quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Mariliz Pereira Jorge Bia Kicis, vergonha da raça, FSP

 

O trio Kicis-Zambelli-Damares representa o que há de pior para as causas femininas

  • 83

Expectativa: exercitar a sororidade. Realidade: Bia Kicis. A deputada do PSL-DF, eleita na esteira do bolsonarismo e uma das mais ferrenhas lambe-botas do presidente, deve assumir a presidência da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara.

A indicação dela é um escárnio. A parlamentar é investigada por financiar com dinheiro público a propagação de mensagens a favor de atos pelo fechamento do Congresso e do STF. Trata-se de uma golpista de carteirinha, que terá também o poder de analisar pedidos de impeachment contra o presidente golpista.

A ala feminina que apoia Jair Bolsonaro é a prova de que caráter não é questão de gênero. Não adianta ter mais representatividade na política quando significa empoderar mulheres do naipe Kicis-Zambelli-Damares. O trio é a vergonha da raça e representa o que há de pior para as causas femininas.

Em dois anos, Kicis conseguiu se destacar apenas pelas polêmicas que coleciona, pelos linchamentos que promove. Ataca feministas, ironiza assédio sexual, diz que o feminismo é "máquina de moer lindas jovens e transformá-las em barangas". Antes ser baranga a ser pau-mandado de genocida.

É a quarta parlamentar que mais dissemina mentiras nas redes sociais, segundo levantamento da agência Aos Fatos. Só fica atrás de Osmar Terra, Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli. Não por acaso é investigada no inquérito das fake news. Culpa a China pela coronavírus, é contra o uso de máscaras e entre seus projetos estão a volta do voto impresso, diminuição da idade de aposentadoria dos ministros do STF, escola sem partido.

Só mesmo em um buraco chamado Brasil é que uma pessoa assim, um verdadeiro boletim de ocorrência ambulante, pôde ter sido procuradora da República e agora virar guardiã da Constituição.

Não há sororidade que resista ao chorume do currículo de Bia Kicis.

Bia Kicis - Claudio Reis/FramePhoto/Folhapress
Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.


Antimendigo, editorial ,FSP

 0

Pedras colocadas sob o viaduto Dom Luciano Mendes de Almeida, em São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Pedras, pregos, mangueiras de alta pressão ou simplesmente o confisco das poucas posses. Todas essas armas e mais algumas já foram usadas por sucessivas administrações municipais de São Paulo para tentar retirar moradores de rua de áreas tidas como sensíveis.

A prefeitura sob a gestão de Bruno Covas (PSDB) acaba de escrever mais um dos capítulos dessa triste rotina ao mandar instalar pedras pontiagudas sob o viaduto Dom Luciano Mendes de Almeida, na zona leste, para evitar que mendigos durmam no local.

Após uma péssima repercussão, que não deveria surpreender, a administração se apressou em exonerar o responsável pela decisão.

Essa intervenção antimendigo não passou, mas várias outras passaram, não só na gestão Covas como nas de inúmeros antecessores. Embora dirigentes mais à direita tenham maior facilidade em adotar um discurso de exclusão em defesa da ordem e da segurança, governantes mais à esquerda também incorreram nesse tipo de medida.

Submetidas a diversos tipos de pressão, muitas vezes contraditórias, prefeituras acabam aderindo às pedras e aos pregos. É obviamente uma estratégia moralmente errada e ineficaz mesmo em seus propósitos tortuosos —no máximo, dispersa a população de rua.

Cumpre reconhecer, porém, que está entre as funções legítimas da prefeitura impedir que ocupações permanentes (barracos) se formem sob os viadutos da cidade. Obter esse efeito sem exercer nenhum tipo de coerção não é trivial.

A questão dos moradores de rua é das mais complexas e difíceis de resolver, e dinheiro constitui apenas parte do problema. Mesmo países ricos e com programas sociais bem concebidos não conseguem convencer todos os indivíduos que não têm onde morar a abandonar as vias e viver em abrigos —ou pelo menos a criar conexões com os serviços médicos e de assistência.

