domingo, 15 de julho de 2012

Sombras do mundo que se vai


Ivan Marsiglia, de O Estado de S. Paulo-  Aliás
O indiano-americano Parag Khanna é um intelectual peculiar, que alia a sólida bagagem acadêmica à mochila de viagem com que visita sociedades e culturas sobre as quais escreve. Nas "pesquisas de campo" que fez por mais de cem países, Khanna - que tem apenas 35 anos - pratica, além de seu hindi nativo, o inglês, francês, alemão e espanhol que fala com fluência, além de "um árabe básico". E coteja os conhecimentos adquiridos em seu doutorado na London School of Economics e em seu mestrado na School of Foreign Service da Universidade Georgetown com as informações sutis de um futuro ainda em gestação no mundo.
Não é difícil entender por que esse "acadêmico aventureiro", como já foi chamado pela imprensa norte-americana, define a si próprio como um geoestrategista. Pesquisador sênior e diretor da Iniciativa de Governança Global da New America Foundation e membro do European Council on Foreign Relations, Khanna foi recrutado como conselheiro pelas Forças Armadas dos EUA na tentativa de desatar o nó das campanhas militares no Iraque e no Afeganistão. E integrou, como consultor para assuntos de política externa, a equipe da campanha vitoriosa de Obama à presidência.
Com dois livros publicados no Brasil pela editora Intrínseca, O Segundo Mundo - Impérios e Influência na Nova Ordem Global (2008) e Como Governar o Mundo - Os Caminhos para o Novo Renascimento (2011), ele acaba de lançar nos EUA, em parceria com sua mulher Ayesha (economista e doutora em Sistemas de Informação pela London School), Hybrid Reality. A trilogia consolida sua visão de um mundo dominado por três grandes impérios, os EUA, a União Europeia (UE) e a China, mas cujos parâmetros de desenvolvimento foram modificados pela velocidade das trocas tecnológicas em uma era de conectividade global.
Na entrevista a seguir, o pensador, eleito uma das 75 "pessoas mais influentes do século 21" pela revista Esquire, vê o mundo convulsionado pela mais violenta crise econômica desde o pós-guerra com lentes voltadas para o que vem depois. "Esta não é uma crise global", sentencia sem medo Parag Khanna, para quem, apesar dos efeitos no até então intocado motor dos Brics, a China revela em sua resiliência que os chamados mercados emergentes vieram para ficar. E que a transformação em curso, na direção de uma "Era Híbrida" de seres humanos cada vez mais conectados entre si e com as máquinas, vai subverter consideravelmente a hierarquia de poder global.
"A tecnologia dirige a economia, não o contrário", provoca o acadêmico aventureiro, que vê no novo cenário não só um potencial de recuperação dos países ricos, como um universo de novas possibilidades para os países em desenvolvimento, entre eles o Brasil. Eis a nota otimista do diagnóstico que Khanna faz da crise a que assistimos hoje, contra a qual pouco adiantam os velhos mecanismos de fomento econômico e de nada vale a emulação nostálgica do antigo sonho americano: "A imensa inovação em curso nas tecnologias da informação, na biotecnologia, nanotecnologia, robótica, nas fontes de energia alternativas, está criando possibilidades econômicas para muito mais gente no mundo que em qualquer outra época".
O PIB chinês desacelerou, a Itália segue a Espanha no pedido de ajuda à UE e a economia americana continua na lona. O que esperar do mundo neste início de século 21?
Conforme escrevi em O Segundo Mundo há alguns anos, o mundo no século 21 será sustentado por três grandes impérios - os EUA, a União Europeia e a China. Isso não significa, no entanto, que cada um desses três não seja frágil. A retomada americana é muito dependente de estímulos econômicos e do potencial de descobertas de reservas de gás de xisto baratas. A UE nem se recuperando está, embora a crise econômica esteja forçando o bloco a tomar medidas necessárias e progressivas na direção de uma união mais forte. Já a China é considerada um pesadelo estatístico, com dados econômicos nos quais não se pode confiar, mas não acredito que vá ocorrer uma "aterrissagem forçada". A desaceleração do crescimento em função do comércio externo do país será compensada pelo crescente número de chineses que entram no mercado de consumo e na classe média. Mantendo a inflação controlada e a moeda fraca, a China será capaz de manter seu crescente progresso material enquanto retoma a competitividade no comércio exterior. Continuo acreditando que os três serão as superpotências mundiais no século 21, e não ainda a Índia, por exemplo.
