quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Doenças transmitidas pelo Aedes causaram prejuízo de mais de R$ 2 bi em 2016, aponta estudo, OESP



Trabalho levou em conta três tipos de custos: de combate ao mosquito; os médicos, para diagnóstico e tratamento das doenças; e os indiretos, pela falta ao trabalho por causa da doença e consequente perda da produtividade






Giovana Girardi, O Estado de S.Paulo
30 Janeiro 2018 | 11h00
Atualizado 30 Janeiro 2018 | 22h36
O avanço pelo Brasil de três doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti em 2016 causaram ao País um prejuízo de pelo menos R$ 2,3 bilhões – um impacto de 2% no Produto Interno Bruto (PIB). Juntas, dengue, zika e chikungunya somaram naquele ano cerca de 2 milhões de casos, um drama para a saúde pública que trouxe também prejuízos econômicos. É o que aponta um estudo feito pela consultoria Sense Company, que faz análises econômicas para empresas farmacêuticas e realizou este trabalho sob encomenda da Oxitec, produtora de Aedes transgênicos.

O trabalho levou em conta os custos de combate ao mosquito (por repasse de recursos federais para larvicidas e inseticidas, por exemplo), os custos médicos para diagnóstico e tratamento das doenças e os custos indiretos, pela falta ao trabalho por causa da doença e consequente perda da produtividade. 
O valor é considerado pelos próprios autores como conservador, uma vez que não levou em conta prejuízos de longo prazo com a microcefalia e outras doenças neurológicas, por exemplo, nem com a morte de alguns pacientes. 

Doenças transmitidas pelo Aedes causaram prejuízo de mais de R$ 2 bi em 2016, aponta estudo
O trabalho levou em conta os custos de combate ao mosquito, os custos médicos para diagnóstico e tratamento das doenças e os custos indiretos Foto: REUTERS/Josue Decavele
"Representa o mínimo impacto que as doenças tiveram em 2016. É daí para cima", afirma Vanessa Teich, professora do Insper, fundadora da Sense Company e líder do estudo. "Se pensarmos que significa 2% do PIB, é um custo relevante de doenças que poderiam ser evitadas. É um gasto importante que poderia ser investido em outros fins, em outras áreas de saúde mesmo", defende.
O combate ao vetor representou a maior fatia dos custos – 64,6% (R$ 1,47 bilhão). Custos médicos diretos responderam por 16% do total (R$ 374 milhões) e os indiretos, por 19% (R$ 431 milhões). Os resultados, divulgados nesta terça-feira, 30, serão publicados no Jornal Brasileiro de Economia da Saúde.
Segundo Vanessa, os dados refletem ainda um outro complicador – os gastos não têm efeito de longo prazo, de modo a assegurar o País contra novos surtos das doenças. Foram todos emergenciais. "Não vimos nenhum custo estrutural, que pudesse ser categorizado como investimento. São gastos em larvicidas, nos agentes de combate às endemias. Houve investimento em criar os centros de reabilitação para quem teve complicações de zika. Mas ainda terá de ter manutenção. É tudo para ações emergenciais", explica.
O trabalho considerou também os gastos por Estados. Minas Gerais foi o campeão, com perdas de R$ 323.937.946, seguido de São Paulo, com R$ 255.470.166. O Nordeste, região mais afetada pela zika, somou R$ 761 milhões. 
"O impacto para cada lugar tem a ver com a ocorrência total de casos e também com a composição de casos, se de dengue, chikungunya ou de zika. Em 2016, em Minas foram notificados 528 mil casos só de dengue. Houve uma discrepância ali. Já o Nordeste apareceu com uma perda não tão alta, porque o custo tratamento agudo do zika não é dos mais caros e não conseguimos fazer uma estimativa de gastos futuros com a microcefalia. Se a gente incluísse os custos dessas complicações, certamente o peso desses Estados aumentaria também", afirma Vanessa.

Riscos futuros

Para Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, o número apresentado no estudo é importante e deveria servir como alerta para que se promova mudanças no panorama atual. “2016 foi um ano com um número muito grande de casos, mas as doenças continuam aí, a epidemia de zika ainda está acontecendo”, diz. 
“Acredito que a tendência é piorar, porque não vamos erradicar o mosquito com o modelo de urbanização que temos, que concentra muita gente em grandes metrópoles, com problemas de saneamento básico, impermeabilização e menos áreas verdes”, complementa.
Timerman lembra que todas essas condições favorecem a proliferação dos mosquitos. “Chuvas como estão ocorrendo em São Paulo, que geram inundações, são propícias para a eclosão dos ovos de Aedes aegypti. O zika ainda não foi superado. Talvez não tenha o impacto que teve do Nordeste, mas ainda estamos por ver o que vai ocorrer no Sudeste e Centro-Oeste. A circulação dos vírus atinge o ápice em março e abril. Não sabemos o que vai acontecer neste ano”, alerta.
Ele comenta ainda que os gastos com combate ao mosquito são apenas emergenciais. “É preciso fazer o combate em termos estruturais, com investimento em saneamento básico. Do contrário, vai ficar se gastando emergencialmente com fumacê”, diz.

Outro lado

O Ministério da Saúde disse desconhecer a metodologia usada na pesquisa. Por meio de nota, afirmou que, "com relação aos investimentos, em 2017, o orçamento de vigilância em saúde aos estados foi de R$ 1,93 bilhão". Disse também que "o recurso é repassado mensalmente a estados e municípios. Além disso, desde novembro de 2015 foram repassados cerca de R$ 465 milhões para pesquisas e desenvolvimento de vacinas e novas tecnologias".

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