quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Privatização de 168 estatais poderia render até R$ 500 bilhões, FSP


TAÍS HIRATA
DE SÃO PAULO
Não é só a Eletrobras. É também a Agência de Pesca do Amapá. Não é apenas a Sabesp, em São Paulo, ou a Cedae, no Rio. É a Empresa Baiana de Alimentos, o Jardim Botânico de Brasília ou mesmo a Companhia de Processamento de Dados da Paraíba.
A lista de empresas públicas com potencial para serem privatizadas é longa. Mais precisamente, são 168 estatais e 109 subsidiárias, na União e em todos os Estados.
O potencial de arrecadação, por sua vez, é elevado: gira entre R$ 400 bilhões e R$ 500 bilhões.
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Os dados constam de uma pesquisa realizada pela consultoria internacional Roland Berger. Foram avaliadas 496 estatais. Dessas, 219 ficaram de fora do cálculo, por não serem passíveis de venda ou não terem informações disponíveis —o que quer dizer que o montante poderia ser ainda mais elevado.
O maior potencial de arrecadação estaria no governo federal. Tomando com base um valor de R$ 421 bilhões com as vendas, 71% estariam concentrados na União.
Para ter uma dimensão, os recursos seriam suficientes para cobrir quase três vezes o deficit primário do setor público, segundo o resultado mais recente divulgado pelo Banco Central.
Crédito: FolhapressArte mercado previdência
Arte mercado previdência
O cenário apresentado pelo estudo, porém, é hipotético -não quer dizer que seja factível ou mesmo desejável, segundo Antonio Bernardo, presidente da consultoria no Brasil e na América Latina.
"A ideia foi mostrar o potencial máximo para que o Estado reduza a sua participação no mercado, mas isso pode ser feito de diferentes formas que não necessariamente a venda completa da empresa. Há alternativas como concessões ou uma abertura gradual do capital."
O estudo de fato expõe um cenário drástico, mesmo para os maiores entusiastas.
Dos R$ 421 bilhões de potencial identificado, a maior fatia (47%) viria do setor financeiro, e a maior parte desse valor seria referente à venda da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e do BNDESPar (braço de participação acionária do BNDES) —privatizações que hoje nem sequer são cogitadas e que são, no mínimo, polêmicas.
Em seguida, vêm empresas dos setores de óleo e gás (15%), saneamento básico (15%), transportes (8%) e energia (5%).
Estados com dívidas altas têm bons ativos
Os governos estaduais teriam uma arrecadação de até R$ 121 bilhões com a venda de 132 estatais. O valor seria suficiente para abater cerca de um quinto da dívida pública total das unidades federativas —que era de R$ 604 bilhões em outubro de 2017, segundo o Banco Central.
Há, porém, grande variação entre as regiões. São Paulo responde pela maior fatia do valor —R$ 48 bilhões.
Em seguida, vêm dois Estados que atravessam graves crises fiscais: o Rio de Janeiro (com potencial de levantar R$ 12 bilhões) e o Rio Grande do Sul (R$ 11 bilhões).
Crédito: FolhapressArte previdencia mercado
Arte previdencia mercado
Embora muitos economistas rechacem que a venda de estatais seja usada como forma de apenas fazer caixa, governos com altos deficit tendem a acelerar processos de desestatização, afirma Paulo de Carvalho Lins, pesquisador do Ibre/FGV.
No caso do Rio de Janeiro, por exemplo, o próprio plano de recuperação fiscal firmado com a União exige a desestatização da Cedae, companhia de água e esgoto do Estado —a ideia é que o valor arrecadado seja usado para o pagamento de dívidas.
Para o economista Fabio Giambiagi, as privatizações tiveram um papel importante de minimizar o aumento da dívida pública há quase 30 anos, mas atualmente a situação é diferente.
"O impacto das privatizações de 1990 foi muito contestado, porque a dívida ao fim era muito maior, dando a impressão de que havia se privatizado por nada. Mas isso não quer dizer que [as vendas] não tenham sido úteis. Se não tivessem sido feitas, a dívida seria maior ainda."
