segunda-feira, 31 de julho de 2023

Oito mortos: Governo de SP diz que ação policial no Guarujá é proporcional às agressões, FSP

 

SÃO PAULO

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, negaram os relatos de tortura e ameaças contra moradores de Guarujá, no litoral paulista, e disseram que todas as mortes em uma megaoperação de segurança na região ocorreram de forma proporcional. O estado confirmou oito mortes na operação.

Eles elogiaram o trabalho dos policiais e afirmaram que nenhum relato do tipo foi repassado ao governo.

Ouvidoria das Polícias identificou dez mortes decorrentes de intervenção policial em Guarujá, no litoral paulista, desde sexta-feira (28) —quando teve início uma megaoperação das forças de segurança na Baixada Santista. A ação é uma resposta à morte de um soldado da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, força de elite da PM paulista), na mesma cidade, na última quinta (27), em um crime que gerou comoção entre policiais. O número pode chegar a 12, segundo o ouvidor.

Carros com pintura cinza da polícia no centro da imagem, em uma viela com várias casas de construção simples
Carros da Rota durante operação policial na tarde deste domingo na favela Canta Galo, no Guarujá - Leitora

Derrite questionou a qualidade dos dados da ouvidoria, que são baseados em boletins de ocorrência registrados nos últimos quatro dias. O governo confirma oito mortes. "Nós reagimos com essa violência na mesma proporção com que eles atacam as polícias", disse o secretário.

Já Tarcísio disse que está "extremamente satisfeito com a ação policial, extremamente triste porque nada vai trazer de volta um pai de família", em referência ao soldado Patrick Reis, da Rota.

A operação na Baixada Santista deve prosseguir por mais um mês, mesmo após a prisão do suspeito de matar o policial.

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Moradores de Guarujá relataram que policiais militares torturaram e mataram ao menos um homem e prometeram assassinar 60 pessoas em comunidades da cidade. A ouvidoria abriu um procedimento para investigar as denúncias.

Os relatos envolvem, por exemplo, o caso do vendedor ambulante Felipe Vieira Nunes, 30, que foi morto com nove tiros na noite de sexta-feira. O corpo foi entregue ao IML (Instituto Médico Legal) sem identificação, com marcas de queimadura de cigarros, um hematoma na cabeça e um corte no braço, segundo familiares.

Moradores da favela da Vila Baiana dizem ter ouvido os gritos de Nunes durante a tortura. A ouvidoria também investiga a morte a tiros de um homem de 46 anos que era esquizofrênico e relatos de invasões de casas por policiais mascarados.

A Operação Escudo, que vai durar um mês, envolve agentes de todos os 15 batalhões de operação especiais do estado. São cerca de 3.000 PMs, além de pelotões do Choque e do efetivo local.

SUSPEITO DE MATAR SOLDADO SE ENTREGOU

O suspeito de ter matado o policial é Ericson David da Silva, que se entregou em uma delegacia do Guarujá na noite de domingo acompanhado de seu advogado. A polícia não confirmou a sua idade.

Segundo Derrite, a arma do crime (uma pistola 9 mm) não foi apreendida. A polícia já procurava por ele, porém, com base em depoimento de outros três presos na operação de busca pelo grupo responsável pela morte.

Investigadores chegaram aos suspeitos por meio de uma nota fiscal encontrada no local do crime, pela compra de um croissant, e pela análise de imagens de câmeras de segurança no local, segundo Derrite.

O secretário disse que o autor dos disparos foi orientado por seu advogado a gravar, antes de se entregar, um vídeo em que pede o fim das mortes pelos policiais na região e diz que não tem "nada a ver" com o caso. Derrite diz que o suspeito mentiu no vídeo e que as autoridades têm áudios que comprovariam essa orientação do advogado.

POLICIAL FOI MORTO DURANTE PATRULHAMENTO

Durante um patrulhamento de rotina na quinta-feira na comunidade Vila Zilda, em Guarujá, o soldado Patrick Bastos Reis foi baleado quando a viatura estava deixava o local, já sob tiros, segundo o boletim da ocorrência.

Reis foi atingido na axila, chegou a ser socorrido, mas não resistiu. O cabo Marin, que participava do patrulhamento, foi baleado na mão esquerda.

Reis ingressou na PM em 7 de dezembro de 2017 e, segundo a corporação, "exerceu suas funções com grande dedicação e zelo com o que lhe era confiado, sendo um profissional dedicado, amigo e exemplar".

O policial deixou a mulher e um filho de dois anos.

