Possivelmente, a maioria dos leitores já assistiu a uma situação como esta: num dia quente, o céu azul, uma piscina mais atraente do que nunca, um garoto corre, atira a toalha na cadeira de sol e pula na água. Seu colega, por sua vez, decide colocar o pé na água antes de pular e, de repente, a ideia de mergulhar o corpo quente na água fria já não lhe parece a melhor do mundo. A percepção de desconforto iminente o faz desistir de se divertir com os amigos, sem considerar que esse possível desconforto inicial seria totalmente compensado por uma sensação de conquista e bem-estar.
Muitas empresas têm tido a mesma atitude ao avaliar a entrada em novos mercados, como o brasileiro. Inicialmente animados com as perspectivas de um mercado com potencial ímpar, alguns investidores preferem, em vez de mergulhar na oportunidade, molhar os pés antes, para então concluir, precipitadamente, que a hora não é boa para a experiência.
Não estamos falando de um mergulho em águas desconhecidas. Há informação suficiente sobre profundidade, temperatura, qualidade da água e outras condições. O problema real está na falta de confiança em sua capacidade de executar um plano de entrada bem-sucedido.
É verdade que nem todos os negócios irão florescer ricamente. Há, na prática, alguns alertas. Antes, porém, vale ressaltar alguns fatos que podem reequilibrar cautela e desejo de desfrutar de uma piscina ensolarada – no caso, o Brasil.
Enquanto a água parece um pouco fria, o mesmo não se pode dizer do clima.
Explico: a economia está em ritmo lento, é fato, e os negócios devem, dependendo do segmento, entregar resultados modestos no curto prazo. Contudo, considerando os investimentos significativos que precisam ser feitos na etapa inicial de uma startup, talvez não haja melhor momento do que este para dar os primeiros passos. O câmbio está agora mais favorável aos estrangeiros do que na média das últimas duas décadas. Isto significa que um estrangeiro gastará muito menos se investir agora.
Quanto?
Aproximadamente 50% menos do que gastaria a cinco anos – em setembro de 2011, o real era comprado a 57,5 centavos de dólar; no mesmo mês, em 2016, seu preço foi de 30,7 centavos da moeda norte-americana. Este mesmo momento pode ainda representar uma grande oportunidade para a aquisição de negócios já existentes no Brasil. Este cenário pode não durar muito mais tempo, já que a situação política e econômica evoluiu nos últimos meses. Por isso, um investidor consciente deverá considerar que terá maior desembolso de recursos financeiros caso espere a economia se recuperar totalmente.
Historicamente, o PIB brasileiro (Market prices, constant 2000 USD ) tem uma das melhores performances entre os grandes países em desenvolvimento, incluindo Índia, Rússia e México. E este desempenho segue um padrão de crescimento que vem se sustentando nos últimos 50 anos, comprovando que a recuperação sempre aconteceu, superando as desacelerações ao longo do período.
Entretanto, se o PIB total do Brasil é semelhante aos de mercados parecidos, quando se trata do PIB per capita (constant USD 2010) , o país demonstra uma distribuição da riqueza maior do que a da Rússia e do que a do México, 74% maior do que a da China e 6 vezes maior do que a da Índia. Sendo indicadores, estes números devem ser lidos com cautela, mas eles seguramente traduzem, em parte, o potencial comercial que um investidor gostaria de ver em um novo mercado.
Períodos de incerteza na economia têm ocorrido ocasionalmente no Brasil ao longo do último século.
Contudo, os resultados têm recompensado investidores comprometidos com o longo prazo. Prova disto é a enorme quantidade de empresas globais, nos mais variados setores, que alcançaram sucesso aqui e têm continuado a atingir resultados consistentes por um longo período de tempo – incluindo Bayer, Siemens, BASF, Bunge e Maersk Line, atuantes no país há mais de 100 anos. É por isso que, a despeito dos desafios, elas não deixam o Brasil, de maneira alguma.
O Brasil é um país de 206 milhões de pessoas. A despeito da turbulência em anos recentes, o país ainda é a 9.ª maior economia do mundo. Isso mesmo. A despeito dos altos e baixos na economia e da agitação política, este mercado permanece entre o top 10 do mundo, no que diz respeito a resultados econômicos.
E não são apenas o agronegócio e as matérias-primas que movem a economia. Até a virada para 2015, o Brasil era o 3.º maior mercado de cosméticos, o 4.º em automóveis e em número de usuários de Internet e o 6.º em TI e Telecom. Uma economia tão grande impulsiona segmentos como serviços, infraestrutura, autopeças, energia, entretenimento, saúde e bem-estar e tantos outros. Metaforicamente, a piscina infantil pode até estar mais quente, mas dificilmente se conseguirá dar uma braçada sequer nela.
Como mencionado, há desafios para os novos players. O mercado brasileiro deixou crescerem barreiras de entrada, como a burocracia para abrir uma empresa ou uma conta corrente. A lei trabalhista brasileira também é muito conservadora e os contratos de trabalho devem ser feitos com antecipação para evitar embates futuros. A estrutura tributária é dinâmica e complexa; por isso, precisa ser desenhada já no início do projeto – e com apoio de especialistas. Assuntos regulatórios podem ser mais rígidos do que em qualquer outro mercado e merecem atenção redobrada. E a lista continua.
Mas isso tudo não deve desanimar o empreendedor. A boa notícia é que os que conquistaram êxito aqui também superaram essas dificuldades iniciais e construíram casos de grande sucesso. Logo, por que novos empreendedores não conseguiriam?
*Rodrigo J. B. Ribeiro, MBA pela Brigham Young University e Engenheiro Elétrico pela Universidade Mackenzie. Traçou sua carreira como executivo de marketing e vendas por grandes empresas multinacionais tais como IBM, Johnson & Johnson e Philips, onde liderou negócios nos segmentos de tecnologia, dispositivos médicos e bens-de-consumo. Aos 41 anos e mais de 20 de experiência, atua, desde janeiro, em seu mais novo desafio, a Gerência-Geral do Cerqueira Leite Advogados, empresa nacional de serviços jurídicos.
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