Hoje, porém, a situação é diferente, porque a natureza do desequilíbrio fiscal mudou: não está mais associado a um deficit das próprias estatais, e sim ao rombo da Previdência —o que muda a lógica das desestatizações.
Apesar de o tema ser mais palatável hoje, as privatizações ainda sofrem resistência, em especial da classe política, que tem influência sobre as estatais, mas também da opinião pública, que as veem como uma espécie de patrimônio coletivo.
Crédito: FolhapressArte mercado previdência
Arte mercado previdência
"A oposição é grande, porque mexe com feudos políticos e com sindicatos. Para começar a se fazer uma modelagem de venda, as empresas precisam estar engajadas. É preciso ter acesso à documentação e aos dados, o que não é fácil", afirma Mauro Penteado, sócio de infraestrutura do Machado Meyer.
Para analisar as reais vantagens e a viabilidade das privatizações, seria preciso uma análise caso a caso, diz Sérgio Lazzarini, professor do Insper.
"Há estatais boas. Se o objetivo é melhorar, é preciso separar o joio do trigo."
Além disso, antes de pensar na privatização de grandes empresas —principalmente as que têm monopólio do mercado—, é preciso garantir que a regulamentação vigente assegure a concorrência, para evitar novos monopólios ou oligopólios privados, afirma Bernardo.
"A privatização é um processo legalmente complicado, porque é preciso mudar os marcos legais, como mostrou o processo da Eletrobras. Além disso, é preciso fortalecer as agências reguladoras. Sem isso, não haverá privatização boa", diz Lazzarini.
Venda de BB e Caixa renderia R$ 117 bi à União
A privatização de bancos públicos como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal é, de longe, aquela com maior potencial de arrecadação: só com as duas instituições, o valor seria de R$ 117 bilhões —embora essa possibilidade seja hoje remota.
Ao valor, seriam somados outros R$ 63 bilhões com a saída do BNDESPar (braço de participação acionária do BNDES) de empresas privadas.
"Não consideramos a venda do BNDES, já que um banco de fomento naturalmente deve ser público. Agora, na Caixa e no Banco do Brasil há necessidade de ter gestão pública? [Os bancos] têm atividades como gerir o financiamento de habitação e do setor rural que poderiam ir para o BNDES", afirma o presidente da Roland Berger no Brasil, Antonio Bernardo.
Crédito: FolhapressArte mercado previdência
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Para ele, os bancos não são "vendáveis", mas seria possível iniciar um processo de diluição de capital, em que o governo pudesse ter poder de veto —no Banco do Brasil, isso seria mais factível; na Caixa, em que há deficit de capital e maiores problemas de gestão, seriam necessários mais ajustes.
O setor de óleo e gás, dominado pela Petrobras, é outro caso com forte potencial de desestatização —especificamente a Petrobras.
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"A gestão e a governança melhoraram muito, e há movimentos como a abertura de capital da BR Distribuidora [subsidiária da Petrobras]", afirma Bernardo.
Uma privatização da estatal de petróleo, porém, é altamente controversa: tem forte resistência por parte da população, de políticos, sindicatos e mesmo especialistas.
Para Giambiagi, uma privatização da Petrobras não está em cogitação. "Não é uma maluquice, mas não vai acontecer no curto ou médio prazo. Talvez na próxima década."
Um aspecto importante a avaliar é se as empresas privadas promoveriam os mesmos investimentos de risco em pesquisa e desenvolvimento que a estatal de petróleo promove, diz Lazzarini.
"Poderiam até ter linhas de crédito, mas vou conseguir realmente estimular empresas privadas a investir em inovação? No setor automotivo isso foi feito, mas não gerou nada", afirma.
Travadas, vendas no saneamento trariam R$ 61 bi
A privatização de companhias de saneamento básico detém o principal potencial de arrecadação de recursos para os Estados.