No Brasil, ademais, regras de comportamento desnecessariamente restritivas nos abrigos dificultam ainda mais a missão.

Embora não existam fórmulas mágicas, torna-se mais fácil alcançar os moradores de rua se os programas que podem ajudá-los a sair dessa situação estiverem baseados em confiança e não na repressão. Trata-se de meta a ser alcançada por meio de pequenos avanços sucessivos, numa linha semelhante à da redução de danos.​

editoriais@grupofolha.com.br

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Elio Gaspari O ocaso de Rodrigo Maia, FSP

 Rodrigo Maia foi um bom presidente da Câmara e saiu da cadeira maior do que quando a ela chegou. Se não houvesse outro critério, três dos seus quatro antecessores passaram algumas noites na cadeia. Sofreu uma derrota amarga porque acreditou na própria mágica. Teve calma demais na partida e de menos na chegada. Seu candidato foi batido por Arthur Lira no primeiro turno.

Junto com o senador Davi Alcolumbre, Maia tentou uma reeleição inconstitucional e foi devorado pelo centrão, essa massa disforme de parlamentares, que já digeriu Dilma Rousseff e Fernando Collor, e agora mastiga Jair Bolsonaro.

Depois da maré eleitoral de 2018, que produziu o capitão e alguns jacarés, Maia preservou a autonomia do Parlamento. Naqueles dias estavam postas as cartas para uma aventura golpista com tinturas plebiscitárias. Passados dois anos, viu-se que as tais “bancadas temáticas” que formariam uma nova base parlamentar para o bolsonarismo eram conversa fiada.

Se o “posto Ipiranga” Paulo Guedes não conseguiu se entender com Maia, isso não se deveu às convicções do presidente da Câmara. Os desentendimentos vieram do caráter errático do Planalto e da dificuldade que Guedes mostrou em relação ao cumprimento das combinações que fazia.
De volta à planície, Maia poderá mostrar o vigor de suas ideias.

Ele conhece o Congresso e sabe que os protestos contra a liberação de verbas em troca de votos são choro de perdedor. Maia desafiou o Planalto, não conseguiu formar uma base de apoio e perdeu. Sofreu traições capazes de exasperar grandes políticos nordestinos. Perdeu para Arthur Lira, filho do senador Benedito de Lira. O novo presidente entrou em campo com um forró e uma canetada com a qual pretendia bloquear o acesso da oposição à Mesa Diretora. Com esse estilo, sua gestão promete.

Falando pouco antes da votação, Lira prometeu uma casa onde haja “menos eu e mais nós”. Nós queria dizer nós mesmo.

[ x ]

COVAS ZANGOU-SE

Tucano, quando sobe no salto alto, não desce nem para tomar banho. O prefeito Bruno Covas reelegeu-se, aumentou o próprio salário, retirou o benefício do transporte gratuito para os idosos e foi ao Maracanã ver o jogo do Palmeiras contra o Santos.

Criticado, disse que levou o filho para usufruir de “algumas horas inesquecíveis”. Podia ter visto o jogo pela televisão, mas quis ir ao Rio. Tudo bem, o doutor estava de licença depois de ter passado por sessões de radioterapia.

Covas subiu no salto quando atribuiu as críticas à “hipocrisia generalizada que virou nossa sociedade”. A sociedade brasileira não tem nada a ver com essa história. Nela há gente que talvez fosse ao Maracanã, se tivesse os meios. Falar mal do povo é coisa de quem não tem o que dizer.

Depois de ver Covas no estádio, o dono do restaurante Ponto Chic (berço do sanduíche bauru) resolveu descumprir a determinação que limitava o funcionamento de sua casa. Ele tem 110 funcionários, perdeu 30% do faturamento e não demitiu ninguém. Inesquecíveis são os baurus do Ponto Chic, e não podem ser comidos pela televisão.

Depois da rebelião do bauru o governador João Doria começou a admitir a reabertura dos restaurantes.

Elio Gaspari

Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".