domingo, 29 de março de 2015

Dengue faz morador evitar até visita a parente em São Paulo


O surto de dengue em São Paulo tirou a população da rotina. Desentendimentos entre vizinhos, famílias separadas, visitas "apavoradas" ao pronto-socorro e roupas de inverno no calor são alguns dos "sintomas sociais" que a doença causou.
Em Sorocaba (SP), são tantos casos que moradores desconfiam, por engano, que a dengue seja contagiosa (leia na pág. C3). No Estado, já são 80.283 casos e 70 mortes. Em todo o ano passado, foram 197 mil casos e 90 mortes. Considerando o país todo, o número de infectados até março subiu 162% em relação ao mesmo período de 2014.
O empresário Jorge Pereira, 31, de Osasco (Grande SP), procura se proteger, mas a vizinhança não colabora. Gastou R$ 400 em calha e tampa para a caixa-d'água do vizinho, seu amigo de infância.
Mas ele fez corpo mole. "Tinha até rato no quintal. Batemos boca várias vezes", contou. A situação só se resolveu quando o amigo se mudou.
O cabeleireiro Tiago Lopes, 28, e o sócio, César Oliveira, 38, perderam um cliente, que contraiu a doença e acusou o salão de criadouro de Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue.
Localizado em um dos bairros mais afetados da capital paulista, a Brasilândia (zona norte), o salão foi dedetizado, mas continuou com insetos. "São preto e branco, com cara de mal e tudo", descreve Lopes, segurando uma raquete elétrica de matar pernilongo, em referência às cores do Aedes aegypti.
Zanone Fraissat/Folhapress
SAO PAULO/SP-BRASIL,26/03/15 - Thiago Lopes, Cabelereiro no bairro da Brasilandia, muda seu comportamento por causa da dengue, ele agora trabalha com uma raquete eletrica sempre ao seu lado, para matar mosquitos.(Foto: Zanone Fraissat / FOLHAPRESS/COTIDIANO) ORG XMIT: AGEN1503261555539040
Tiago Lopes, Cabelereiro no bairro da Brasilandia, muda seu comportamento por causa da dengue
No caso da costureira Idalina Chagas, 58, quem se afastou foi a filha. Idalina mora num terreno com seis casas na Brasilândia. Onze moradores estão com a doença.
A modelista Suzete Chagas, 36, está com "muito medo" de visitar a mãe. A filha de três anos está com suspeita de dengue. "É triste, né?", desabafou a costureira.
O comerciante Nelson Fernandes, 68, de Osasco, tem pressão alta. Há 15 dias, teve dores de cabeça e no corpo e ficou apavorado. "Me mandei para o pronto-socorro. Melhor tirar a dúvida." Deu negativo.
O comerciante Antônio Serafim, 39, teve dengue no Carnaval e passou a usar calça, camisa de manga comprida e tênis dentro de casa, no Mandaqui (zona norte), faça frio ou faça calor.
Dez alunos deixaram de frequentar a autoescola de Ronaldo de Souza, 47, morador de Pirituba (zona norte), porque contraíram dengue. O proprietário, a afilhada, o pai, um vigia e uma faxineira tiveram a doença.
A dona de casa Marize Florêncio, 61, está obcecada. "Espio tudo da janela: o toldo do vizinho, as pocinhas na rua."
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Seis reações de moradores à dengue:
1. A modelista Suzete Chagas, 36, tem evitado visitar a mãe, que mora em um terreno na Brasilândia (zona norte) onde onze moradores estão com dengue.
2. O empresário Jorge Pereira, 31, de Osasco (Grande SP), acabou se desentendendo com o vizinho depois de gastar R$ 400 em tampa de caixa d'água para o amigo de infância.
3. O cabeleireiro Tiago Lopes, 28, dedetizou seu salão, mas não escapou dos pernilongos. Vive com uma raquete mata-mosquito a postos.
4. O comerciante Antônio Serafim, 39, passou a usar calça, camisa de manga comprida e tênis dentro de casa, no Mandaqui (zona norte), faça frio ou faça calor.
5. A dona de casa Marize Florêncio, 61, passou a espiar pela janela o comportamento do vizinho, se sua calha acumulou água e se o toldo está molhado.
6. Moradores passaram a fazer visitas a postos de saúde, a qualquer indício de dengue. O comerciante Nelson Fernandes, 68, de Osasco, acordou com dores de cabeça e no corpo e foi para o pronto-socorro. Os exames deram negativo. 

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