sábado, 30 de dezembro de 2023

Nordeste foi região mais recebida por pasta de articulação de Lula em 2023, e centro-oeste, a menos, FSP


BRASÍLIA

A equipe da Secretaria Especial de Assuntos Federativos (Seaf) do governo Lula (PT) recebeu no Palácio do Planalto representantes de 3.433 municípios e dos 27 governos estaduais em 2023 para audiências.

A pasta, vinculada à Secretaria de Relações Institucionais (SRI), é responsável pela articulação do Executivo com os entes federativos. Ela é comandada por André Ceciliano.

Em alguns desses encontros também participaram outros secretários da SRI e o próprio ministro, Alexandre Padilha.

O secretário da Seaf, André Ceciliano
O secretário da Seaf, André Ceciliano - Octacilio Barbosa/Divulgação/Alerj

A maior parte dos representantes dos municípios são do Nordeste —Lula venceu em todos os estados da região na eleição de 2022. Foram 1.157 no total.

Por outro lado, a pasta recebeu menos pessoas do Centro-Oeste, que ainda enfrenta resistências ao petista. Ligada ao agronegócio, a região deu votação expressiva ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022. No total, foram recebidos 84 representantes de municípios do Centro-Oeste.

A equipe da secretaria também recebeu 638 pessoas de municípios do Sul, 1.107 do Sudeste e 446 do Norte.

PUBLICIDADE

Segundo a Seaf, essas audiências no Planalto resultaram em 13.733 demandas que foram geradas e estão sendo solucionadas pela pasta, como, por exemplo, entraves em convênios. 

Os ricos, os pobres e o Marcelo Medeiros, FSP

 

No Brasil e em vários países do mundo, existe um lento, mas progressivo, despertar de um descontentamento com a rígida estrutura social e política. Desigualdades e processos excludentes, há muito tempo adormecidos, estão vindo à tona. Diversos estudiosos têm contribuído para endossar tais debates e ajudar a fornecer reflexões sobre as escolhas sociais. Marcelo Medeiros é um desses nomes.

O sociológico e economista, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor visitante na Universidade Columbia, é autor de uma série de estudos que buscam compreender as complexidades dos conflitos distributivos gerados pelas desigualdades e seus mecanismos de reprodução.

0
Vista aérea da divisa entre Paraisópolis e Morumbi, em São Paulo - Gabriel Cabral - 18.set.21/Folhapress

Medeiros faz parte de uma geração de pesquisadores que não está preocupada somente com a base da pirâmide social, mas também procura questionar e entender em maior profundidade o topo da distribuição de renda. Ele é o tipo pesquisador que não costuma se intimidar. Tende a ir direto ao ponto no que diz respeito às intervenções que julga relevantes para endereçar as desigualdades da sociedade.

Em seu recente livro intitulado "Os Ricos e os Pobres: o Brasil e a desigualdade", Medeiros exemplifica, de várias formas, como a pobreza é prejudicial para o desenvolvimento individual e coletivo, enquanto, ao mesmo tempo, esboça a situação da alta concentração de renda entre os ricos.

Na obra, ele destaca que a grande massa de brasileiros se parece mais com os pobres do que com os ricos. Existe muita heterogeneidade entre aqueles que são considerados ricos no país. Eles se apropriam de uma parcela da renda maior do que aquela apropriada por toda a metade mais pobre da população junta. Sem eles, teríamos uma sociedade pobre, mas com pouca desigualdade.

Curiosamente, para cada duas pessoas com o título de doutorado no país, há uma pessoa em situação de rua. Para cada doutor, há quase quatro presos. A nossa estrutura socioeconômica faz com que as desigualdades se tornem quase predeterminadas em suas persistências. Grande parte da população enfrenta dilemas diários para conseguir ter acesso a requisitos básicos de sobrevivência.

Mudar isso, segundo o autor, "vai dar trabalho, vai custar caro, vai levar tempo e vai consumir muito capital político, porque exige enfrentar diretamente os conflitos distributivos que existem na sociedade".