Quando o economista Jim O’Neill cunhou, em 2001, a expressão Brics, anunciando a transferência do poder econômico global do G7 para os países emergentes, não podia adivinhar o impacto que teria a crise financeira de 2008, seguida por essa que se abateu sobre a zona do euro. O tranco pode inviabilizar os países emergentes?
O termo Brics surgiu de uma expressão crucial: mercados emergentes. A categoria "mercados emergentes" é bem mais ampla e compreende muito do que eu chamo de "segundo mundo". Por ser tão aberta e conter trajetórias tão diferentes, é difícil resumi-la em uma frase. Mas a ideia sugeria desde o princípio que certos países tenderiam a emergir, como o Brasil e a Malásia, enquanto outros iriam fatalmente cambalear, como a Venezuela e a Líbia. E o fato é que, neste exato momento, os mercados emergentes têm feito um bom trabalho para amenizar os efeitos da crise financeira de 2008 e da crise na zona do euro. Eles continuam a crescer, embora mais modestamente. Existe neles um certo grau de descolamento, que vejo como um forte sinal da emergência desses mercados e de um outro padrão de investimentos.
No Brasil, a desaceleração da previsão do PIB para este ano causa grande preocupação. Ainda mais levando em conta os problemas da China, tida como 'motor' dos Brics...
De novo, essa não é uma crise global, embora todos os países tenham fatores de risco com que se preocupar. O fato de a economia chinesa estar desacelerando não deveria espantar ninguém, tendo em vista as taxas de crescimento que o país apresentou nas últimas três décadas. E o fato de a China ainda exibir taxas bastante distintas das americanas e europeias mostra quanto o país foi capaz de estreitar laços com outras regiões, como a África, o Oriente Médio e a América Latina, e manter em bom nível suas exportações.
A crítica às políticas de austeridade para combater a crise têm crescido na Europa, especialmente após a vitória de François Hollande na França. Em uma região onde 4,5 milhões de pessoas deverão perder seus empregos nos próximos quatro anos, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), austeridade é a solução?
Austeridade e disciplina são coisas diferentes. Eu acredito na disciplina, mas não em austeridade em contexto de desemprego tão alto. Mas essa disciplina de que estou falando requer visão estratégica para os próximos anos, o que os países periféricos da zona do euro ainda não demonstraram.
Apesar disso, a leitura de Hybrid Reality transparece otimismo. O que o sr. e sua mulher, que também assina o livro, estão vendo que ninguém mais parece estar?
Estamos olhando não para questões de crescimento econômico no curto prazo, mas para as trocas e rupturas tecnológicas de médio e longo prazo. A tecnologia dirige a economia, não o contrário. A imensa inovação que está em curso nas tecnologias da informação, na biotecnologia, nanotecnologia, robótica, nas fontes de energia alternativas e em outras áreas - e na combinação de todos esses campos - está criando novas possibilidades econômicas para muito mais gente no mundo do que em qualquer outra época. Ao contrário do que se pensa, a tecnologia tem criado de longe muito mais empregos do que destruído.
Por que o sr. diz que a civilização humana necessita hoje menos de QI (quociente de inteligência) e QE (quociente emocional) do que de QT, quociente tecnológico?
Porque a tecnologia está evoluindo e se espraiando rapidamente no mundo. O que distingue as sociedades hoje não é tanto a renda ou o sistema político, mas o grau de acesso e domínio da tecnologia. As sociedades que estiverem à frente da curva tecnológica e educarem suas populações a permanecerem empregadas em um ambiente globalmente competitivo vão permanecer estáveis e prósperas. O que requer quociente tecnológico, a capacidade de se adaptar à mudança tecnológica, não apenas a uma rotina conhecida.
Mas em um mundo economicamente tão desigual é possível acreditar nisso? Ou o que o sr. chama de 'Era Híbrida' chegará apenas para uns poucos e privilegiados países?
A Era Híbrida está chegando para todos. Aqui está o mais simples e profundo exemplo: os trabalhadores chineses, que formaram o "chão de fábrica" global, estão agora ameaçados pela automação robótica. A FoxConn (companhia chinesa responsável pela montagem de produtos de alta tecnologia, como iPhones e iPads) planeja introduzir mais de 1 milhão de robôs em suas fábricas. E também este fato: o celular é a infraestrutura mais penetrante e disseminada da história da humanidade. Em dez anos, todas as pessoas na Terra terão um aparelho celular. Em cima dessa rede, poderão ser desenvolvidas outras tecnologias, como contas bancárias via celular e telemedicina. Esses são fenômenos do que chamamos de Era Híbrida - algo que atinge tanto os mais ricos do mundo, que terão acesso a órgãos artificiais e todo o tipo de privilégios futuristas, quanto os mais pobres.
