após o caso, a polícia ainda não trouxe atualizações sobre a morte de Sarah Raíssa. Questionadas na segunda-feira (12), as autoridades disseram que não há novidades. O último posicionamento foi dado em 14 de abril, quando o delegado Walber José de Sousa Lima informou que o celular da menina havia sido encaminhado para perícia.

À época, ele afirmou que tentava identificar quem criou e quem replicou o conteúdo. Disse ainda que os responsáveis, caso encontrados, podem ser enquadrados por homicídio duplamente qualificado, com pena de até 30 anos de prisão.

Até o momento, não foi esclarecido em qual plataforma a menina estava quando morreu. Vídeos semelhantes ao que teria motivado sua morte seguem sendo repostados.

Críticas de Lula e mal-estar diplomático

O TikTok também esteve no centro de uma polêmica nesta semana, após o vazamento de uma conversa entre o presidente Lula e a primeira-dama Janja. Durante um jantar oferecido pelo líder chinês Xi Jinping, Janja teria causado um "climão" ao criticar a atuação da plataforma no Brasil.

Na sequência, Lula reforçou publicamente a defesa da regulamentação das redes no país, incluindo o TikTok. O presidente classificou o vazamento da conversa como "inadmissível e desleal" e demonstrou insatisfação com seus ministros, por considerar o episódio um ataque à primeira-dama.

Segundo a coluna da Mônica Bergamo, o TikTok enviou uma carta ao governo brasileiro dizendo estar ciente do episódio e se mostrou disposto a dialogar sobre sua atuação no país.