A Sabesp, a maior do país, traria R$ 10 bilhões aos cofres do Estado de São Paulo.
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A Cedae, do Rio de Janeiro, avaliada em cerca de R$ 11 bilhões, também poderá gerar um valor relevante caso sua venda seja destravada —pelo atual acordo de recuperação fiscal do Estado, o valor será usado para abater dívidas.
As dez empresas seguintes com os maiores valores do mercado poderiam ser vendidas a uma faixa de R$ 2 bilhões a R$ 5 bilhões cada uma.
A entrada de empresas privadas no setor começou há 20 anos, mas entraves legais impedem o seu avanço, diz Alexandre Lopes, da Abcon (associação das concessionárias privadas do segmento).
Na avaliação de especialistas do setor, além da resistência política, há dificuldade porque as regras são esparsas. Cada Estado faz uma norma específica, e muitos dificultam a participação de entes privados.
Hoje, uma lei específica barra a privatização. Segundo ela, caso o controle da companhia seja transferido, todos os contratos com as prefeituras seriam desfeitos —basicamente, a empresa perderia todos seus ativos.
Com isso, restam as opções de concessões, nas quais o setor privado afirma ter desvantagem, segundo Lopes.
"Para uma empresa estatal firmar contrato com uma prefeitura, não é preciso nenhuma concorrência, enquanto, para uma privada entrar, isso só pode ocorrer por meio de licitação."
Crédito: FolhapressArte capa previdência mercado
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ESTATAIS NA MIRA
Veja alguns dos projetos de privatização em curso nos Estados
SÃO PAULO
Cesp
A privatização da empresa está paralisada deste setembro de 2017, quando o leilão foi cancelado por falta de interessados. O governo paulista aguarda um acordo com a União para prorrogar a concessão da usinas da empresa e tornar os ativos mais atrativos. A Secretaria da Fazenda estadual não passou uma previsão para a conclusão do processo
Sabesp
Prevista para este ano, segundo declarações recentes do governador Geraldo Alckmin, a privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo deverá ocorrer com a criação de uma controladora da qual a Sabesp fará parte e na qual o governo terá participação de 51%. O plano já foi aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado
RIO DE JANEIRO
Cedae
A privatização da empresa é alvo de briga judicial, com liminares travando o processo. A expectativa do governo fluminense é que a venda ocorra ainda em 2018 —a modelagem e a precificação, que estão sendo conduzidas pelo BNDES, começarão até o fim deste mês, segundo a Secretaria da Fazenda do Rio. A desestatização é um dos requisitos exigidos pela União no plano de recuperação do Estado do Rio, e o valor será destinado ao pagamento de dívidas
RIO GRANDE DO SUL
Banrisul
Em grave crise fiscal, o governo gaúcho chegou a colocar parte das ações do banco à venda, em outubro de 2017, mas recuou dois meses depois. A União pressiona pela privatização da instituição, em troca de apoio federal para um plano de recuperação fiscal do Estado. Para isso, porém, ainda será preciso convencer parlamentares a alterarem a Constituição gaúcha, que exige a realização de um plebiscito em caso de venda de estatais. O governo estadual não respondeu à reportagem sobre um prazo para a conclusão do processo
PARANÁ
Sanepar
Listada na Bolsa, a Companhia de Saneamento do Paraná foi cogitada para privatização no fim de 2016. À época, o BNDES, que tem conduzido o programa federal de concessões no setor, anunciou que o Paraná havia formalizado seu interesse em participar. O processo, porém, não foi adiante, e o governador tucano Beto Richa já descartou a venda em declarações públicas. Procurada, a Secretaria da Fazenda do Estado afirma que de fato "não há nenhuma intenção de vender o controle acionário da Sanepar"
MINAS GERAIS
Cemig
Desde o primeiro semestre de 2017, a Companhia Energética de Minas Gerais passa por um plano de desinvestimentos -que, no entanto, não tem sido facilmente aceito pelos parlamentares mineiros e sindicato dos trabalhadores da empresa. O leilão de quatro de suas usinas passou por uma briga judicial de quatro meses, até a realização do certame, em setembro do ano passado. Também está inclusa no plano a venda de participações acionárias na Gasmig (companhia de gás do Estado), na distribuidora de energia Light, na transmissora Taesa, entre outros ativos

    terça-feira, 28 de agosto de 2018

    No JN, Bonner e Renata deram uma plataforma de tiro a Bolsonaro. Por Raymundo Gomes, DCM

    Bolsonaro no Jornal Nacional
    POR RAYMUNDO GOMES
    “Parece uma plataforma de tiro de artilharia”, disse Jair Bolsonaro ao entrar no estúdio da Globo.