Mas para os pobres não seria apenas um modo mais sofisticado de consumir produtos produzidos em nações ricas? É difícil imaginar o cidadão de um rincão longínquo da África ou da América Latina tomando parte ativa nessa nova economia tecnológica globalizada de que o sr. fala.
Na verdade, as vendas de produtos que mais crescem na África hoje são de bens de baixo custo oriundos da China e da Índia. Então, você pode perceber como são importantes hoje os fluxos entre países em desenvolvimento - mais do que de países "ricos" para "pobres". Além disso, muita inovação tem surgido nos emergentes, como os celulares movidos a energia solar, por exemplo. Sem falar no fato de que tecnologias como o tablet estão difundindo rapidamente a literatura em países como Ruanda e Camboja. Então, a Era Híbrida também tem o potencial de reverter as dinâmicas hierárquicas de dominância econômica ocidental.
O sr. foi consultor da campanha presidencial de Barack Obama. Como avalia o desempenho dele até agora?
Esses quatro anos, evidentemente, foram uma decepção. Foi um mandato que passou rapidamente, deixando um pequeno progresso na saúde financeira do país e pouco - ou nenhum, eu diria - sucesso na política externa. Claro que as condições em que ele assumiu foram terríveis, quase as piores imagináveis.
Acha que Obama será reeleito?
Espero que seja, mas que sua performance dessa vez seja melhor, e seu governo, capaz de formular políticas de longo prazo mais criativas e eficazes. A administração Obama ainda carece de uma grande estratégia, o que é especialmente problemático em relação à política externa.
Em um livro recentemente lançado no Brasil, Éramos Nós - A Crise Americana e como Resolvê-la, o jornalista Thomas Friedman e o professor Michael Mandelbaum lamentam o fim do 'sonho americano' mas acreditam que o sistema político do país será capaz de retomar seu peso histórico. O sr. concorda?
Eu já refutava esse argumento no Segundo Mundo. Não podemos simplesmente esperar por uma renovação geracional baseada nas conquistas do pós-guerra na metade do século 20. Ela não vai ocorrer. O que precisamos é de um consenso político e de políticas de investimento doméstico sensatas. Isso não está acontecendo. Eu prefiro uma mudança substantiva ao apego a esse tipo de nostalgia.
E até que ponto potências tradicionais e emergentes, como os EUA, a Índia e a China, por exemplo, estão preparadas para essa nova era de conectividade e inovação compartilhada que o sr. antevê?
Não há uma resposta comum na preparação de nações tão diversas. Ayesha e eu chamamos essa capacidade de se adaptar às novas tecnologias de "technik". Os EUA são grandes inovadores e criadores de tecnologias, mas estão ficando para trás na difusão de penetração de internet de banda larga no país e também na educação científica dos jovens. A Índia, embora muito pobre, tem leis sofisticadas no que diz respeito ao "direito à informação" que demonstram uma impressionante technik.
E o Brasil? O que deve fazer para garantir uma boa inserção nessa nova era?
O Brasil está diversificando sua economia e investindo em energias alternativas, biotecnologia e outras áreas. Avanços já são visíveis na agricultura, em alguns setores manufatureiros, na área da construção civil e no turismo. Tudo isso é importante para impulsionar o emprego e aperfeiçoar a infraestrutura do país. Sem uma boa infraestrutura é bem mais difícil absorver as novas tecnologias sistematicamente, como será necessário. Essa é uma estratégia inteligente na escalada aos setores-chave de liderança no futuro. Sem exagero, vejo o Brasil em condições de igualdade de poder com os EUA na Era Híbrida.

Simples e velha honestidade


JOSÉ DE SOUZA MARTINS* Aliás -15jul 2012
Quando a honestidade surpreende e dela se desconfia é porque alguma coisa essencial está mudando na sociedade. É o que incita à compreensão sociológica dessa reação, suas ocultações e seus significados no recente caso da devolução, ao dono de um restaurante, dos R$ 20 mil que lhe foram roubados. O dinheiro fora achado por um casal de moradores de rua de São Paulo, o maranhense Rejaniel e a paranaense Sandra.
