Precisamos falar sobre os militares. A essa altura, está mais do que claro que eles falharam. E o "eles" aqui é ecumênico, inclui desde os policiais militares que tiraram selfies com os vândalos do dia 8 até oficiais-generais das Forças Armadas, passando pelo pessoal do Gabinete de Segurança Institucional, em tese um braço do governo petista.
É inadmissível que a polícia mais bem paga do país não consiga proteger os três prédios mais importantes do Estado de uma ameaça que havia sido anunciada com vários dias de antecedência. É inaceitável que os serviços de inteligência militar não tenham detectado e frustrado uma conspiração contra o país gestada nos muros de seus quartéis.
Por uma combinação de ideologia, ranço autoritário e corporativismo, os militares nutrem genuína antipatia pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva. Não penso que precisem gostar do chefe, mas são obrigados a cumprir as determinações das autoridades civis a que estão subordinados e, mais importante, não podem ser um foco de instabilidade política e nem mesmo gerar incertezas sobre qual possa ser seu comportamento, como fizeram durante o governo Jair Bolsonaro. Um país tem Forças Armadas decentes quando elas ficam totalmente abaixo do radar da mídia, o que, infelizmente, não é nosso caso.
O governo Lula precisará enquadrar os militares. Medidas que me parecem necessárias para isso incluem (mas não se limitam a) restringir fortemente a participação de militares da ativa e da reserva remunerada em cargos na administração; veto efetivo a manifestações políticas, tanto pelo pessoal da ativa como da reserva remunerada; reformulação de cursos de formação de oficiais.
A dúvida é se se deve fazer isso de uma vez só ou aos poucos. Meu impulso, depois do papelão do domingo, seria baixar um pacotaço de "democratização do Exército", mas admito que a solução mais sábia provavelmente é a de caminhar pelas beiradas, contornando crises.