O ESTADÃO - 02/06
Certos analistas estranharam a decisão do Banco Central, tomada quarta-feira, de redobrar a dose dos juros básicos (Selic), mesmo após saber que o avanço do PIB do Brasil no primeiro trimestre fora uma enorme decepção.
Pareciam entender que, no caso de uma atividade econômica fraca, os juros devessem cair – não subir e, menos ainda, o dobro do que subiram no mês anterior –, como se o Banco Central estivesse obrigado a executar o que muitos no governo entendem erradamente como política anticíclica.
Os analistas aparentemente não enxergam que, neste momento, a inflação se tornou problema mais grave do que o PIB magricela. A inflação alta é uma das causas do baixo desempenho da atividade econômica.
Essa foi, aliás, a advertência feita, também na quarta-feira, horas antes da tomada de decisão do Copom, pela gerente de Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. Ela chamou a atenção para a corrosão do poder aquisitivo e, portanto, do consumo das famílias, importante componente do PIB, causada pela inflação.
É uma eloquente refutação prática do ponto de vista de que “um pouco de inflação sempre ajuda no crescimento”. Às vezes, até funciona como dopping, mas sempre tende a atacar a saúde do organismo econômico. Segue-se que, ao combater a inflação com sua política monetária (política de juros), o Banco Central concorre para criar condições para o crescimento econômico sustentável, e não o contrário. Mas isso não é tudo.
Há os que argumentam que um banco central não pode limitar-se estrabicamente a combater a alta de preços; deve trabalhar, também, para proporcionar crescimento econômico. Este ponto de vista também é um desvio do que deve ser o regime de duplo mandato, caso do Fed, banco central dos Estados Unidos.
Antes de tudo, o segundo mandato dos bancos centrais (o primeiro é combater a inflação), quando há, não é garantir o crescimento, mas assegurar o emprego, o que não é a mesma coisa. No Brasil, por exemplo, temos um combalido crescimento com pleno emprego. Mais ainda, o excessivo aquecimento do mercado de trabalho vem sendo uma das principais causas da inflação, não só porque aumenta os custos de produção, mas, também, porque cria renda acima do aumento da produtividade da economia. Quem há meses está denunciando essa situação é o Banco Central.
Vistas as coisas por outro ângulo, o mercado de trabalho excessivamente pressionado, como hoje no Brasil, é um forte limitador da atividade econômica; derruba o chamado crescimento potencial. Quem não entende isso, que tente responder à seguinte pergunta: se mesmo com um crescimento merreca, como o de agora, há escassez de mão de obra no Brasil, especialmente a qualificada, o que não estaria acontecendo no mercado de trabalho se o PIB estivesse avançando os 4,0% ou 4,5% ao ano, como quer o governo?
Finalmente, se a política de juros fosse manobrada no sentido de aumentar ainda mais o emprego, estaria concorrendo para aumentar a inflação e, mais à frente, para prejudicar ainda mais o desempenho da atividade econômica.
Certos analistas estranharam a decisão do Banco Central, tomada quarta-feira, de redobrar a dose dos juros básicos (Selic), mesmo após saber que o avanço do PIB do Brasil no primeiro trimestre fora uma enorme decepção.
Pareciam entender que, no caso de uma atividade econômica fraca, os juros devessem cair – não subir e, menos ainda, o dobro do que subiram no mês anterior –, como se o Banco Central estivesse obrigado a executar o que muitos no governo entendem erradamente como política anticíclica.
Os analistas aparentemente não enxergam que, neste momento, a inflação se tornou problema mais grave do que o PIB magricela. A inflação alta é uma das causas do baixo desempenho da atividade econômica.
Essa foi, aliás, a advertência feita, também na quarta-feira, horas antes da tomada de decisão do Copom, pela gerente de Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. Ela chamou a atenção para a corrosão do poder aquisitivo e, portanto, do consumo das famílias, importante componente do PIB, causada pela inflação.
É uma eloquente refutação prática do ponto de vista de que “um pouco de inflação sempre ajuda no crescimento”. Às vezes, até funciona como dopping, mas sempre tende a atacar a saúde do organismo econômico. Segue-se que, ao combater a inflação com sua política monetária (política de juros), o Banco Central concorre para criar condições para o crescimento econômico sustentável, e não o contrário. Mas isso não é tudo.
Há os que argumentam que um banco central não pode limitar-se estrabicamente a combater a alta de preços; deve trabalhar, também, para proporcionar crescimento econômico. Este ponto de vista também é um desvio do que deve ser o regime de duplo mandato, caso do Fed, banco central dos Estados Unidos.
Antes de tudo, o segundo mandato dos bancos centrais (o primeiro é combater a inflação), quando há, não é garantir o crescimento, mas assegurar o emprego, o que não é a mesma coisa. No Brasil, por exemplo, temos um combalido crescimento com pleno emprego. Mais ainda, o excessivo aquecimento do mercado de trabalho vem sendo uma das principais causas da inflação, não só porque aumenta os custos de produção, mas, também, porque cria renda acima do aumento da produtividade da economia. Quem há meses está denunciando essa situação é o Banco Central.
Vistas as coisas por outro ângulo, o mercado de trabalho excessivamente pressionado, como hoje no Brasil, é um forte limitador da atividade econômica; derruba o chamado crescimento potencial. Quem não entende isso, que tente responder à seguinte pergunta: se mesmo com um crescimento merreca, como o de agora, há escassez de mão de obra no Brasil, especialmente a qualificada, o que não estaria acontecendo no mercado de trabalho se o PIB estivesse avançando os 4,0% ou 4,5% ao ano, como quer o governo?
Finalmente, se a política de juros fosse manobrada no sentido de aumentar ainda mais o emprego, estaria concorrendo para aumentar a inflação e, mais à frente, para prejudicar ainda mais o desempenho da atividade econômica.
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