Já há um debate em relação ao suposto sentido do gesto dos dois moradores dos baixos de um viaduto do Tatuapé. Uns veem nele vontade de aparecer. Outros consideram trouxa o casal, pois "o achado não é roubado". Não poucos no gesto reconhecem a simples e velha honestidade, um valor de referência. Aliás, é por meio dela que a sociedade se reproduz e se preserva, regula e organiza a vida de todos, dos bem-intencionados e dos mal-intencionados, dos íntegros e também daqueles para os quais a honestidade já não é senão uma anomalia.
Vontade de aparecer é pouco provável, pois essa vontade é circunscrita a determinadas categorias sociais e depende de socialização específica. É própria da classe média, cuja cultura valoriza o parecer muito mais do que o propriamente ser. Quem procura parecer o que não é e mais do que é quase sempre se denuncia nos gestos impróprios e na inabilidade para manipular apropriadamente o código gestual que corresponde à aparência que pretende ostentar. Pessoas pobres sabem disso, mesmo quando imitam aquilo que não são. Os ricos também o sabem porque com facilidade identificam quem não pertence à categoria social dos que podem ostentar. As pessoas se traem nos desajustes da conduta.
Parecer traz identidade visual e o prestígio superficial da aparência, o que é característico da sociedade de consumo. Os dois moradores de rua, que são catadores de lixo reciclável, estão muito longe das fantasias consumistas da maioria e suas possibilidades de ostentação. São culturalmente incapazes de manipular os significados da aparência porque não têm como dela beneficiar-se.
Quanto a ser trouxas porque deixaram de apoderar-se do que não era seu, e do que claramente careciam, é algo improvável. Alguém que se apodere de uma quantia de dinheiro muito superior à sua capacidade de utilizá-la, mesmo dinheiro achado na rua ou no lixo, dificilmente poderá utilizar esse dinheiro na escala de suas carências acumuladas sem ser denunciado. A teia de regras e cautelas do mundo do consumo é vigilante e repressiva para que um pobre não se meta a ser o que não é. Não é improvável que o casal tenha levado isso em conta.
Mesmo que fosse a um restaurante para uma lauta refeição e matar a fome de uma vida, correria o risco de não ser servido e de despertar suspeitas. E, se pretensioso, mas prudente, pedisse uma garrafa de modesto vinho da terra, maior seria a suspeita. Pobre que é pobre toma água ou suco, dizem os vigilantes da conduta alheia. O que bem indica o que são as suspeitas que regulam as relações sociais. Todos somos devidamente observados todo o tempo por todos. O político que foi visto com amigos num restaurante com dois Romanée Conti, um vinho de US$ 6 mil a garrafa, já despertou suspeitas. Imagine-se o morador de rua servindo-se de modestíssimo vinho local. Para entrar no restaurante, teria antes que comprar os trajes apropriados à transitória escala de ascensão social que R$ 20 mil permitem. Em condições assim, dinheiro achado é inútil.
O gesto do casal repercutiu no Brasil e foi, no geral, bem-vindo como indício de que nem tudo está perdido, no mesmo momento em que na própria estrutura de poder a anomalia da corrupção compromete o sentido democrático da vida política. O gesto, aliás, não é novo nem raro. São frequentes casos semelhantes de dinheiro alheio achado e devolvido ao dono desconhecido de quem o acha, geralmente por meio da polícia.
O homem que achou o dinheiro declarou que gostaria que sua mãe o visse agora, pois ela se orgulharia dele. Eis a questão. Lançado para a margem da sociedade, reteve, como um bem pessoal e imaterial que é, o antimoderno sentido da honra. Por incrível que pareça, a maioria das pessoas é honrada e faz parte dessa imensa massa invisível dos não notados. Um trabalhador dedicado ao seu trabalho, ou um professor devotado ao ensino e à formação de seus alunos, terá pouquíssima chance de ser aplaudido, mesmo por quem de seu trabalho se beneficia. No entanto, eles têm o que lhes basta como nutrição moral: o sentido da honra e a honestidade. Já não se fala disso, mas os sociólogos sabem que uma das carências humanas destes tempos de liquefação dos valores é a da honradez e da honestidade, o alimento que sacia os que não foram vencidos, os que se mantiveram antiquadamente honestos.
