quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Chip de Musk é invasivo e ficção científica de segunda categoria, diz Nicolelis, FSP

 Pedro S. Teixeira

SÃO PAULO

O implante cerebral da Neuralink, uma das empresas de Elon Musk, não traz avanço ou inovação, segundo o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis. "É só fumaça."

O chip chamado de Telepathy usa a técnica de interface cérebro-máquina inventada por Nicolelis com o objetivo de permitir o controle de computadores, celulares e dispositivos digitais a partir do pensamento. A princípio, a solução visa ajudar pessoas com deficiência de mobilidade.

"A vasta maioria dos casos de paralisia pode ser tratada com interfaces não invasivas como nós demonstramos nos últimos dez anos; eles [a Neuralink] estão vivendo de hype e bad sci-fi [ficção científica ruim]", diz o neurocientista à Folha.

O pesquisador na área da neurociência, Miguel Nicolelis,  ao lado de exoesqueleto, demonstrado com pacientes, antes em cadeiras de rodas
O pesquisador na área da neurociência, Miguel Nicolelis, ao lado de exoesqueleto, demonstrado com pacientes, antes em cadeiras de rodas - Bruno Santos/Folhapress

Procurada pela reportagem, a Neuralink não respondeu.

O grupo de pesquisas liderado por Nicolelis na Universidade de Duke fez os primeiros registros no uso da tecnologia por humanos que conseguiram controlar braços robóticos remotamente. O experimento envolveu 15 pessoas sem necessidade de cirurgia.

A interface cérebro-máquina começou a ser abordada por Nicolelis em estudos ainda em 1999, após anos de coletas de sinais de atividade neural de ratos e macacos. O primeiro experimento de sucesso em primatas é de 2002.

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O grupo de Nicolelis, diferentemente da abordagem da Neuralink, colocou suas fichas em exoesqueletos, usados para auxiliar a mobilidade de pessoas com paraplegia ou tetraplegia. Em 2014, um voluntário chutou uma bola durante a abertura da Copa do Mundo do Brasil, na Arena Corinthians, com um dos equipamentos desenvolvidos por Nicolelis.

Hoje, no Brasil, já há unidades médicas que usam exoesqueletos no tratamento de pessoas com paralisia. Uma delas é a Rede de Reabilitação Lucy Montoro, na Vila Mariana, que tem equipamentos da empresa francesa Wandercraft e da russa ExoAtlet.

Vídeo da senadora Mara Gabrilli andando com auxílio de um exoesqueleto da Wandercraft viralizou nas redes no ano passado.

No caso desses aparelhos, o sensor de movimento fica no pescoço.

Também em 2004, pesquisadores liderados pelo engenheiro Kevin Warwick fizeram também um implante neural a partir de uma placa de eletrodos. O método ficou conhecido como Matriz de Utah e por ser mais invasivo.

Warwick fez vários testes com implante de máquina em si. Em 2004, ele publicou o livro "I, Cyborg" (Eu, ciborgue, em tradução livre), no qual relata os resultados dos arriscados experimentos.

A técnica foi aprimorada e depois usada por outro centro de pesquisas em neurociência, da Universidade de Pittsburgh.

O primeiro humano a receber um implante em Pittsburgh foi Nathan Copeland, que passou por cirurgia em 2014. Paralisado do peito para baixo após um acidente automotivo, Copeland passou a ser capaz de mover um braço mecânico, controlar um computador e jogar videogame com pensamentos.

Em 2022, o americano bateu o recorde de pessoa com mais tempo exposta ao procedimento chamado de Matriz de Utah, após sete anos e três meses implantado.

O implante na cabeça de Copeland é mais ou menos do tamanho de uma borracha. Os chips mais recentes são menores.

A Neuralink, por exemplo, usa um robô para colocar cirurgicamente um implante de interface cérebro-máquina em uma região do cérebro que controla a intenção de se mover.

Os chips são tão pequenos e sensíveis que não podem ser implantados por mãos humanas, de acordo com o site da Neuralink.

Ainda segunda a empresa, o dispositivo contém mais de mil eletrodos, bem acima do registrado em outros implantes. Visa também neurônios individuais, na contramão da concorrência que têm como alvo os sinais de grupos de neurônios. Se funcionar, isso deve permitir um maior grau de precisão.

Na avaliação de Nicolelis, não há mercado para esses implantes. "A vasta maioria dos pacientes não quer sofrer uma neurocirurgia e correr riscos."

"Tirando o marketing enganador do Musk, ele não está produzindo nada novo ou inovador na área", acrescentou.

