quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O petróleo perde preço - CELSO MING


O ESTADÃO - 13/08

A baixa está sendo favorecida tanto por fatores ligados à demanda quanto à oferta


Há algo de diferente no mercado internacional do petróleo. Até recentemente, em momentos de grande tensão internacional, as cotações tendiam a disparar, no pressuposto de que o suprimento ficaria mais difícil. No entanto, apesar do recrudescimento da crise na Ucrânia, por onde passam gasodutos vitais para a Europa, e do aumento da beligerância no Oriente Médio, principalmente, no Iraque e no Irã, os preços estão em queda.

Desde junho, as cotações do West Texas Intermediate (WTI), o petróleo mais leve, dos Estados Unidos, e do tipo Brent, negociado em Londres, caíram, respectivamente, 7% e 7,6%.

Ontem foi divulgado o relatório de julho da Agência Internacional de Energia, com sede em Paris, que faz o levantamento das principais variáveis do mercado global do ponto de vista dos grandes consumidores mundiais. E lá ficou dito que a tendência a curto e a médio prazos é de baixa de preços, em consequência da maior oferta do que da demanda do produto.

Essa pode ser uma boa oportunidade para que o governo Dilma promova o realinhamento dos preços nacionais aos internacionais dos combustíveis. Estivesse o mercado em alta lá fora, seria maior a brecha entre preços a ser coberta e o impacto inflacionário, mais alto.

A baixa está sendo favorecida tanto por fatores ligados à demanda quanto à oferta. Do lado da demanda, o baixo desempenho da economia europeia e a desaceleração da economia chinesa explicam uma redução do consumo de cerca de 90 mil barris diários (o barril tem 159 litros) em relação aos 180 mil barris diários anteriormente projetados.

Do lado da oferta, o que se vê é maior aumento da produção em 2015 pela Arábia Saudita, pelos Estados Unidos e pelo Brasil. Até 2020, os Estados Unidos deverão chegar à autossuficiência, graças ao crescimento da produção de gás e petróleo a partir do fraturamento de xisto e, com maior contribuição do pré-sal, o Brasil poderá ultrapassar os 4 milhões de barris diários (hoje produz cerca de 2,1 milhões) e se tornará exportador.

O realinhamento dos preços internos do Brasil aos externos se impõe por três razões: primeira, porque eliminaria o subsídio pago pela Petrobrás, especialmente, na gasolina e no diesel, fator que está sangrando seu caixa. Segunda, porque eliminaria distorções, como a desidratação do setor do etanol, que enfrenta a concorrência desleal da gasolina subsidiada. E, terceira, porque, sem o realinhamento, a Petrobrás não conseguirá atrair sócios para as novas refinarias.

A tendência à moderação das cotações internacionais do petróleo não é a única variável a levar em conta se o governo atender a essa necessidade de corrigir os preços. Outra variável é o comportamento do câmbio, cujas cotações são hoje artificialmente achatadas pelas intervenções diárias do Banco Central.
Mas não bastaria corrigir os preços. É preciso definir uma regra de conversão para dar previsibilidade. Na atual política, os preços internos são determinados subjetivamente pelo governo, cujo critério é apenas ajudar a combater a inflação, não importando as enormes distorções criadas por esse jogo.

CONFIRA:

“Só louco investe no Brasil”

O presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que agora responde, também, pela presidência da Fiesp, Benjamin Steinbruch, avisou nesta terça-feira que a economia brasileira “tem muita margem para piorar”. Ele reclamou do “grande distanciamento do governo em relação à indústria”. E arrematou: “Só louco investe no Brasil”. A presidente Dilma deve achar que Steinbruch entrou no cordão de pessimistas. E, no entanto, só está dizendo o que os industriais sentem.

Crise da água requer soluções técnicas - EDITORIAL O GLOBO


O GLOBO - 14/08


O caminho para enfrentar o risco de desabastecimento é buscar saídas apropriadas, negociadas pelas instâncias envolvidas e respeitadas as regras da Federação



A iminência de São Paulo sofrer um colapso no abastecimento de água é um problema grave. Não se pode fechar os olhos para esse risco: são críticos os níveis dos reservatórios, e seria impensável o governo do estado se abster de buscar soluções para esta crise, numa questão vital para a população e a atividade econômica.

Mas as causas do risco de desabastecimento são naturais, decorrentes de uma seca atípica na Região Sudeste, e não políticas. Logo, as soluções precisam ser técnicas, imparciais. E não com qualquer viés político, por óbvio.