*JOSÉ DE SOUZA MARTINS É SOCIÓLOGO, PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE FILOSOFIA DA USP E AUTOR, ENTRE OUTROS, DE A SOCIABILIDADE DO HOMEM SIMPLES (CONTEXTO)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Inovar para competir, por Arnaldo Jardim




O Brasil enfrenta o risco da desindustrialização e não há como tapar o sol com a peneira! Diminuição relativa da participação da indústria no PIB, desarticulação de vários setores produtores, deterioração da qualidade de nossa pauta de exportações e a perda de competitividade internacional são evidentes. Afora medidas macroeconômicas – juros e câmbio –, há necessidade de ampliar os investimentos (concessões e PPP’s), dar eficácia a ação do Poder Público e concentradamente aumentar a competitividade da indústria nacional.
competitividade industrial, que deverá ser buscada centralmente em setores nos quais temos vantagens comparativas (agroindústria, pré-sal, energias renováveis e assim por diante), se ampara e se viabiliza na capacidade de inovação.
Nas entrelinhas do anúncio da revisão de metas do Plano Estratégico da Petrobras, que reduz a previsão de produção de petróleo de 4,91 milhões para 4,2 milhões de barris até 2020, está embutida a dificuldade de a empresa contratar equipamentos com conteúdo nacional para aumentar a exploração e agregar mão de obra qualificada em quantidade suficiente para seus projetos.
Guardada a devida proporção é o mesmo dilema enfrentado pela indústria nacional que vem perdendo competividade não só pela crise, mas também pela ausência de uma política mais agressiva de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento).
Dados do Banco Central apontam que a maior entrada de importados é no setor de bens duráveis, produtos com maior índice de tecnologia, enquanto nossas exportações são de  baixo valor agregado, em especial as commodities. Entre 2008 e 2011, o aumento da importação de bens de consumo foi de 167%.
Este aumento ocorre, principalmente, porque o Brasil só investe 1,19% do PIB em inovação tecnológica, embora já tenha um arcabouço de leis (Lei da Inovação Tecnológica, Lei do Bem) e de mecanismos (cláusula de P&D prevista no contrato de concessões da ANP e recursos da ordem de R$ 400 milhões/ano da ANEEL etc.) para impulsionar a pesquisa científica e tecnologia.
O governo deveria estimular políticas de inovação, por exemplo, exigindo dos setores beneficiados pelos sucessivos pacotes de incentivo fiscal que invistam em desenvolvimento tecnológico.
Recentemente caímos nove posições no ranking dos países inovadores, segundo dados divulgados pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual e Instituto Ensead.
Hoje ocupamos a 52ª colocação e entre os Brics ficamos na lanterna. Na América do Sul quem lidera é o Chile na 39ª posição.
As causas apontadas por especialistas para o fraco desempenho brasileiro em inovação são bem conhecidas. Além do baixo investimento em pesquisa, baixa qualidade do ensino, principalmente no superior tecnológico, temos excessiva burocracia. Na contramão, o governo fez cortes em ciência e tecnologia (R$ 1,48 bilhão) e educação (R$ 1,93 bilhão) este ano.
O programa Ciência sem Fronteiras, anunciado em abril pela presidente Dilma Rousseff, é meritório mas ainda engatinha e seus resultados só serão observados na próxima década.
A educação, a pesquisa e a inovação precisam caminhar juntas, especialmente no ensino tecnológico que apresenta um modelo superado de aprendizagem. Em recente entrevista a revista Veja, o ex-presidente da Apple, John Sculley, disse que se o Brasil quiser se tornar um polo tecnológico será preciso reduzir a burocracia, um dos maiores obstáculos à inovação, segundo ele.
Por isso a integração entre governo, setor produtivo e universidades é fundamental para avançarmos neste setor, que poderá acrescentar um diferencial ao Brasil em termos de vantagem competitiva.
A atividade inovadora tem de ser mais apoiada pelos setores privado e público. É fundamental que se estimulem as articulações entre grupos de pesquisa proeminentes que se destacam nas universidades e empresas. Muitas vezes esses grupos carecem de recursos para transformar os resultados obtidos na bancada em produtos inovadores. Para que um resultado promissor venha a se transformar em produto com valor para a sociedade, é indispensável que as indústrias do setor “adotem” projetos piloto com alguma chance de sucesso.
O governo pode fortalecer os vínculos entre empresas e universidades inspirando-se nos bons resultados obtidos na parceria entre o Cenpes (Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello) da Petrobrás e a UFRJ, ou mesmo entre as indústrias brasileiras de sementes e a Embrapa.
Conclamo, assim, todos para consolidarmos uma política duradoura neste setor vital para o futuro do nosso País!
 
Deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP)
E-mail: arnaldojardim@arnaldojardim.com.br
Site oficial: www.arnaldojardim.com.br