O arquiteto e urbanista paulistano Carlos Bratke, conhecido por transformar uma região pantanosa da zona sul de São Paulo na empresarial Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, no Brooklin, morreu no início da tarde desta segunda (9), aos 73 anos. Ele trabalhou normalmente na parte da manhã, foi almoçar em sua casa e, em seguida, não resistiu a um mal súbito.
Com quase 50 anos de carreira, Bratke acumulava cerca de 300 obras no currículo. Em 2009, um de seus trabalhos, o Edifício Oswaldo Bratke - o nome homenageia seu pai, arquiteto que viveu entre 1907 e 1997 -, foi selecionado pelo Conselho Curador do museu francês Georges Pompidou para compor seu acervo permanente.
Em suas obras, espaço não necessariamente precisava ser construído. A fascinação pelos vazios vinha de sua predileção pela modernista Lina Bo Bardi (1914-1992), conforme ele disse ao Estado em 2009.
Bratke graduou-se em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie aos 25 anos. Ao longo da carreira, dividiu-se entre criações de projetos, atividades docentes - lecionou no Mackenzie e na Belas Artes - e publicações. São de sua lavra cerca de 60 edifícios da Berrini, a Igreja São Pedro e São Paulo - nas bordas do Parque Alfredo Volpi - e o Parque do Povo. Também assinou projetos de várias escolas públicas e particulares, centros culturais, indústrias, shopping centers, hotéis e residências. Sua consistente carreira rendeu convites para projetar no Uruguai, Israel, México e Estados Unidos. "Durante a construção, ficou minha placa lá na Quinta Avenida de Nova York", contou o arquiteto ao Estado, com indisfarçável orgulho, quando se recordava da sede de uma joalheria de luxo que concebeu, em 1999.
Repercussões. "Muito entristece a impossibilidade abrupta de convívio com colegas como o Carlos Bratke - sempre atentos às questões mais importantes da profissão, sempre disponíveis quando chamados a contribuir para o desenvolvimento da Arquitetura e do Urbanismo com seus conhecimentos técnicos, sua cultura vasta, sua inteligência sem pretensão", destacou o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-BR), Haroldo Pinheiro. "Perdi um amigo, a Arquitetura perdeu um de seus grandes nomes, os arquitetos perderam um de seus grandes defensores", resumiu Gilberto Bellezza, presidente da seção paulista do CAU.
"Suas obras eram muito coerentes. Ele sabia otimizar os espaços como um verdadeiro urbanista", disse Benedito Lima de Toledo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).
"Ele apontou um caminho que seria uma saída pós-moderna para a Arquitetura do Brasil. Deu uma certa renovada na linguagem moderna aqui em São Paulo. Foi, talvez, um dos poucos que conseguiu incorporar uma linguagem atual sem deixar para trás a herança modernista", avaliou o arquiteto e urbanista Henrique de Carvalho, do Ateliê Tanta.
O funeral ocorre a partir das 11h desta terça (10), no Funeral Home (R. São Carlos do Pinhal, 376, Bela Vista). O enterro está marcado para as 16h, no Cemitério Redentor (Av. Dr. Arnaldo, 1105, Sumaré).
Berrini. Várzea do Rio Pinheiros, a área ficou conhecida como dreno do Brooklin. Em 1975, três arquitetos - Carlos Bratke, Roberto Bratke e Francisco Collet - se instalaram no local e começaram a bolar projetos para a avenida, incluindo a drenagem do terreno. Era um bairro desvalorizado. Com as melhorias, começou ali uma urbanização acentuada, principalmente no início da década de 1980. A partir dos anos 1990, a região da Berrini se consolidou como um dos mais importantes polos comerciais paulistanos. Quarenta e dois depois, o escritório do arquiteto Carlos Bratke continua ocupando um endereço da avenida que não parou de progredir economicamente. Ele via o sucesso da janela.
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