sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Quando crescimento da economia nada tem a ver com padrão de vida


do site Opinião & Notícia

O fato é que não somente a sigla PIB revela a saúde de uma nação, outras três letrinhas dizem muito mais sobre padrão de vida: o IDH. Por Claudio Carneiro

11/01/2012 | Enviar | Imprimir | Comentários: 5 | A A A
Os constantes recuos – foram seis – das projeções do mercado sobre o crescimento do Produto Interno Bruto brasileiro para 2011 – estimado agora em 2,87% – e a previsão do boletim Focus do Banco Central de redução da expectativa do mesmo PIB também para 2012, próximo dos 3,3% ou 3,4%, mostram como a mudança de humor da economia brasileira depende sempre, e cada vez mais, de chuvas e trovoadas fora do território nacional – mesmo que a presidente Dilma se esforce em dizer o contrário.
Quando 2011 apenas engatinhava, tanto o BC quanto o mercado acenavam para números próximos de 4,5%. Mas bastou a economia norte-americana patinar nos últimos dias de julho e Barack Obama conseguir elevar o teto da dívida – naquele estranho três de agosto – graças a um acordo com os republicanos, para que o mundo virasse de pernas para o ar. Para piorar, agências de classificação de risco como a Fitch, a Moody’s e a Standard & Poor’s chegaram a ameaçar o Triple A dos Estados Unidos. A crise europeia fez o velho continente sangrar – houve ali rebaixamentos – e não sabemos se a ferida cicatrizou.
Ao passarmos a Inglaterra para ocupar o posto de sexta economia do mundo, o ministro da Fazenda Guido Mantega afirmou de forma, digamos, precipitada – porque irresponsável não lhe cabe – que, em 20 anos, o Brasil terá um padrão de vida melhor que o da Inglaterra. Não é o crescimento da economia que determina o padrão de vida de um povo.
A incerteza da economia norte-americana e a crise da moeda europeia mexeram sim, e muito, no nosso bolso e na expectativa de crescimento do país. Tomemos como exemplo a Noruega – que teve um PIB de US$ 257,9 bilhões em 2008, de US$ 254,2 bilhões em 2009 e de US$ 255,3 bilhões em 2010. A análise fria dos números revela aumento e queda próximos de um ponto percentual. Ou seja, a Noruega está estagnada, certo? Errado. Por outro lado, o belo, forte e impávido colosso somou, em 2010, quase redondos US$ 2 trilhões (pelo câmbio atual).
Diferenças entre Noruega e Brasil
Ao falar em padrão de vida, o ministro misturou alhos com bugalhos. Essa mania de jogar para a torcida é um grande erro. Sob o olhar equivocado do ministro se poderia dizer que Noruega e Brasil têm pautas muito semelhantes em sua bolsa de produtos de exportação: trigo, batata, aves, bovinos e suínos no âmbito da agropecuária; petróleo na mineração ou ainda máquinas e eletrodomésticos na indústria, por exemplo.
O fato é que não somente a sigla PIB revela a saúde de uma nação. Outras três letrinhas dizem muito mais sobre padrão de vida. A Noruega – outra vez ela – lidera o ranking que o italiano Mantega e os demais brasileiros enxergam de muito longe. Três letras (IDH) que diagnosticam a saúde econômica e – aí sim – o padrão de educação, renda e expectativa de vida de um povo. Se fosse uma largada de corrida de Fórmula 1, talvez sequer notássemos o piloto norueguês disparar na frente. Afinal, largar do 84º lugar – tendo o Equador na mesma fila e os ariscos São Vicente e Granadinas e Armênia na fila de trás – não é o perfil de um gigante pela própria natureza.
Também em relação a dinheiro no bolso, noruegueses deixam brasileiros comendo poeira. Enquanto a renda per capita desse vizinho da Rússia, Finlândia e Suécia atingiu os US$ 56.147 em 2010, ficamos aqui, no florão da América, contando nossas moedinhas para ficarmos com meros US$ 10.814 no mesmo período.

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