12.setembro.2013 | 1:06
“Não estamos diante de uma elite que sabe e de um povo que desconhece. O momento é de respeito à pluralidade das identidades culturais e de reconstrução das instituições, para que elas captem e representem o sentimento e os novos interesses da população. Só assim poderemos manter acesa a chama da liberdade, do respeito à representação e da autoridade legítima e evitar que formas abertas ou disfarçadas de autoritarismo e violência ocupem a cena”.
Foi assim, para um lotado Salão Nobre do Petit Trianon, que Fernando Henrique Cardoso encerrou discurso – de exata uma hora – de posse na ABL, anteontem, no Rio. Para ouvidos e olhos atentos dos mais de 200 convidados, entre os quais Alckmin, Aécio, Serra, Marco Aurélio Mello, Henrique Eduardo Alves e Gilberto Gil. Foi, aliás, a primeira vez que o cantor prestigiou uma posse na Academia.
Ausências mais sentidas? Eduardo Paes e Sérgio Cabral – que cancelaram a presença a poucos minutos do início do evento e fizeram o staff da ABL correr para tirar seus nomes das saudações iniciais da cerimônia. Mas já era tarde para desmontar todo o aparato de segurança montado pela PM na porta da Casa de Machado de Assis. Temendo manifestação contra os representantes do Executivo do Rio, a tropa de choque da Polícia fechou a rua que dá acesso à ABL.
Os “imortais” foram obrigados a desembarcar de seus carros a cerca de um quarteirão da entrada principal e caminhar fardados até a sede, levando, ao pescoço, o valioso colar dourado dos acadêmicos. “Para garantir a segurança de alguns, vocês estão colocando em risco a segurança de outros, como eu”, reclamou o “imortal” Tarcísio Padilha, de 85 anos, a um dos policiais.
FHC já falava há meia hora quando o presidente da Câmara dos Deputados chegou – coincidência ou não, no momento em que o ex-presidente iniciou o trecho mais político de sua fala. “O corporativismo que renasce e passa do plano político ao social é o cupim da nossa democracia. Se somarmos impulsos populistas, temos um sistema político enfermo.”
“Um discurso de estadista. Ele falou dos últimos acontecimentos sem paixão, mas com profundidade”, disse Ellen Gracie. A ex-ministra do STF chegou ao Salão Nobre do Petit Trianon quando todas as cadeiras já estavam ocupadas, e houve corre-corre para acomodá-la. “É a popularidade do homenageado”, brincou.
Na outra ponta do salão, Serra encontrou um lugar vago embaixo da caixa de som. Ficou ali por dez minutos, até que foi socorrido e acomodado em uma das cadeiras reservadas aos imortais.
No coquetel, copo de uísque na mão, Marco Aurélio Mello foi abordado por uma senhora, que cobrou o julgamento do chamado mensalão mineiro, que envolve políticos do PSDB. “Quero saber se no mensalão de Minas Gerais vai ter esse fuzuê todo, a opinião pública toda em cima, porque querem matar o PT”, afirmou a senhora, dizendo-se fã de Lula e Dilma. “A opinião pública não influencia o juiz. A senhora certamente não fecha os olhos para desvio de conduta. Temos de aguardar e confiar no Judiciário”, respondeu o ministro – salvo por outro convidado que pedia foto a seu lado.
Enquanto FHC recebia os cumprimentos, sua namorada, Patrícia Kundrát, cuidava para que o mais novo “imortal” não ficasse desamparado. Chegou a parar um garçom e pediu que levasse champanhe e água ao “presidente”. Sorria, agradecia os elogios e posava para as fotos, num longo azul-petróleo.
Embora tenha um sorriso tatuado no braço, Patrícia não sorria o tempo todo. Fechava a cara sempre que assediada por jornalistas. “Imprensa, não. Obrigada, mas imprensa, não”, repetia. /THAIS ARBEX