Gastos milionários com royalties ficam ‘secretos’ em prefeituras com transparência precária, OESP

 BRASÍLIA - O destino da dinheirama de royalties de petróleo que municípios obtiveram após decisões “sem rigor técnico” do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) é um limbo. Os milhões de reais extras foram obtidos, em sua maioria, por prefeituras com transparência precária, o que impede acompanhamento, fiscalização e análise da destinação dos recursos.

Nos poucos casos em que foi possível mapear o uso, os fins subverteram o princípio que os especialistas classificam como utilização ideal dos royalties – caracterizados como de natureza volátil, finita e incerta. Em vez de servirem a investimentos estruturantes, foram usados para inchar a máquina pública e firmar contratos suspeitos.

Imagem aérea da cidade de Alvarães (AM), publicada na página oficial da prefeitura no Facebook
Imagem aérea da cidade de Alvarães (AM), publicada na página oficial da prefeitura no Facebook Foto: Reprodução/Prefeitura de Alvarães

Como mostrou o Estadãoações judiciais “que se baseiam em nada”, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), significaram R$ 125 milhões a cidades do Amazonas, de Alagoas e do Pará sem produção de petróleo. Os processos renderam R$ 25 milhões em honorários ao grupo do lobista Rubens Machado de Oliveira – condenado por estelionato e investigado por lavagem de dinheiro.

Os números só são conhecidos porque a ANP torna públicas as planilhas mensais de repasses. Da parte das administrações municipais, pouco se sabe sobre a entrada e a saída desse tipo de recurso. Dentre as prefeituras que se mobilizaram para reivindicar o dinheiro na Justiça Federal de Brasília, há municípios com portais de transparência que não trazem o detalhamento de despesas e de fontes dos recursos.

Nos primeiros sete meses de 2023, os municípios brasileiros já receberam, juntos R$ 15 bilhões em royalties. Para se ter uma ideia, quatro ministérios têm orçamento menor do que esse valor - Integração e do Desenvolvimento Regional (R$ 11,5 bilhões); Minas e Energia (R$ 9 bilhões); Planejamento (R$ 3,4 bilhões) e Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (R$ 2,6 bi).

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A fiscalização das despesas realizadas com essa verba dos royalties fica a cargo dos tribunais de contas regionais, conhecidos pela influência política em suas composições.

“Entendemos que a procuradoria junto à ANP deveria cientificar os Tribunais de Contas dos Estados e/ou dos municípios acerca da existência das ações judiciais de alegações genéricas mediante a contratação de escritórios de advocacia, que vêm gerando royalties a esses entes federativos em virtude de decisões judiciais liminares”, alertou a ANP, em uma nota técnica que mapeou decisões do TRF-1.

O Estadão revelou que um grupo coordenado por um lobista condenado por estelionato conseguiu contratos sem licitação com 56 prefeituras de oito Estados apresentado à Justiça “ações genéricas” e “sem amparo técnico e legal” assinadas até por advogados recém formados. Para 21 delas houve decisões favoráveis – sendo 19 dos mesmos três desembargadores do TRF-1. Dessas, 14 já efetivamente receberam parcelas extras.

Dez ordens saíram do gabinete do desembargador Carlos Augusto Pires Brandão; cinco do gabinete da desembargadora Daniele Maranhão; e quatro do desembargador Antônio Souza Prudente. O TRF-1 tem 38 desembargadores, mas só os três concederam decisões nesse sentido. A reportagem levantou as informações nos processos públicos que tramitam no TRF-1.

Pires Brandão e Souza Prudente não comentam o assunto. Daniela Maranhão só aceitou se manifestar após a publicação da primeira reportagem da série. Ela enviou uma nota ao jornal: “Magistrada de carreira, a desembargadora Daniele Maranhão atua há 30 anos com base na lei e nos princípios que regem a jurisdição e, ao contrário do que sugere o Estadão, nunca proferiu decisões que “driblam” a lei”.

Na nota, afirmou ainda: “A reportagem ignora que as cidades não produtoras de petróleo podem receber royalties, desde que cumpram outros requisitos. Nos casos mencionados, no entanto, houve o deferimento de liminar e facultada a juntada de documentos complementares pelas partes. Com a documentação trazida pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), as decisões foram revogadas. Posteriormente, houve a rejeição do mérito dos pedidos.”

Como mostrou a reportagem, as decisões foram revogadas pelo juiz substituto e não pela desembargadora.

