quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Lewandowski toma posse, promete foco na segurança e expõe aliança do governo com STF, FSP

 Matheus Teixeira

BRASÍLIA

A posse de Ricardo Lewandowski no Ministério da Justiça com a presença de oito integrantes do STF (Supremo Tribunal Federal) selou em definitivo a aliança nos bastidores entre o governo Lula (PT) e a corte de cúpula do Judiciário do país.

Em seu discurso, Lewandowski prometeu foco na segurança pública e falou da importância de combater o crime organizado, os delitos digitais e as milícias, além de enaltecer a presença dos antigos colegas de Supremo.

O tribunal atualmente tem 10 membros —a formação completa tem 11. O décimo primeiro será Flávio Dino, que deixa a pasta da Justiça do governo e assumirá um assento no Supremo em 22 de fevereiro.

Apenas os ministros Edson Fachin e André Mendonça não estiveram presentes, este último indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a corte. O ministro Kassio Nunes Marques, o outro escolhido do ex-mandatário, compareceu à solenidade e foi exaltado por Lewandowski, que chamou o magistrado de "amigo".

A cerimônia de posse de Lewandowski também contou com a presença dos ex-presidentes José Sarney e Fernando Collor.

Ricardo Lewandowski na cerimônia de sua posse como ministro da Justiça e Segurança Pública, ao lado de Flávio Dino, que deixa o cargo para se tornar ministro do STF
Ricardo Lewandowski na cerimônia de sua posse como ministro da Justiça e Segurança Pública, ao lado de Flávio Dino, que deixa o cargo para se tornar ministro do STF - Pedro Ladeira/Folhapress

No discurso, Lewandowski elencou as funções da pasta, como defesa dos preceitos constitucionais, migração e refúgio, defesa econômica, combate à corrupção, coordenação de ações para combate a crime organizado e violento, entre outras.

Falou também da coordenação do sistema único de segurança público. "Terá sequência muito intensa e eficiente da nossa gestão", disse.

Lewandowski integrou o Supremo de 2006 a abril de 2023, quando deixou a Corte ao completar 75 anos —idade máxima para ministros.

No STF, Lewandowski ficou conhecido por atuar de maneira alinhada aos governos petistas, o que o cacifou para ser escolhido pelo presidente Lula (PT) para a Justiça.

O mandatário tem dito que uma das prioridades do governo é melhorar a gestão da segurança pública.O tema costuma motivar críticas da oposição e deve ser explorado nas eleições municipais.

Na véspera da posse de Lewandowski, Lula disse que combater o crime organizado é um desafio. "Não é uma coisa fácil de combater. Virou uma indústria multinacional, maior que General Motors, Volkswagen, Petrobras, é uma coisa muito poderosa. Está na imprensa, política, Judiciário, futebol."

Sob o guarda-chuva da pasta agora comandada por Lewandowski, está justamente a articulação de programas nacionais, de políticas penitenciárias, além das polícias Federal e Rodoviária Federal.

O novo ministro já defendeu em artigo na Folha, quando presidiu o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), em 2015, a aplicação de penas alternativas ao tratar da questão da superlotação carcerária, como o uso de tornozeleiras eletrônicas.

Na quarta-feira (31), durante a despedida de Dino do governo, o ex-ministro da Justiça e Lula também defenderam penas alternativas. O presidente disse que deseja "humanizar o combate ao pequeno crime", enquanto o plano é "jogar muito pesado" no combate ao crime organizado.

Lewandowski permaneceu próximo do governo e de Lula, de quem é amigo, mesmo após deixar o Supremo. Ele chegou a integrar a comitiva do governo que viajou aos Emirados Árabes Unidos, para a COP-28.

Lula anunciou a escolha de Lewandowski para a Justiça e Segurança Pública em 11 de janeiro.

O ministro aposentado sempre esteve entre os favoritos para ocupar o cargo de ministro do governo, especialmente depois de Lula desistir da ideia de nomear uma mulher para a vaga.

O nome do ex-integrante do STF ainda esfriou as disputas na esquerda em torno da sucessão de Dino, filiado ao PSB. O ex-ministro da Justiça foi aprovado em 14 de dezembro para a vaga no Supremo.

O jurista foi indicado para o Supremo pelo próprio Lula, em 2006. Ele chefiou a Corte de 2014 a 2016, tendo inclusive presidido o julgamento do impeachment da então presidente Dilma Rousseff.