    William Bonner o “tranquilizou”, como se isso fosse necessário. Mas o que o apresentador do Jornal Nacional não sabia é que os alvos do fogo pesado seriam ele mesmo e a colega Renata Vasconcellos.
    Que Jair Bolsonaro tenha jantado os mal preparados apresentadores da bancada do Jornal Nacional, na entrevista desta terça, é péssimo sinal para o jornalismo.
    A culpa, porém, é da Globo e da pusilanimidade conivente da grande mídia brasileira.
    Depois de anos sem denunciar o extremismo fascista, obcecado com o “lulodilmismo” e o PT, Bonner e Renata ficaram vários momentos em resposta diante de Bolsonaro.
    Ouviram-se frases surpreendentes da boca dos apresentadores do Jornal Nacional. Bonner chegou a falar que “a PEC dos Deomésticos dignificou a profissão de milhões de trabalhadores brasileiros”, constatação que o JN jamais fez nos últimos cinco anos.
    Nervosa, Renata acusou Bolsonaro de “relacionar pedofilia com homossexualismo”, obrigando Bonner a corrigi-la de imediato (“A palavra é homossexualidade. Renata foi literal na transmissão do que o senhor disse”).
    Bonner disse que “nas favelas brasileiras a imensa maioria dos moradores é de gente honesta, trabalhadora”, afirmação que em si embute preconceito (é preciso mesmo afirmar isso?).
    Diante de temas tão previsíveis, Bolsonaro tinha as respostas na ponta da língua. Contra-atacou explorando os telhados de vidro da Globo.
    Insinuou que a emissora não assina a carteira de trabalho dos entrevistadores, que recebem como pessoa jurídica (PJ). A “pejotização” é um fato.
    Tirou sarro do divórcio de Bonner e até do assalto à casa do jornalista, em 2005.
    Apontou a incoerência da Globo, ao atacá-lo por defender que as mulheres ganhem o mesmo que os homens – o mau exemplo estava ali, na frente dele: Bonner recebe mais que Renata Vasconcellos.
    A apresentadora devolveu que jamais aceitaria receber menos para cumprir a mesma função. Não convenceu.
    Por fim, Bolsonaro sacou da manga o apoio da Globo à ditadura, num trecho da entrevista que seria cômico, se não fosse trágico:
    — Fico com o que Roberto Marinho disse em 7 de outubro de 2014…”, começou JB.
    — O senhor vai repetir…, respondeu Bonner com ar desolado.
    — Vou repetir aqui. Roberto Marinho foi ditador ou democrata?
    — Candidato… nós aqui trouxemos para a mesa o candidato. Já houve editorial sobre isso, mas nós vamos encerrar agora por causa do tempo.
    Ao final do JN, Bonner leu mais uma vez o já famoso editorial que Miriam Leitão tartamudeou na Globo News, em que a emissora justifica seu injustificável posicionamento.
    Bolsonaro teve momentos ruins, e não foram poucos. Ficou evidente o caráter homofóbico e misógino de suas “ideias”. Provavelmente a entrevista não fará com que ele ganhe ou perca nenhum eleitor. Cada um sairá vendo o que quis ver.