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A transparência da cidade de Arthur Lira

Entre as beneficiadas por decisão judicial está a pequena Barra de São Miguel (AL), com R$ 15 milhões arrecadados. O reduto do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), - administrado pelo pai dele, Biu de Lira (PP) -, apresenta informações sobre a arrecadação e despesas na transparência ativa. Assim, foi possível identificar que a prefeitura torrou os royalties em honorários do advogado Gustavo Freitas Macedo, ligado ao lobista, e inchou a máquina pública. A cidade foi atendida por um desembargador com base em um critério que ela nem cumpre.

A transparência nos municípios que foram à Justiça Federal de Brasília reivindicar parcelas milionárias de royalties, contudo, não é a regra. Alvarães (AM) foi a primeira cidade representada pelo grupo do lobista a obter parcelas milionárias de royalties por ordem do TRF-1, ainda em janeiro de 2021. Até o momento, o município já recebeu R$ 18,8 milhões pela “existência de instalações de embarque e desembarque de gás natural (pontos de entrega) sobre a produção marítima e terrestre”. Estrutura que, na verdade, não possui.

A cidade de 15,8 mil habitantes a oeste de Manaus publica a prestação de contas em um portal compartilhado com outros municípios do Estado. Apesar de parte dos dados da administração estar disponível ao cidadão, acessar os detalhes dos gastos não é uma tarefa simples. Não há, por exemplo, mecanismos de busca. É preciso abrir planilhas avulsas para obter informações sobre gastos, divulgados em listas e sem detalhamento.

As planilhas do município não registram, por exemplo, qual é a origem do recurso gasto em cada despesa. Os R$ 3,8 milhões em honorários gastos com o advogado Gustavo Freitas Macedo, que obteve a vitória no TRF-1, foram identificados na prestação de contas de Alvarães junto a uma fonte de recursos descrita apenas como “0.01.87″. A prefeitura não oferece um dicionário que permita ao cidadão entender a origem da verba.

A mesma fonte que paga o advogado também foi usada para comprometer R$ 7 milhões com cinco empresas. Uma delas é a RG Serviços Locação Terraplanagem LTDA, cujos sócios foram beneficiários do Auxílio Emergencial em 2020 e em 2021. Um de Alvarães e outro de Manaus. Em 2022, a empresa recebeu R$ 800 mil do município. Não há descrição do serviço prestado.

Já o município de Novo Airão (AM), que recebeu R$ 12,8 milhões em royalties após decisão judicial, não apresentou nenhuma informação sobre seus gastos neste ano. Não há nenhuma planilha, tabela ou explicações referentes ao primeiro semestre de 2023 no portal da Transparência.

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Portal de Transparência de Novo Airão (AM) não apresenta planilhas, tabelas ou dados de despesas em 2023
Portal de Transparência de Novo Airão (AM) não apresenta planilhas, tabelas ou dados de despesas em 2023 Foto: Reproduçã

A cidade de Rio Preto da Eva (AM) é outro exemplo. A planilha que deveria detalhar as despesas de R$ 174 milhões de 2022 apresenta os dados de forma generalista. Em 1 de junho do ano passado, a prefeitura gastou R$ 1,053 milhão “referente ao serviço de advocacia”. Não há informações sobre quem recebeu o dinheiro ou qual foi o trabalho feito.

Portal de Rio Preto da Eva não detalha os gastos da cidade. Há informações de despesas altas apenas de forma geral.
Portal de Rio Preto da Eva não detalha os gastos da cidade. Há informações de despesas altas apenas de forma geral. Foto: Reprodução

Royalties são oportunidade e ameaça aos prefeitos

má qualidade dos gastos com royalties é um tema recorrente entre gestores da área. A receita extraordinária disponível acaba servindo a reajustes e contratações de pessoal. Em seguida, ela míngua, e os compromissos assumidos permanecem.

“Tem muitos municípios que acabam sofrendo com isso. Eles aumentaram a arrecadação de forma rápida e significativa, mas quando caiu acabaram quebrando. O prefeito tem que ter muito cuidado com essa receita de royalties. Tem prefeito com dificuldade de honrar programas que criou e até salários”, disse Hugo Wanderley Caju, prefeito de Cacimbinhas (AL) e presidente da Associação dos Municípios Alagoanos (AMA).

