quinta-feira, 28 de abril de 2011

Águas futuras

28/04/2011 - 07h08


Na última terça-feira foi o Rio que ficou debaixo d'água. As imagens logo remeteram às enchentes do início do ano. Sabíamos que, passadas as águas de março, o tema vai para gaveta, e retorna no verão seguinte. Todos aqueles planos, promessas, propostas, aqueles pedidos de liberação de verbas para emergências, que inundaram as telas da TV se calam, em um clique de botão, e a sociedade, conformada, espera, a repetição.
Todavia as chuvas não mais respeitam estação. E o Rio, submergiu.Na cobertura, surge o secretário que assume não ter conseguido realizar a previsão a tempo de avisar o povo. Tudo por água abaixo.
Parece aqueles filmes épicos que se repetem nos feriados de Páscoa e Natal; Ben-Hur, com a corrida de bigas; Charleston Heston, pela enésima vez. E as reportagens de feriadões, do Carnaval, com as mesmas filas, imagens e declarações.
Mas há solução sim. Nada que seja panaceia nem bala de prata que, em passe de mágica, resolva tudo. Primeiro, é questão mesmo de atitude, de cobrar, de perseverar, de não se conformar e de agir. Cada um fazer a sua parte e não ficar no comodismo da reclamação como se houvesse um semideus de plantão a resolver tudo. E há ideias, algumas já apresentadas por várias frentes que ficam sem resposta, sem a gente saber por que não são implantadas.
O exercício de acolher as sugestões, aplicá-las, avaliá-las não só atinge os resultados que elas proporcionam, como criam corrente positiva de soluções, interação com a sociedade, um clima a favor. Para não restarmos só a lamentar.
Podem ser pequenas coisas, mas que mudem hábitos. Podem ser projetos médios que, uma vez feitos, suscitem a vinda de outros formando uma cadeia regeneradora e criativa.
Hoje, destaco as calçadas verdes (sugestão enviada por Edson Martins e Fernando Nassif, por e-mail).
Luiz Carlos Murauskas - 31.mar.2011/Folhapress
Calçada verde na rua Manuel Pinto de Carvalho, no bairro do Limão, na zona norte de SP
Calçada verde na rua Manuel Pinto de Carvalho, no bairro do Limão, na zona norte de São Paulo
CALÇADAS VERDES
Foram introduzidas, segundo consta, no início do século 20, pela Cia. City, nos loteamentos do Jardim América, Pacaembu e City Lapa. Eram obrigatórias. Durante décadas, constituíram-se em paisagem fantástica, conforme documento Calçadas Verdes e Acessíveis de Gilmar Altamirano, José Roberto Andrade Amaral e Paulo Sérgio Silva --iniciativa da APPA (Associação Pompeia de Preservação Ambiental) com apoio da Secretária Municipal do Verde e do Meio Ambiente e Universidade da Água. Mas, limitaram-se ao setor rico da cidade. Por que a periferia não pode tê-las também?
Em 1972, a Lei do Zoneamento de São Paulo acabou com a obrigatoriedade nesses locais.
Em vez de estender aos mais pobres, nivelou-se pelo negativo: nem para pobres nem para ricos. Sem calçadas verdes,que hoje são exceções. Temos um bom exemplo na rua Mercedes, na Lapa, e em pequeno trecho na Faria Lima, perto do cruzamento com a Juscelino, sentido Pinheiros-Itaim. Além de mais bonitas, ajudam significativamente na drenagem da água da chuva. Não resolvem enchentes, porém minimizam seus efeitos. E é assim que se vai avançando.
Os canteiros centrais de várias avenidas também poderiam ser gramados. O projeto original da arquiteta Rosa Kliass, na Paulista, era gramado. Um radialista, segundo a história contada pelo documento citado, passou a protestar porque a travessia o levava a pisar na lama!!!
Óbvio que ele estava atravessando fora da faixa de pedestres, de forma anárquica. E venceu. Pavimentaram o canteiro. É o tipo de postura que muda a cidade para pior. E é absorvido sem a gente saber o motivo.
Calçadas verdes não são panaceia, como disse. Mas embelezariam a cidade, principalmente a periferia, que é tão inóspita, e ajudariam na drenagem. Melhor que o mar de asfalto. E podem ser feitas pela própria população, responsável pelos passeios em frente das residências.
É só seguir a cartilha da Prefeitura de São Paulo, estar atento à Lei 13.646, de 2003. Está lá como fazer.
Editoria de Arte/Folhapress
CONCEITO
Plantar árvores, arbustos, forração vertical (hera e unha-de-gato, por exemplo) e grama de forma organizada, gera o que o arquiteto-paisagista Benedito Abbud denomina de calçada verde.
A copa das grandes árvores minimiza a massa construída descontínua da cidade de São Paulo e propicia sombreamento (ambientes mais frescos).
Os arbustos e trepadeiras plantados em muros, viadutos e arrimos propiciam uma maior sensação de verde.
O conjunto melhora a qualidade ambiental, retendo o calor durante o dia e amortecendo o calor durante a noite.
As calçadas verdes contribuem para uma variação de temperatura menor e consequentemente uma população mais saudável.
Matuiti Mayezo - 19.dez.2007/Folhapress
Trecho de calçada da rua Tucuna, na Pompeia, zona oeste de SP, com faixa de grama que absorve água
Trecho de calçada da rua Tucuna, na Pompeia, zona oeste de SP, com faixa de grama que absorve água
Referências - Textos e Publicações
"Calçadas Verdes e Acessíveis", APPA (Associação Pompeia de Preservação Ambiental) com apoio da Secretária Municipal do Verde e do Meio Ambiente e Universidade da Água.
"Novo Conceito de Calçada para São Paulo", de Benedito Abbud, 2006
"Calçadas Verdes - Superfícies Construídas x Superfícies Verdes", de José Roberto Andrade Amaral, 2001
"Cartilha Cidadã - Como Tornar seu Bairro um Lugar Melhor para Viver", de Gilmar Altamirano. Universidade da Água, 2007
José Luiz Portella
José Luiz Portella Pereira, 58, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e im

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