Comissão do Meio Ambiente do CNMP conhece estudo sobre gestão de resíduos sólidos urbanos, CNMP

 Na segunda-feira, 29 de janeiro, a Comissão do Meio Ambiente (CMA) do Conselho Nacional do Ministério Público conheceu estudo elaborado pela Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (Abren) e o Global WtERT sobre emissões de metano em aterros sanitários. A apresentação ocorreu na sede do CNMP, em Brasília. 

Pelo CNMP, participaram o presidente da CMA, conselheiro Rodrigo Badaró, a membra auxiliar Tarcila Santos e as servidoras Letícia Porchera e Andreza Silva. Pela Abren, o presidente executivo da associação e vice-presidente do Global WtERT, Yuri Almeida (foto).

Na ocasião, a Abren apresentou o estudo “Saneamento energético no Brasil: soluções tecnológicas sustentáveis para valorização de resíduos e mitigação de metano no Brasil”. Entre outras questões, destacou que, após duas décadas de tramitação no Congresso Nacional e de uma década de vigência da Política Nacional de Resíduos Sólidos, a quantidade de resíduos sólidos urbanos no Brasil destinada a lixões e aterros controlados (que deveriam ter sido extintos em 2014) praticamente não se alterou em termos percentuais.

Além disso, o estudo apontou ações de mitigação de gases de efeito estufa do saneamento, como a realização de estudos nas principais cidades do Brasil com satélites especializados em captar plumas de metano e o estabelecimento de metas mais rigorosas de redução de gases de efeito estufa, especialmente para o metano, que é 86 vezes mais potente que o gás carbono.

Entre os encaminhamentos da reunião, foi decidido que a CMA irá levar ao Grupo de Trabalho Resíduos Sólidos as discussões sobre a apresentação feita pela Abren, fará levantamento de dúvidas do GT acerca do estudo e elaboração de questionário a ser respondido pela associação e verificará a possibilidade de atualização de Nota Técnica de 2015 sobre a temática. A Abren, por sua vez, enviará a apresentação para o GT Resíduos Sólidos e responderá, por escrito, a eventuais dúvidas do GT. 

A Abren integra o Global Waste to Energy Research and Technology Council (GWC), instituição de tecnologia e pesquisa que atua em diversos países, com sede em Nova York, e tem por objetivo promover as melhores práticas de gestão integrada e sustentável de resíduos por meio da recuperação energética, conhecida como Waste-to-Energy (WTE) ou Energy from Waste (EfW).

Veja aqui mais fotos da reunião.   

Fotos: Sergio Almeida (Secom/CNMP).

Vigilantes tomam lugar de PMs nas noites da rua Santa Ifigênia, no centro de SP, FSP

 Paulo Eduardo Dias

SÃO PAULO

A noite na rua Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, é de dar medo. São trechos escuros, com raras pessoas caminhando de um lado para o outro de forma apressada e quase nenhum veículo passando pela via. Quanto ao policiamento, é diferente do observado durante o dia, quando policiais militares e guardas civis podem ser vistos em meio a um formigueiro de gente.

A junção de tais fatores, além da proximidade com a cracolândia, pode estar contribuindo para uma prática que tem assustado comerciantes da região: os saques.

No episódio mais recente, na última semana, bem como em novembro passado, as ações dos criminosos —registradas por câmeras de segurança— ocorreram entre o final da noite e a madrugada, quando a Polícia Militar e a GCM (Guarda Civil Municipal) somem da rua, dando lugar a vigilantes informais, contratados por comerciantes em busca de proteção.

Questionada, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) disse que o "patrulhamento é realizado de forma dinâmica e de acordo com a necessidade do policiamento ostensivo na região, sendo constantemente reorientado com base no mapeamento realizado com base nos índices criminais no local".

Vigilante em seu posto no cruzamento das ruas Santa Ifigênia e dos Gusmões, no centro de São Paulo
Vigilante na esquina das ruas Santa Ifigênia e dos Gusmões, no centro de São Paulo, na noite da última terça (30) - Rubens Cavallari/Folhapress

Ainda segundo o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), a região é monitorada com rondas diurnas e noturnas e há previsão de um reforço de 2.000 policiais para atuar na região central.

Também procurada, a Prefeitura de São Paulo afirmou que "políticas públicas de segurança são de responsabilidade da Secretaria Estadual da Segurança Pública". A gestão Ricardo Nunes (MDB) acrescentou, contudo, que a GCM conta com 1.600 guardas, 97 viaturas e 158 motos, que realizam rondas periódicas 24 horas por dia na região.

