quarta-feira, 12 de outubro de 2011


Nomes que passam
RUY CASTRO 
FOLHA DE SP - 12/10/11

RIO DE JANEIRO - A comoção pela morte de Steve Jobs continua. Para milhões de pessoas, a vida perdeu o sentido -como sobreviver à perda de alguém que, de seis em seis meses, lhes fornecia um aparelhinho sem o qual, de repente, não podiam passar? Para elas, ele é insubstituível. Afinal, disse alguém, Steve Jobs era Leonardo da Vinci e Thomas Edison em um só. Outro previu que o impacto de suas criações se refletirá até o fim do milênio.
Com todo respeito pelos fãs enlutados, peço vênia para discordar. Acho que a memória do nome de Steve Jobs mal sobreviverá ao fim da década. Será soterrada pelo surgimento de outras criações e outros criadores, a um ritmo como o que foi imposto por ele próprio e pelos que o antecederam em seu ramo -programado para tornar caduco tudo que foi produzido outro dia mesmo. É o destino dos inventores. Seus inventos ficam ou não. Mas eles se evaporam.
Veja 1901. Coisas realmente originais surgiram naquele ano: a linha de montagem, a gilete, a câmera fotográfica portátil, o café solúvel, o transmissor de rádio, a lâmpada de mercúrio, a lente zoom, a laparoscopia, a radioterapia -estas últimas parecem-me mais importantes do que telefones com mil e uma utilidades. E alguém se lembra do nome dos responsáveis por tais maravilhas?
Não. Pior, suas façanhas foram atribuídas a outros. O criador da linha de montagem, por exemplo, foi o americano Ransom Olds (1864-1950), proprietário da Oldsmobile. Mas quem levou a fama foi Henry Ford, que a aplicou em suas fábricas. E King Camp Gillette (1855-1932) aposentou mundialmente a navalha e se tornou sinônimo de seu produto, mas quem entre nós sabe algo sobre ele?
Para não ir longe: o primeiro telefone celular surgiu na Finlândia, em 1991. Quem foi seu pai, se é que teve só um?

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