Caso optemos por transformar a atual situação no país de forma estrutural, haverá uma natural contrarreação daqueles que perdem com as mudanças. Sociedades não costumam responder prontamente a argumentos racionais ou a qualquer avanço na conscientização de noções básicas de justiça.

Apesar disso, é difícil imaginar que o atual contrato social seja mantido com o lento, mas progressivo, despertar daqueles que estavam adormecidos aos conflitos distributivos inerentes à nossa realidade.

O texto é uma homenagem à música "Menino das Laranjas", composta por Theo de Barros, interpretada por Mariana Aydar.

Celso Rocha de Barros - Livros de política de 2023, FSP

 Um dos maiores cientistas políticos brasileiros escreveu um livro dirigido ao grande público. Em "Operação Impeachment: Dilma e o Brasil da Lava Jato", Fernando Limongi mostrou que o impeachment de 2016, ocorrido no auge da influência da Lava Jato, foi, na verdade, uma reação do sistema político contra a operação.

Os dez anos dos protestos de junho de 2013 geraram ótimos livros. Em "Treze: A Política de Rua de Lula a Dilma", Angela Alonso situou os protestos de junho de 2013 no contexto de uma onda mais ampla de mobilização social, que desde o início incluiu protestos conservadores. Em "A Razão dos Centavos: Crise Urbana, Vida Democrática e as Revoltas de 2013", Roberto Andrés contou a história da luta pelo passe livre, que recentemente obteve êxitos surpreendentes.

Praça dos três Poderes, em Brasília
Praça dos três Poderes, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

Em "Como a China Escapou da Terapia de Choque", Isabella Weber reconstruiu os debates que deram origem à estratégia gradualista que a China adotou para se tornar uma economia de mercado.

Em "Salazar e os Fascismos", Fernando Rosas comparou diferenças e semelhanças entre o fascismo português e seus similares europeus, com destaque para as alianças entre fascismo popular e o conservadorismo de elite.

Em "Como Salvar a Democracia", Steven Levitsky e Daniel Ziblatt mostraram como as instituições americanas, se não forem reformadas, podem favorecer a erosão democrática e transformar a democracia americana em um governo da minoria.

Em "O Supremo entre o Direito e a Política", Diego Werneck Arguelhes apresentou os principais debates sobre o STF, sua relação com a política, e as maneiras pelas quais ele poderia funcionar melhor.

Em "O Discreto Charme da Magistocracia", Conrado Hübner Mendes mostrou que defeitos de nosso Judiciário o tornaram um alvo fácil quando o bolsonarismo lançou sua ofensiva contra a democracia.

Em "O Tribunal", Felipe Recondo e Luiz Weber contaram a história da resistência do STF contra o golpismo de Bolsonaro, e como, no decorrer dessas lutas, os ministros superaram alguns dos vícios antes apontados por seus críticos.

Em "Biografia do Abismo", Felipe Nunes e Thomas Traumann alertaram, com base em pesquisas quantitativas e qualitativas, para o risco da polarização política dos últimos anos se tornar um traço permanente da política brasileira.

Em "O Girassol que nos Tinge", Oscar Pilagallo contou a história do movimento Diretas Já!, que ajudou a abrir fissuras em uma transição democrática conduzida pelo alto.

Em "Amazônia na Encruzilhada", Miriam Leitão ofereceu um quadro amplo da luta pela preservação da Amazônia, os sucessos da Nova República, os fracassos de Bolsonaro, e os desafios para preservar nosso maior patrimônio ecológico em um momento em que desmatamento e crime estão cada vez mais ligados.

"Números da Discriminação Racial", organizado por Michael França e Alysson Portella, é uma ótima coleção de estudos econômicos sobre a desigualdade racial no Brasil. Deve servir de ponto de partida para muitos debates futuros sobre o tema.

Marcelo Medeiros é um dos maiores especialistas em desigualdade brasileira. Em "Os Ricos e os Pobres", mostrou, de forma acessível ao grande público, que os números da desigualdade brasileira assustam mesmo quem já sabe que ela é grande; e que será necessário um amplo repertório de estratégias para reduzi-la. É o livro do ano.