Folha percorreu a rua Santa Ifigênia na última terça-feira (30) em dois períodos —por volta das 16h e depois, às 19h30.

À tarde, com todas as lojas abertas e intensa movimentação de pessoas, uma viatura da PM estava estacionada sobre a calçada na rua dos Gusmões, a poucos metros do cruzamento com a Santa Ifigênia. Também havia três policiais militares parados na esquina das ruas Aurora e Santa Ifigênia, de onde era possível avistar o prédio da 1ª Delegacia Seccional Centro, sede também do 3° DP (Campos Elíseos), responsável pela investigação dos crimes ocorridos na região.

Outros seis PMs caminhavam pela Santa Ifigênia no trecho entre as ruas Aurora e Timbiras, sempre em trios. Motos e carros da GCM e viaturas da PM também transitaram pela via enquanto a reportagem conversava com comerciantes e moradores, durante cerca de uma hora.

À noite, a Folha presenciou apenas uma viatura da PM trafegando pela rua Santa Ifigênia, e o veículo estava todo apagado. No intervalo de aproximadamente 40 minutos em que a reportagem esteve na região, nenhum outro policial foi visto.

A presença constante das forças segurança durante o dia e sua ausência quando a noite cai não é novidade para quem vive ou trabalha por ali.

"Não tem policiamento à noite. De dia tem para aparecer para a mídia. À noite não tem, é um ou outro. Quando tem roubo a polícia fica para aparecer no jornal", disse a vendedora Maria Almeida, 31, que é também moradora da região.

A comerciante Maria Claudia, 55, arrumava sua loja de produtos para iluminação quando atendeu rapidamente a reportagem. Ela foi direta sobre ser lojista no bairro: "A cabeça fica a mil, achando toda hora que vão entrar [na loja]. Durante o dia tem bastante [policiamento], à noite diminui".

Para ela, mesmo com alarme e segurança paga, o perigo de invasão é constante. E o ideal para evitar novos saques, opina, seria remover os usuários de drogas das proximidades da Santa Ifigênia.

Vítima do saque da madrugada do último sábado (27), que lhe rendeu um prejuízo avaliado em R$ 300 mil, o comerciante José Paulo Souza, 64, estava na tarde desta terça em meio a caixas reviradas em sua loja Portal das Câmeras. Junto a ele estava o presidente da União Comercial de São Paulo, Joseph Hanna Riachi.

"A solução, na minha visão, não está na quantidade de polícia. Precisa de polícia com autonomia e autoridade. Não adianta só colocar mais [policiais]", disse Riachi.

Policiais militares concentrados na rua Santa Ifigênia na esquina com a rua Aurora na parte da tarde da terça-feira (30)
Policiais militares concentrados na rua Santa Ifigênia na esquina com a rua Aurora na parte da tarde da terça-feira (30) - Rubens Cavallari/Folhapress

Presente na rua Santa Ifigênia desde 1965, o comerciante Stefano Assaid afirma que os saques nunca foram comuns na região. E também criticou a falta de policiamento no período noturno.

"No cair da noite somem tudo. Derrete. É torcer."

Quando a luz do sol se vai, o que se vê é uma rua vazia. Entre um pedestre e outro é possível também observar usuários de drogas cortando a Santa Ifigênia em direção à rua dos Protestantes, a uma distância de três quadras, ponto no qual se concentram atualmente.

São os vigilantes informais que então passam a fazer a segurança da rua comercial. Na noite de terça, dois homens trabalhavam. Um deles na esquina da rua dos Gusmões, outro no cruzamento com a rua Aurora. Perto dali, na esquina com a General Osório, uma cadeira vazia aguardava a chegada de seu segurança amarrada a um poste, protegida contra roubo.

Com tudo fechado ao redor, o ambulante Antônio Marcio, 42, era o único a vender algo na rua Santa Ifigênia por volta das 20h. Ele atendia três homens que ouviam música sentados na soleira de uma loja. De acordo com Marcio, o horário é propício para evitar ações do rapa, como são chamados os agentes da fiscalização contra o comércio informal.

"A polícia na Santa Ifigênia serve só para pegar trabalhador", disse o cozinheiro Marcos Silva, 49, que comprava bebida do ambulante e mora no local.