Salles desiste pela segunda vez da campanha à Prefeitura de SP após PL barrar saída e apoiar Nunes, OESP

 O deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) está oficialmente fora da disputa pela Prefeitura de São Paulo nas eleições de 2024. Ele confirmou a informação ao Estadão depois que Valdemar Costa Neto, presidente do PL, entregou uma lista de nomes para vice na chapa ao prefeito Ricardo Nunes (MDB). O PRD, partido com o qual flertou uma candidatura alternativa, também não trabalha mais com a possibilidade de candidatura.

“A pedido do presidente, eu me comprometi a não sair do PL e, por outro lado, em função da decisão do Valdemar (Costa Neto, presidente da legenda), o partido não abre mão de apoiar o Nunes. Então, fico fora”, declarou o deputado. Segundo ele, o PL não ofereceu a legenda, nem uma carta de anuência para que deixasse o partido, rumo ao PRD, sem perder o mandato.

O ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
O ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Foto: Felipe Rau/Estadão

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Essa é a segunda vez que o ex-ministro do Meio Ambiente do governo de Jair Bolsonaro (PL) desiste da candidatura. A primeira foi em junho do ano passado. Na ocasião, o deputado desagradou o PL ao “queimar a largada” e anunciar a candidatura sem autorização do partido, que já negociava apoio ao prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Em outubro, declarou que estava “de volta ao jogo”. A sua esperança era a simpatia de Bolsonaro, que chegou a pedir “Salles prefeito” na saída de um evento do PL em Brasília, e a articulação com o PRD. A relação próxima não foi suficiente para barrar a negociação entre o partido e o MDB em São Paulo.

Na segunda-feira, 29, Nunes recebeu do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, uma lista de potenciais candidatos a vice na sua chapa pela reeleição. Quem larga na frente é o coronel da PM Ricardo Mello Araújo, ex-comandante da Rota e nome preferido do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Além da definição do apoio a Nunes, o PL não concordou com a saída de Salles para disputar o pleito pelo PRD, sigla criada a partir da fusão entre o PTB e o Patriota, fechando de vez as portas para a sua candidatura. O deputado precisava de uma carta de anuência da direção nacional para se desfiliar sem perder o mandato na Câmara.

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Segundo apurou o Estadão, a justificativa para o PL não liberá-lo é que a sua presença na campanha “só ajudaria o Boulos” — o deputado Guilherme Boulos (PSOL), principal adversário de Nunes nas pesquisas e que tem o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT em 2024.

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Salles é um crítico ferrenho de Nunes, a quem acusa de não defender as pautas do bolsonarismo, e disputaria o mesmo eleitorado de centro e direita, o que passaria pelo desgaste do adversário no primeiro turno. Em levantamento feito no ano passado, o deputado aparecia com mais ataques a Nunes do que a Boulos no “fogo cruzado” das redes sociais.

“Esse Nunes não dá. Ponto. Mais Centrão é tudo de que o Brasil não precisa. Origem de todos os nossos problemas”, declarou em um dos posts. Ele também criticou diversas vezes a aproximação do PL com o prefeito. “Quem com os porcos anda, farelo come”, afirmou após a primeira desistência.

Não vou me meter, nem apoiar ninguém

Ricardo Salles (PL-SP), deputado federal

Nesta terça-feira, 30, Padre Kelmon (PRD) anunciou pré-candidatura à prefeitura de São Paulo sem aval do partido. O político ganhou notoriedade nas eleições presidenciais de 2022 ao fazer “dobradinhas” com Bolsonaro e distribuir artilharia pesada contra Lula e PT na pauta de costumes e com viés religioso. Ainda que a direção nacional do PRD diga que a iniciativa é pessoal e que não vai bancar a candidatura do padre, o Estadão apurou que não se trabalha mais com a possibilidade de Salles sair candidato pela legenda.

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Para Salles, o PL tinha condições de vencer em São Paulo sem aceitar a candidatura de Nunes. “Há uma diferença da esquerda e da direita quando se relaciona com o Centrão. A esquerda, em geral, compra o Centrão, e a direita se curva. Infelizmente, em vez de a gente convencer o Centrão a agir como a gente quer, a gente se curva ao Centrão. Essa turma gosta de fazer negócio, não tem jeito.”

O deputado defende agora o nome do coronel Mello como a vice na chapa. “Se isso é suficiente para fazer o Nunes ganhar do Boulos eu já não sei, mas ele é um bom nome que eu gosto muito”. Salles não respondeu se espera ver Bolsonaro no palanque do prefeito; ele próprio pretende ficar neutro. “Não vou me meter, nem apoiar ninguém.”

Correções

A reportagem afirmou anteriormente que o PRD anunciou a pré-candidatura de Padre Kelmon. O partido alega que a iniciativa é pessoal do político e que não deu aval para a candidatura.