Longe de resolver o problema, a decisão do governador Geraldo Alckmin, de reduzir — por meio da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) — a vazão da hidrelétrica do Rio Jaguari, afluente do Paraíba do Sul, tiram-na do terreno das necessárias discussões amparadas em avaliações dos órgãos competentes e a transferem para um perigoso ringue no qual sobressaem interesses conjunturais, como o das eleições. Por não dar uma resposta sensata, profissional, ao problema, a medida causa efeitos negativos numa vasta região que depende desse sistema hidrográfico.

Os alertas da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgãos apropriados para tratar da questão de forma isenta, dão a medida da gravidade da situação. As agências advertem que a iniciativa do governo paulista embute o risco de um colapso no abastecimento das cidades ao longo do Paraíba do Sul nos estados do Rio e São Paulo, onde se concentra o maior parque industrial brasileiro e que, juntos, respondem por quase metade do PIB do país.

Não é questão, portanto, para se tentar resolver com uma penada. Além de condenável em si, pelas repercussões imediatas e não ponderadas no dia a dia de parte considerável da população dos dois estados, a iniciativa unilateral do governo de São Paulo abre um precedente perigoso, por desconsiderar o fórum adequado para discutir a crise.

Fica o temor de que outras operadoras, diante de alguma demanda semelhante, fujam às normas de operação do sistema quanto ao aumento ou redução da geração de energia, ou do abastecimento de água. Além disso, configura-se uma negação ao diálogo. Desde março, o governo federal e a ANA fazem a mediação de um grupo, formado por Rio, São Paulo e Minas, que busca soluções técnicas sobre o Paraíba do Sul. A instância, portanto, já existe. Não há por que desautorizá-la.

O caminho é esse — buscar soluções apropriadas, negociadas pelas instâncias envolvidas e respeitadas as regras da Federação. Por fim, é crucial que quaisquer debates sobre a questão passe ao largo da política partidária e a salvo da campanha eleitoral. A água é um bem vital, está acima de divergências ideológicas, e partidarizá-la seria condenável sob todos os aspectos.

Campos, questões, discussões - ANA ESTELA DE SOUSA PINTO


FOLHA DE SP - 14/08


SÃO PAULO - 1) O PIB pernambucano cresceu 4% no primeiro trimestre de 2014, em relação ao último trimestre 2013. No Brasil, só 0,2%.

O número é bom. Mas o que pode ajudar na discussão é que ele foi tracionado pelo investimento, não pelo consumo. O Estado multiplicou por cinco o que investiu de 2007 a 2013, para R$ 3,8 bilhões. Recebeu mais de R$ 20 bilhões do governo federal. E atraiu capital privado, como a Fiat.

2) A indústria em Pernambuco se expandiu 2,8% nos 12 meses acumulados até maio (no país, só 0,2%).

A principal atividade fabril do Estado --a alimentícia-- foi ainda melhor: mais de 10% de março a maio.

O número é bom. Mas o que fica para a discussão é se, em vez de proteger indústrias a esmo, não faz mais sentido priorizar as que atuam onde o Brasil tem vantagens competitivas. Como, por exemplo, a de alimentos.

3) Até o último momento (na entrevista à GloboNews, na noite desta terça), Campos defendeu "mais gestão, mais meritocracia". Na sua passagem pelo governo de Pernambuco, mudou processos sob orientação de especialistas do setor privado. Há quem atribua a isso uma queda nos homicídios no Estado (de até 39%).

Seria certamente um bom número, mas o que vale para a discussão é a filosofia. Precisa-se, desesperadamente, de uma gestão melhor. Em tudo.

4) Para se financiar, a gestão de Campos tomou emprestado de instituições de fomento nacionais e estrangeiras cerca de R$ 8 bilhões. Não é pelo número; o que se deve discutir é o instrumento. Muita gente ainda crê que se endividar, em si, é ruim --preconceito nocivo contra um dos principais combustíveis econômicos.

5) "Seja bem-vindo, querido Miguel. Como disse seu irmão, você chegou na família certa! Agora, todos nós vamos crescer com muito amor, sempre ao seu lado." Foi o que disse Eduardo Campos a seu quinto filho, que nasceu com a síndrome de Down, no começo deste ano. Nada a ver com números. Mas poucas discussões são tão relevantes.