Em 2018, o crescimento do Brasil surpreendeu para muito pior. Meu número há um ano, na coluna homônima, era de 2,8%. O ano deve fechar com crescimento de 1,3%.
A surpresa negativa ocorreu em todas as aberturas. O destaque muito negativo de 2018 será a construção civil, que amargará o quinto ano seguido de recuo. Apesar de o investimento crescer 5%, o setor da construção civil deve recuar 1,8%.
Ainda que fraco, o crescimento de 1,3% de 2018 representa alguma aceleração com relação a 2017, quando o PIB teve alta de 1,1% (mas com 0,6 ponto percentual fruto da recuperação da agropecuária, que cresceu 12,5% no ano passado). Excluindo agropecuária, o crescimento de 2017 para 2018 acelerou-se de 0,5% para 1,3%.
A nota positiva é que a inflação deve fechar o ano em 3,8%, um pouco acima dos 3,5% que eu previra na coluna do fim do ano passado.
O baixo repasse da desvalorização cambial de 22% em 2018 —de R$ 3,2 por dólar americano para R$ 3,9— segurou a inflação. A alta ficou quase integralmente restrita aos preços administrados. Prevíamos elevação de 5% para os administrados, e estes vão subir 6,15%.
É fato que o elevado desemprego contribuiu para conter o repasse cambial, mas certamente a boa reputação da gestão de Ilan Goldfajn à frente do Banco Central também ajudou muito.
A desvalorização do câmbio em 2018 foi um fenômeno internacional. O dólar americano subiu diante das demais moedas, incluindo o euro, que se desvalorizou em 8%.
No entanto, é difícil descartar, apesar de difícil de documentar, que a intensidade da desvalorização por aqui não tenha em parte sido fruto também de nossos problemas domésticos. No caso, o desequilíbrio fiscal estrutural.
Para 2019, nosso cenário contempla crescimento de 2,4%, com inflação de 4% e câmbio estável. É isso que aparece na tela do computador quando apertamos os botões e rodamos os modelos.
No mercado de trabalho, deve ocorrer leve recuperação. A taxa de desemprego cairá de 12,2% em 2018 para 11,9% em 2019. A população economicamente ativa e a população ocupada deverão crescer em 2019, respectivamente, 1,2% e 1,6%.
Enquanto a economia não voltar mais forte, o desemprego não cederá.
Esse cenário foi construído pela equipe do Boletim Macroeconômico do Ibre-FGV, sob a coordenação técnica de Silvia Matos.
A grande interrogação para 2019 é se o Congresso Nacional, sob a liderança de um novo presidente, com o frescor da delegação popular, deixará de fazer greve e cumprirá sua função precípua: o Congresso é a instituição que tem a delegação da sociedade de gerir o conflito distributivo.
Vivemos desde 2014 uma crise fiscal aguda. Há um buraco fiscal de R$ 300 bilhões. Terá que ser tapado por meio de aumento de impostos ou redução de gastos, ou um pouco de cada um.
O Congresso Nacional terá que se debruçar sobre o Orçamento e encontrar bases tributárias novas, incluindo redução de desonerações e aumento de contribuição previdenciária, e reformas que reduzam o gasto.
A Argentina terminará o ano com inflação rodando a 45%. Nosso futuro nos pertence. Podemos tomar o rumo do Chile ou o rumo da Argentina.
Penso que o cenário internacional em 2019 será positivo. O grande ajuste no câmbio ocorreu em 2018.
Assim, se houver uma frustração da política e continuarmos caminhando em direção ao abismo inflacionário, será o crescimento de 2020 que ficará comprometido. O cenário de atividade para 2019 está essencialmente dado.