Eclusas de Tucuruí só operam com o rio cheio
Inaugurada por Lula no ano passado, obra foi interrompida e transporte ficou limitado
09 de outubro de 2011 | 3h 07
RENÉE PEREIRA - O Estado de S.Paulo
Foram quase três décadas de construção, R$ 1,6 bilhão gastos e muita dor de cabeça até aquele 30 de novembro de 2010. Era tarde de terça-feira, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou em Tucuruí, com sua sucessora, Dilma Rousseff, a tiracolo para fazer o que outros seis presidentes da República não conseguiram: inaugurar as emblemáticas eclusas de Tucuruí, no Rio Tocantins, que ampliariam em 1,6 mil quilômetros o transporte hidroviário no País.
O discurso foi regado a elogios e uma sensação de orgulho por tirar aquele projeto do papel. Mas a boa notícia ficou nisso. Depois da inauguração com pompa e circunstância, surgiram os primeiros entraves.
As obras complementares para tornar o rio navegável não foram realizadas e o transporte de carga está limitado. Trata-se da derrocagem (retirada de pedra) do Pedral de São Lourenço, que fica próximo de uma das eclusas de Tucuruí.
Sem a obra, os comboios com milhares de toneladas de carga não conseguem ultrapassar um trecho de 35 km durante o período seco do rio, entre agosto e janeiro. Nessa época do ano, somente pequenas embarcações trafegam no local.
"Com isso, apenas podemos usufruir das eclusas durante a cheia", afirma Luiz Carlos Costa Monteiro, presidente da Companhia Siderúrgica do Pará (Cosipar), controladora da MC Log, empresa de navegação que atua no Norte do País.
Foi a companhia que inaugurou o empreendimento no ano passado, quando o então presidente Lula visitou o local. Depois disso, as eclusas entraram em comissionamento e testes. A operação regular entre Marabá, Barcarena e Belém apenas teve início em julho deste ano. Mas no final de agosto teve de ser interrompida por causa da seca do rio e da falta de navegabilidade no trecho do Pedral de São Lourenço, conta Monteiro.
"Com a derrocagem, poderíamos fazer 100% do transporte da Cosipar pela hidrovia." A empresa já encomendou três novos comboios de 18 mil toneladas cada para ser usado na nova rota de transporte. "O primeiro já está pronto, mas só poderá começar a operar no ano que vem durante a cheia."
Para permitir a navegabilidade o ano todo, será necessário retirar do fundo do rio 693 mil metros cúbicos de rocha. O Ministério dos Transportes afirma que a obra já tem projeto e licença ambiental concedida, mas não foi iniciada porque o governo decidiu fazer um novo estudo para redução dos custos. A previsão inicial era gastar R$ 520 milhões com a derrocagem, dragagem e sinalização do rio. Os serviços durariam cerca de 30 meses.
Ou seja, ainda vai demorar algum tempo para a Hidrovia Araguaia-Tocantins ganhar impulso e ligar o Porto de Belém à região do Alto Araguaia, no Estado de Mato Grosso. Para especialistas em logística, a nova rota tem potencial para reduzir em até 15% o custo do frete na região produtora de grãos. As duas eclusas de Tucuruí têm capacidade de 40 milhões de toneladas por ano ou 24 comboios por dia nas duas direções.
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