    Mas ficou evidente que a fórmula de abordar os candidatos explorando “pegadinhas” e derrapadas em frases antigas, usada nas eleições anteriores, envelheceu.


    Na véspera, Ciro Gomes já havia se saído muito bem evitando as cascas de banana estendidas pela dupla, que estava bem mais exaltada.

    Alckmin frustra produtores e empresários ao falar de violência em Caxias do Sul, FSP

    Thais Bilenky
    CAXIAS DO SUL (RS)
    O candidato a presidente Geraldo Alckmin (PSDB) frustrou produtores rurais e empresários ao responder sobre o combate à violência nesta terça-feira (28).
    Mesmo entre uma plateia amigável em palestra na Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul (RS), a meta de redução do índice de homicídios do tucano causou burburinho.
    Citando critério da OMS (Organização Mundial de Saúde), segundo o qual mais de 10 assassinatos por 100 mil habitantes é epidemiologia, ele calculou o limite aceitável para a cidade.
    O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, cumpre agenda de campanha no Rio Grande do Sul
    O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, cumpre agenda de campanha no Rio Grande do Sul - Ciete Silvério - 28.ago.2018/Divulgação
    “Caxias arredondando tem 500 mil habitantes [são 435 mil, segundo o IBGE]. Não pode ter mais de 50 homicídios por ano. Se passar disso...”, afirmou Alckmin do palco.
    Os empresários e produtores rurais se agitaram nas cadeiras.
    Segundo o último Atlas da Violência, Caxias teve 35,5 assassinatos por 100 mil habitantes —o que corresponde a quase 155 homicídios no ano.
    “No Brasil, foram assassinadas 63 mil pessoas”, observou o tucano, que então mudou o tom.
    “Mas eu quero trazer para vocês uma mensagem de esperança e confiança. O copo é meio vazio, está cheio de problemas, mas também está meio cheio”, afirmou.
    Para Daniel Bampi, 42, presidente da Câmara de Indústria e Comércio de Farroupilha, também na Serra Gaúcha, a exposição de Alckmin sobre o tema foi tímida.
    “Se não mudar a lei, tu sabes que não tem cura”, afirmou defendendo o porte de arma pela população civil. “É preciso, porque o bandido está armado.”
    Ele disse que a mudança poderia provocar aumento de crimes banais, “só que, com o índice de criminalidade que a gente, tem isso vai ser pouco representativo”.
    Bampi disse concordar com Jair Bolsonaro (PSL) na área de segurança. “É um discurso bastante enfático, porém realista. É difícil falar com alguém cujo principal medo não seja a segurança”, resumiu.
    O produtor ponderou, entretanto, que o capitão não teria força no Congresso para emplacar mudanças e por isso tende a votar em Alckmin.
    Com discurso linha-dura, o capitão reformado ganhou amplo apoio no Sul. Segundo o Datafolha, tem 28% da intenção de voto; Alckmin, 5%.
    Em sua palestra, o ex-governador paulista mencionou a redução da taxa de homicídio sob sua gestão e defendeu a propriedade privada.
    “São Paulo tinha 13 mil homicídios por ano em 2001. No ano passado, foram 3.503 homicídios”, ressaltou.
    Contra o “problemão da insegurança jurídica”, o tucano disse que, “em SP, invadiu, desinvadiu. É automático. Não há hipótese de decisão judicial não ser cumprida ou nós não queremos viver em democracia”.
    Alckmin reeditou frase em geral atribuída a Pedro Malan, associando-a a outro ex-ministro. “Delfim Netto diz que o Brasil é o único lugar do mundo onde o passado é imprevisível”, disse.
    Listando medidas para a segurança no campo e nas cidades, o candidato criticou o governo Michel Temer (MDB).
    “O país tem 17 mil quilômetros de fronteira seca. Tráfico de droga, tráfico de arma, contrabando, descaminho, as fronteiras estão abertas. Só com tecnologia [controla]”, declarou.
    Aproximou o discurso à audiência.
