sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Roubança nas emendas: é preciso atacar gangues e feudos parlamentares, VTF FSP

 Ainda que não se furte ou se desperdice o dinheiro das emendas parlamentares, sabe-se que o modo pelo qual senadores e deputados modificam o Orçamento muita vez não tem planejamento, cálculo de eficiência, de prioridade ou picota recursos escassos em investimentos que podem até ser um campo de futebol society.

Sim, mas se furta. A comissão pode ser de 12%, segundo conversas captadas pela Polícia Federal, relatadas pela revista piauí. O resultado do trabalho da PF, de auditorias da Controladoria-Geral da União e, mais recentemente, do ministro Flávio Dino, do STF, são amostras de um buraco profundo, que começa com desperdício e ineficiência.

A imagem mostra um grupo de homens em uma reunião. Em primeiro plano, um homem de óculos e cabelo curto está olhando para baixo, com uma expressão séria. Ao fundo, outro homem está parcialmente visível, também com uma expressão concentrada. O ambiente parece ser um espaço formal, possivelmente uma sala de reuniões.
O ministro Flávio Dino em sessão plenária do STF (Supremo Tribunal Federal) - Pedro Ladeira/23.out.24/Folhapress

Faz parte das atribuições parlamentares emendar o Orçamento. Transformá-lo em colcha de retalhos miúdos é outra coisa. Pode ser que uma cidade pobre ou necessitada por outro motivo recorra a dinheiro federal a fim de resolver um problema municipal. Mas qual instância de governo terá recursos e capacidade de coordenação bastante para executar grandes obras de impacto regional ou nacional ou investimentos de fundo e de peso em pesquisa e ciência?

Esse problema parece quase luxuoso quando se faz uma pequena verificação do destino das emendas, como a auditoria que a CGU publicou em novembro, por exigência de Dino, do STF.

Quase 40% de 256 obras analisadas não haviam começado. Em parte das 30 cidades investigadas, não se sabia que fim se dera a equipamentos comprados. Das dez ONGs que mais haviam recebido dinheiro de emendas, sete não teriam capacidade técnica ou pessoal adequado para realizar o projeto bancado pelas emendas. Haveria superfaturamento. Etc.

Além do uso ineficiente de tanto dinheiro e da roubança já descoberta, o dinheiro das emendas é um modo de criar feudos. Note-se que os recursos das emendas equivalem mais ou menos a um quarto daquela parte do Orçamento que se chama de "livre" (que não é destinado a gastos obrigatórios, por leis, pela Constituição ou pela mera necessidade de funcionamento da máquina administrativa).

Os barões do Orçamento, lideranças partidárias e seus agregados, se tornam donos de um pedaço dos dinheiros federais, por lei ou pressão política. Donos. Vide a luta de quem pretende ao menos esclarecer quem manda no dinheiro, para onde vai e com que fim. A redução do butim é ora combate inglório, um problema também para a organização das contas federais.

O feudo que criaram e conquistaram nos anos de enfraquecimento caótico do Executivo (desde 2015) alimenta feudos eleitorais regionais, currais eleitorais e ração para políticos locais agregados. Além de distorcer a destinação de recursos, os barões do Orçamento criam dinastias políticas —distorcem a competição eleitoral.

O que fazer? A PF não pode dar batidas a torto e a direito. O trabalho da CGU indicou que, mesmo em pequena amostra, se puxa uma pena e vem uma galinha. O inquérito da PF para investigar o processo de liberação das emendas, determinado em dezembro por Dino, deve descobrir mais bichos gordos. Mas é preciso mais auditoria.

O governo vai fazer? Gente graúda do Congresso já diz que Dino e Lula estão mancomunados. Se o governo investigar mais, é possível que barões e gangues se revoltem, como fizeram com Dilma Rousseff, de quem queriam ajuda para fugir da polícia.

De onde pode sair um movimento nacional de pressão?

Bruno Boghossian Auto do vale-peru encerra espetáculo de privilégios do Judiciário, FSP

 Nos dias finais de 2024, os tribunais brasileiros encenaram mais um espetáculo de exibição de privilégios. Em três atos, magistrados da primeira à última instância, mostraram o contorcionismo que fazem todos os anos para preservar auxílios, gratificações e indenizações que se somam a seus salários.

A abertura ficou por conta do presidente do STF. Quando a questão dos supersalários tomou forma na discussão sobre o ajuste fiscal, Luís Roberto Barroso reagiu a uma proposta que não deveria ofender ninguém: seguir o que está na Constituição e limitar o valor pago a qualquer servidor público, incluindo juízes.

