quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

O que significa a retomada de financiamento para as empresas da Lava Jato, NExo

Duas empresas envolvidas nas investigações da Lava Jato deram na segunda-feira (9) um passo para ultrapassar os efeitos deixados pelo esquema de corrupção. A Petrobras, cujos contratos eram superfaturados pelo esquema de corrupção descoberto pela Operação Lava Jato, já capta com sucesso recursos no exterior. A Andrade Gutierrez, uma das empreiteiras que integravam o cartel que atuava junto à estatal, obteve um grande financiamento no mercado interno.
A Andrade Gutierrez emitiu R$ 1,6 bilhão em debêntures - títulos de dívida emitidos no mercado doméstico - e com o dinheiro arrecadado vai ganhar uma folga de caixa. O maior comprador foi o banco Bradesco, que organizou a venda dos títulos. Segundo o jornal “Valor Econômico”, é a primeira grande operação desde que as investigações chegaram às empreiteiras, ainda em 2014.
A ação da Petrobras foi ainda mais bem sucedida. A estatal planejava captar US$ 2 bilhões, mas acabou com US$ 4 bilhões. E havia demanda para mais. Segundo informações do jornal “Folha de S. Paulo”, investidores teriam apetite para comprar até US$  20 bilhões em títulos da petroleira. No caso da estatal, a captação não é inédita, mas a empresa conseguiu juros mais baixos do que em tentativas anteriores.

O efeito Lava Jato

Petrobras e Andrade Gutierrez estavam de lados opostos no esquema de corrupção investigado pela Lava Jato, mas ambas foram afetadas pelas incertezas do processo. A estatal sofreu seguidos prejuízos causados pela corrupção, mas também pela queda no preço do petróleo, viu sua dívida aumentar e perdeu o grau de investimento. As empreiteiras que faziam parte do cartel também acumularam perdas com a paralisação de investimentos e contratações do governo.
Nos dois casos, a falta de confiança do mercado e a queda nas receitas geraram problemas de liquidez. Sem dinheiro em caixa, as empresas passaram por sérias dificuldades. A saída encontrada para resolver o problema foi a venda de patrimônio e a desistência de projetos, política adotada pela administração de Pedro Parente, que assumiu indicado por Michel Temer.
As recentes captações de recursos mostram que há uma gradual retomada da confiança dos investidores. Quem aplica o dinheiro só está disposto a emprestar a companhias quando avaliam que elas serão capazes de se recuperar e conseguir pagar o financiamento. Quanto mais arriscado o negócio, mais altos são os juros exigidos.

Retomada das atividades

Petrobras e empreiteiras passam por processos diferentes de recuperação depois da descoberta do esquema de corrupção. A estatal, lesada pelo cartel, tenta se recuperar financeiramente e provar que é viável economicamente. Para isso, lançou um plano de investimentos que prevê a diminuição do tamanho da companhia, com venda de patrimônio para diminuir a dívida. Como parte da política, foi aprovado também no Congresso Nacional o fim da prioridade da empresa no pré-sal.
Do outro lado, as empreiteiras, condenadas por danos aos cofres públicos, também tentam se manter saudáveis. A Andrade Gutierrez, por exemplo, fechou um acordo de leniência com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Isso significa que a empresa admite a prática de crimes e aceita pagar uma multa - R$ 1 bilhão, no caso da Andrade Gutierrez. Em troca, não perde o direito de ter contratos com o poder público. Quando a construtora acerta as contas com as autoridades brasileiras, ela se torna mais confiável para investidores.
Outras empresas fecharam acordos semelhantes. A Odebrecht pediu desculpas públicas pelos desvios e anunciou a instalação de procedimentos de governança corporativa que dificultem novos delitos. A Braskem, empresa do setor petroquímico que pertence à Petrobras e à Odebrecht, também fez acordo e, segundo o jornal “O Globo”, deve tentar captar recursos no exterior em breve.
Os recursos são fundamentais para que as empresas quitem dívidas contratadas a juros maiores, tenham dinheiro para manter a operação e iniciem novos projetos.

Bom momento para financiamento

Às vésperas da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, marcada para o dia 20 de janeiro, as empresas brasileiras aproveitam uma janela de oportunidade para conseguirem financiamento no exterior. Isso porque a expectativa é de que os juros aumentem ao longo de 2017.
Se a expectativa pelo aumento da taxa nos Estados Unidos se confirmar, as empresas brasileiras precisarão pagar juros maiores ao investidor, correspondendo ao que passarão a pagar os títulos americanos acrescido do risco Brasil e de seu risco individual de crédito.

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