    “Nós sabemos por onde anda o cigarro contrabandeado. Por que não age? Todo mundo sabe que é sobre o rio Paraná, que vem do Paraguai, que produz oito vezes mais do que consome e não exporta. Onde está o governo, que não toma providências?”
    Prometeu criar uma guarda nacional, “e o Rio Grande vai ser muito beneficiado porque é um estado de fronteira”.
    Para Luiz Raimundo Tomazzoni, diretor do Grupo GPS, de segurança privada, Alckmin “ainda não atingiu os objetivos, o povo brasileiro espera muito mais”.
    “Precisa criar um movimento que ataque a criminalidade, prendendo as pessoas e os presídios, que façam seu papel de recuperá-las, não adianta serem faculdades do crime”, defendeu.
    Tomazzoni, porém, apoiou o tucano. “É um momento de dificuldade, logo ali na frente ele consegue fazer alguma coisa, sim”, afirmou.
    Para o empresário, a retórica bolsonarista não surtirá efeito prático.
    “Não concordo com Bolsonaro. O que diz é o que as pessoas gostariam de ouvir, mas no fundo não tem o resultado que o povo espera.” 

    Após denúncia, Alckmin diz que aliança com PTB é institucional

    Aplaudido por empresários ao criticar o número de sindicatos no país (17 mil), o candidato Geraldo Alckmin se esquivou se comentar a denúncia da cúpula do PTB, seu aliado.
    “Você faz alianças com partidos, não faz com pessoas”, afirmou nesta terça-feira (28), em Caxias do Sul (RS). “Tem boas pessoas em vários partidos.”
    “O que eu quero deixar claro é que o sistema está errado. É tão estranho ter 11 mil sindicatos de trabalhadores como ter 5.700 patronais também”, disse. “O cartório vale para os dois lados.”
    Já em Porto Alegre,  o tucano também não quis comentar a análise pelo Supremo sobre tornar Jair Bolsonaro (PSL) réu pela terceira vez, agora por racismo.
    A cúpula do PTB, incluindo o presidente Roberto Jefferson e sua filha Cristiane Brasil, foi denunciada por organização criminosa na Operação Registro Espúrio na segunda (27).
    A suspeita é que eles vendiam registros sindicais.
    O PTB foi um dos primeiros partidos a anunciar apoio a Alckmin. Em julho, ele elogiou Jefferson.
    "O Roberto, desde a primeira vez que eu liguei pra ele para agradecer sua declaração nos jornais de que eu era o melhor candidato, há meses, até hoje não pediu nada, absolutamente nada. Nosso compromisso é com o Brasil", afirmou à época.

    Arma no campo
    Em almoço com grandes ruralistas, nesta terça (28), o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) subiu o tom na questão da segurança no campo.
    Na feira​ de agronegócio Expointer, em Esteio (RS), o tucano afirmou que destrinchou as razões pelas quais o porte de arma deve ser facilitado no campo.
    Aplaudido diversas vezes, o tucano foi chamado de presidente do Brasil por Gedeão Pereira, presidente da Farsul (Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul).
    “Porte de arma na propriedade não tem nenhum problema. Conflitos agrários nós temos que trabalhar segurança jurídica. A questão fundiária a gente resolve fazendo regulamentação”, afirmou.
    A receptividade foi diferente daquela em Caxias do Sul mais cedo, quando a fala mais ponderada do tucano frustrou empresários presentes em sua palestra.
    O adversário Jair Bolsonaro (PSL) conquistou apoio do setor com retórica contra bandidos e pelo armamento.
    “É diferente quem vive no campo de quem vive na cidade. Na cidade você disca 190 e, em questão de minutos, a polícia está na porta. Na área rural você está distante, dezenas de quilômetros”, comparou Alckmin.
    Ele não explicou como funcionaria a legislação.
    O ex-governador paulista afirmou que domou o problema fundiário em seu estado. “O Pontal do Paranapanema era um barril de pólvora e quase desapareceu o conflito”, bradou.