Como representante da corporação, Barroso declarou que "o Judiciário não tem participação nem responsabilidade sobre a crise fiscal". Acrescentou que o aumento de despesas dos tribunais nos últimos anos foi modesto e indicou que é preciso furar o teto salarial para que os cargos sejam atrativos. Não se pode culpar o ministro por vícios que existem há décadas, mas ele também não precisa enfeitá-los.

A estátua da Justiça, em frente à sede do Supremo Tribunal Federal, em Brasília - Agência Brasil

Por trás da cortina, lobistas dos tribunais já trabalhavam para desfigurar no Congresso a proposta do governo que deveria dificultar o pagamento de benefícios acima do teto. Em pouco tempo, entidades que representam juízes, procuradores e defensores conseguiram emplacar uma versão do texto que praticamente garante os penduricalhos.

A apresentação terminou com o auto do vale-peru, protagonizado pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Nas últimas semanas do ano, a corte determinou o pagamento de um auxílio-alimentação especial de R$ 10 mil para juízes e servidores. O Conselho Nacional de Justiça não engoliu o atrevimento e mandou suspender o mimo dois dias depois.

O tribunal prolongou o vexame e pagou o vale-peru, com o argumento de que a decisão do CNJ não foi informada a tempo. A presidente da corte teve que pedir a devolução do dinheiro e lembrou que o TJ-MT vive um "momento desafiador". A magistrada não precisou dizer com todas as letras que o tribunal, que paga em média R$ 116 mil por mês para cada desembargador, tem três integrantes investigados pela venda de sentenças judiciais.


quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

2025: economia depende da política, Celso MIng, OESP

Atualização: 

A cantoria da virada fala em muito dinheiro no bolso e, na ceia do réveillon, recomendam-se boas garfadas em um prato de lentilhas, com o mesmo objetivo de atrair melhoras na vida financeira. Mas 2025 promete menos, começa mais ranheta do que 2024.

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Lá fora, é Donald Trump na Casa Branca despejando dardos para os quatro cantos da Terra. É mais “America first”, mais protecionismo, mais subsídios à indústria local e mais negacionismo a recobrir a crise ambiental.

Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, avisou que vai acionar menos seu fole dos juros e isso significa menos crescimento econômico global, provável queda nos preços das commodities e valorização do dólar em relação às outras moedas.

China, segunda maior caldeira econômica do mundo, continua a enfrentar problemas na área imobiliária, os quais vêm desacelerando seu dinamismo. E a União Europeia, submetida a fortes solavancos energéticos, enfrenta travas crescentes na sua atividade econômica, a começar pelas suas duas maiores potências: Alemanha e França.

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Para você

Enfim, é o que sumariamente o Banco Central do Brasil quis resumir no comunicado divulgado dia 11, logo após a última reunião do Copom: “O ambiente externo permanece desafiador”.

Aqui no Brasil, não dá para ignorar os avanços da reforma tributária e o aumento da consciência de que não há política social que permaneça em pé sem que se garanta antes solidez na área fiscal.

2025 promete menos e começa mais ranheta do que 2024.

Pois a economia em 2025 deverá passar por novas contorções. O PIB já não avançará os 3,5% de 2024. Provavelmente, o crescimento da atividade econômica não passará dos 2%. Os juros básicos já contratados a 14,25% ao ano a partir de março, um dólar caro, inflação acima da meta, investimento chinfrim, a perspectiva de mais desorganização das contas públicas (rombo fiscal) e alastramento da dívida tendem a aumentar os riscos da economia.

Apesar de tudo, o desemprego deverá continuar em queda ou baixo para os padrões brasileiros. E, em que pesará o maior avanço das importações e da provável contenção do investimento estrangeiro, as contas externas (que registram entrada e saída de moeda estrangeira) deverão continuar robustas. Não é por aí que se pode esperar por uma crise.

Economia e política não dançam isoladas. O resultado das eleições de 2026 dependerá em grande parte do que a economia entregará a partir de 2025.

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Falta saber qual será a escolha do presidente Lula, ele que não faz muita questão de conter as despesas públicas: se tratará de colocar em prática uma política de austeridade destinada a melhorar o ambiente de negócios e de consumo – como aconteceu nos tempos do seu ministro Antonio Palocci; ou se persistirá nessa sua vibe de despejar bondades e recursos públicos, para conquistar a boa vontade do eleitor.