O presidente da Associação Amazonense de Municípios (AAM), Anderson Sousa, prefeito de Rio Preto da Eva, não retornou as chamadas nem as mensagens da reportagem. Na semana passada, ele havia apresentado Rubens de Oliveira como “consultor da associação”. Os municípios amazonenses são os principais “clientes” do lobista.

domingo, 30 de julho de 2023

Exagero faz marketing rosa da Barbie começar a desbotar, FSP

 

SÃO PAULO

A expressão "patriarcado" aparece diversas vezes no filme "Barbie", da Warner, a terceira maior estreia da história do cinema brasileiro, que atraiu 7 milhões de espectadores entre 20 e 28 de julho.

No longa, dirigido por Greta Gerwig, a boneca Barbie (Margot Robbie) se ressente de encontrar no mundo real um contexto completamente diferente do vivido na Barbielândia, onde as mulheres estão no comando e os bonecos Ken são meros coadjuvantes, sem brilho. Mas um dos Ken (Ryan Gosling) resolve introduzir na Barbielândia as ideias de poder e domínio dos homens sobre as mulheres, para desespero da Barbie, que questiona a própria existência como uma boneca "estereotipada".

A crítica social ganhou toques de humor e ironia no filme, dando origem a um "feminismo rosa", abraçado por diversos anunciantes que fecharam contratos de licenciamento com a Mattel, dona da Barbie.

No Brasil, a marca estampou tamancos Melissa, chinelos Ipanema, roupas e acessórios das varejistas C&A, Renner e Riachuelo, esmaltes O.P.I (Wella), escova dental Condor, malas Luxcel, biscoitos artesanais da Biscoitê e até um combo de sanduíche e milk shake do Burger King, com direito a molho rosa no hambúrguer e a uma loja temática em São Paulo.

loja de fachada rosa em que se lê Burger King
Loja temática Barbie do Burger King, no Itaim Bibi, em São Paulo - Divulgação

Mas mesmo quem não tinha absolutamente nada a ver com o universo da Barbielândia resolveu aderir à onda rosa. Foi o caso do Detran de São Paulo, que divulgou um comunicado intitulado "Detran SP explica as regras para participar da trend rosa do momento", informando os motoristas sobre o que fazer para mudar a cor do carro.

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Também o Poupatempo de São Paulo divulgou um anúncio nas redes sociais sobre um mutirão para renovação da CNH com a personagem Bárbara, "que veio diretamente da Barbielândia para regularizar o documento em São Paulo."

Já a fabricante Embalixo promoveu uma ação nos cinemas de Campinas (SP) e São Paulo, distribuindo sacos de lixo rosa para o público antes das sessões do filme. O item vai entrar definitivamente no portfólio da empresa, sediada em Hortolândia (SP), e deve estar disponível nas prateleiras dos supermercados em 60 dias. O produto terá neutralizador de odores, ação antibacteriana e fragrância.

Na opinião de especialistas em marketing ouvidos pela Folha, a associação indiscriminada com a Barbie pode surtir efeitos adversos. "O código para pegar carona no ‘Barbiecore’ é simples, basta usar rosa", diz Maurício Felício, professor de comunicação e publicidade da ESPM e head de mídia da Energy BBDO. "Mas se o anunciante não tem propriedade para usar a cor, vai ser criticado ou ignorado pelo público", diz ele.

"Corre o risco de parecer desesperado por atenção ou descompensado, dando uma importância acima do ideal para a marca."

Para a psicóloga com mestrado em gênero Cecília Russo Troiano, diretora geral da Troiano Branding, o fato de o Detran SP se associar ao rosa da Barbie soa um contrassenso. "Do ponto de vista dos arquétipos, uma autarquia governamental representa justamente o patriarcado, com a imposição de regras e limites", diz. "Embarcar só porque é 'hype', está em alta, não é justificativa. A marca se contamina com elementos que não fazem parte da sua identidade."

Cecília lembra que apoiar o rosa da Barbie é completamente diferente do apoio ao "Outubro Rosa", por exemplo, campanha que tem a proposta de compartilhar informações sobre o câncer de mama. "De um lado, é uma iniciativa social, de promoção da saúde, de outro é ajudar a propagar uma iniciativa comercial, que interessa à fabricante da boneca", afirma.

Segundo a especialista, ondas como a da Barbie, em geral, são muito curtas e intensas. "Existem as fases da valorização, da superexposição e da banalização, que parece estar começando agora", afirma.

De acordo com a ferramenta Google Trends, do Google, que mostra o nível de interesse por um assunto no principal buscador mundial da internet, no dia 21, um dia após a estreia do filme em nível global, o assunto atingiu índice 100 em buscas, tanto no Brasil quanto no mundo. Desde então, vem caindo, até atingir índice 43 no mundo e 25 no Brasil. Entre 20 e 27 de julho, o Brasil foi o quinto país onde o assunto mais se destacou, à frente dos Estados Unidos, sede da Mattel, que ficou em 6º lugar. O primeiro foi Porto Rico.

