A inexistência de critérios racionais e coerentes para distinguir esquerda de direita faz com que recorramos a uma espécie de algoritmo que combina autodeclaração, genealogia e concordância com algumas bandeiras, como aborto, descriminalização das drogas, ações afirmativas e defesa do meio ambiente, que julgamos representativas o suficiente para funcionar como um teste ideológico.
Podemos dizer que Lula é de esquerda porque é assim que ele costuma se classificar. Ele também marca coluna da esquerda pelo pedigree. O PT surgiu na tradição dos movimentos de esquerda, com um pé no sindicalismo, outro no da intelectualidade universitária paulista e um terceiro no comunitarismo da Igreja Católica. Mas a adesão do atual presidente da República às grandes pautas da esquerda, quando ocorreu, nunca foi das mais entusiasmadas.
Em relação ao aborto, por exemplo, ele mantém uma posição para lá de ambígua, ora dizendo que é contra, ora afirmando que a questão deve ser tratada como problema de saúde pública e não penal. Não me lembro (nem encontrei no Google) uma declaração dele na linha de que as mulheres devem ser soberanas para decidir se vão ou não em frente com uma gravidez.
A indefinição é em parte reflexo do sistema eleitoral, pelo qual candidatos a cargos majoritários evitam meter-se em polêmicas que possam alienar o voto de parcelas expressivas da população. Seja como for, ao indicar Zanin, valorizando mais o critério da fidelidade pessoal do que o do perfil ideológico, Lula mostrou que está mais preocupado em angariar blindagem para si próprio do que em influenciar os rumos da interpretação constitucional pelas próximas décadas. É uma decisão humana, ainda que não muito "de esquerda".
Este sim seria um princípio ético consistente para críticas, mas foi ignorado. E aqui não só pelos apoiadores de Lula com voz na sociedade, mas também e principalmente no STF e no Congresso. Já os ataques ora em tela nas redes sociais carecem de lógica e fundamento fático.
Primeiro, porque Zanin não enganou ninguém. Em seu périplo que antecedeu à sabatina no Senado definiu-se com todos os efes e erres como um conservador. Segundo, porque ministros do Supremo só devem satisfações à Constituição tendo como guia para interpretações as respectivas convicções aplicadas mediante embasamento jurídico.
Cristiano Zanin não fugiu do preceito nos quatro julgamentos nos quais contrariou a pauta progressista. Votou como achou que deveria contra a descriminalização da posse de maconha e na ação por medidas de proteção à comunidade indígena alvo de violência policial em Mato Grosso do Sul. Tampouco aceitou incluir ofensas a pessoas trans no crime de injúria racial e manteve a condenação de dois homens por furto de valor inferior a R$ 100.
Pode-se discordar dessas decisões e de outras que estão por vir em que Zanin deverá reafirmar sua matriz conservadora, como o aborto. Isso não altera o fato de que a prerrogativa é do julgador.
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Os críticos de agora, lenientes na preliminar de natureza moral, queriam o quê? Aceitaram que pudesse favorecer Lula, blindar o governo, e pelo jeito esperavam que ele fosse se aliar ao pensamento dos que apoiam o presidente. Contra isso se revoltam, e por isso questionam a autonomia do ministro que vem de sapecar à nação um solene conservador sim, e daí?
O clube de empresas bilionárias do varejo não para de crescer. Apesar dosjuros altos, da economia mais fraca e das dificuldades no ambiente de negócios, 17 companhias romperam pela primeira vez a barreira de R$ 1 bilhão em vendas no ano passado. A lista inclui marcas conhecidas do público, comoUsaflex,PetloveeTrack&Field, além de grupos regionais, comoMercadinhos São Luiz, do Ceará.
As novas bilionárias conseguiram criar nichos específicos para seus produtos e turbinar a receita. A Usaflex, por exemplo, agregou moda aos calçados já conhecidos pelo conforto. A Track&Field, por sua vez, investiu em novas experiências e layout diferenciado das lojas para atrair clientes de artigos esportivos, num mercado dominado por marcas globais.
Com fórmulas diferentes, cada uma delas conseguiu entrar para o seleto grupo de 173 companhias que faturaram no varejo acima de R$ 1 bilhão em 2022. Juntas, as empresas são mais da metade (58%) das 300 maiores varejistas que comercializam produtos no País, revela o ranking da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). Desde 2015, quando foi iniciado o levantamento, 64 empresas ingressaram no clube do bilhão.
“Mesmo tendo sido um ano difícil, para os grandes players que faturam acima de R$ 1 bilhão, 2022 foi melhor do que para os demais”, afirma Eduardo Terra, presidente da SBVC. A prova disso é que as vendas das 300 maiores varejistas em 2022 aumentaram 19,9% (sem descontar a inflação), superando o desempenho do varejo como um todo, que avançou nominalmente 14,1%.
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O estudo mostra também que, nos últimos oito anos, as vendas das 300 maiores companhias cresceram mais do que o varejo como um todo. “Isso indica que escala é relevante para o setor e faz a diferença”, ressalta Terra.
Vantagens de ser bilionário
Romper a barreira de um R$ 1 bilhão em vendas tem desdobramentos positivos, mas também amplia os desafios. Entre as vantagens, o presidente da SBVC aponta o aumento do poder de barganha da varejista nas negociações com os fornecedores. O outro ponto positivo é diluir as despesas.
Além disso, ganhar escala dá mais acesso a linhas de crédito de “gente grande”, diz Terra. Isto é, vendendo mais de R$ 1 bilhão é possível começar a pensar em abertura de capital na Bolsa e na emissão de outros papéis, como debêntures. “Abaixo de R$ 1 bilhão, a perspectiva da companhia é obter linhas de crédito ‘feijão com arroz’, que são mais caras e escassas.”
No entanto, atingir essa marca não quer dizer que a empresa terá vida fácil. Segundo o consultor, há empresas que embalam após faturar R$ 1 bilhão e outras tropeçam. Um dos desafios, por exemplo, é a expansão mais acelerada que normalmente ocorre após atingir R$ 1 bilhão em vendas. Neste caso, a abertura de lojas em praças desconhecidas requer trabalhar com mais gente e criar processos e mecanismos de governança que garantam a sustentabilidade do negócio.
O peso do bilhão para cada um
Das 17 novas bilionárias que despontaram no ranking de 2022, oito são supermercados, três varejistas do ramo de eletroeletrônicos e móveis e três do segmento de calçados e moda esportiva. As demais estão distribuídas entre os segmentos de farmácia, ótica e animais de estimação.
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O forte ingresso de supermercados, sobretudo os regionais, no grupo dos bilionários é explicado pelo fato de a atividade ser marcada por alto volume de vendas e margem pequena. Isso turbina rapidamente o faturamento e abre caminho para as varejistas desse segmento se tornarem bilionárias.
Já no varejo especializado, de calçado e móveis, por exemplo, os volumes de vendas são menores e as margens, maiores. “Faturamento de R$ 1 bilhão para todos os setores não tem o mesmo peso”, observa Terra. Mas ele pondera que faturar mais de R$ 1 bilhão é um divisor de águas importante para todas as companhias.