No Google Trends, o volume de busca é apresentado na forma de um índice de interesse, numa escala que vai de 0 a 100, na qual 100 representa o interesse máximo de busca. A plataforma calcula as buscas por assunto e as divide pelo total de consultas realizadas em determinada geografia, em um período específico.

Em uma onda, diz Maurício Felício, é preciso saber quando entrar e quando sair, antes que o tema comece a saturar e a marca apareça como "paisagem". "Se você passa a ser mais um usando rosa, ninguém mais te nota", afirma o professor da ESPM, para quem a "onda Barbie" já deve perder fôlego em agosto.

Para o especialista, porém, o marketing da Mattel foi eficaz, por resgatar a nostalgia em quem brincou com a boneca e embalar o universo do brinquedo em uma nova roupagem, atualizada com os valores que a sociedade busca, como equidade de gênero e diversidade. "A marca Barbie assumiu que precisava mudar e mostrou um feminismo rosa, associando a cor não mais a uma mulher frágil ou superficial, mas empoderada."

Margot Robbie em cena do filme "Barbie", dirigido por Greta Gerwig
Margot Robbie em cena do filme "Barbie", dirigido por Greta Gerwig - Divulgação

ROUPAS VENDEM MAIS DO QUE BRINQUEDOS

Há, contudo, quem aposte que a onda rosa será perene. Na C&A, a coleção licenciada da Barbie soma 60 mil peças, de mais de 30 modelos diferentes. Desde o lançamento, em 30 de junho, até agora, a varejista de moda já vendeu 85% do estoque, entre roupas e acessórios. Por conta disso, já preparou reposições para agosto.

"O sucesso da Barbie já é consolidado há décadas e deve seguir, mesmo após o boom do lançamento do filme", diz Mariana Moraes, diretora de marketing da C&A. "Além da reposição programada para agosto, estudamos a entrada de novos produtos para os próximos meses."

De acordo com a plataforma de e-commerce Nuvemshop, que atende 120 mil lojistas virtuais de pequeno e médio porte, a venda de itens classificados como "rosa" cresceu 40% entre 1º e 27 de julho, em comparação ao mesmo período do ano passado, somando 181 mil produtos, entre acessórios e vestuário. Já a venda de produtos classificados como "pink" quase dobrou, com alta de 96%, para mais de 100 mil itens vendidos este mês.

O grupo Ri Happy, o maior do país no varejo de brinquedos, afirma que a marca Barbie apresentou em julho deste ano um crescimento de dois dígitos nas vendas, em comparação ao mesmo período do ano passado. "Pudemos notar um grande interesse pelos produtos da linha Barbie, em geral, com destaque para a Barbie Color Reveal e a Barbie O Filme –Dia Perfeito", diz Elisabete Guimarães, compradora sênior da Ri Happy.

De acordo com analistas ouvidos pela agência Reuters, o filme deve ajudar a Mattel a aumentar seus lucros com royalties no terceiro trimestre, não necessariamente com a venda de brinquedos, já que o longa é voltado para um público mais velho.

Segundo levantamento da Quantum Finance para a Folha, as ações da multinacional americana de brinquedos registraram queda de 17,25% em 2022, mas este ano conseguiram se recuperar, acumulando alta de 19,06% até 27 de julho.

A Barbie foi a principal marca da Mattel de 2019 a 2022, segundo dados da empresa. Mas seu faturamento bruto ficou atrás do Hot Wheels no primeiro semestre de 2023.

A boneca, criada em 1959, já vinha nos últimos anos passando por uma revisão –adotou novas cores e etnias (negra, asiática, latina), novos corpos (gordas, de quadris largos), abraçou as diferenças (há versões da Barbie cega, em cadeira de rodas, vitiligo ou síndrome de Down), além de estar nas mais diferentes profissões, de médica a astronauta, passando por bombeira, jogadora de futebol e empreendedora.

Em entrevista à rede de TV americana CNBC, o CEO da Mattel, Ynon Kreiz, afirmou que, com o filme, a empresa queria fazer algo diferente e único, que se destacasse. "Não se trata de fazer um filme, mas de criar um momento cultural icônico", disse. Resta saber se a nova Barbie, com seu apelo instagramável, vai conquistar a geração Alpha, dos nascidos a partir de 2010.