quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Promotoria vai recorrer de decisão que soltou Suzane von Richthofen, FSP

 

SÃO PAULO

Ministério Público de São Paulo informou, nesta quinta-feira (12), que vai recorrer da decisão da 2ª Vara de Execuções Criminais de Taubaté, que autorizou o regime aberto para Suzane von Richthofen.

Solta nesta quarta-feira (11), ela cumpriu 20 anos de pena pelo assassinato dos pais, Manfred e Marísia, na zona sul de São Paulo, em novembro de 2002.

Suzanne von Richthofen, 39, ré confessa pela morte dos pais foi colocada em regime aberto após 20 anos de cumprimento de pena - Tuca Vieira - 29.jun.2005/Folhapress

O alvará de soltura de Suzane foi cumprido às 17h35 no presídio feminino de Tremembé, no interior paulista. O processo de cumprimento de pena de Suzane von Richthofen está em segredo de Justiça.

Ré confessa, Suzane foi condenada em 2006 a quase 40 anos de prisão e estava desde 2015 no regime semiaberto, no qual a execução da pena é realizada em colônias agrícolas, industriais ou em estabelecimentos similares.

Já no regime aberto, o condenado deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias de folga.

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A Folha entrou em contato com a defesa de Suzane, representada pela advogada Sthefanie Guadalupe. Por meio de mensagem de texto, ela informou que o processo corre em segredo de justiça, e, por isso, é "sigiloso em toda sua tramitação e desdobramentos".

O CRIME

O crime em 31 de outubro de 2002 chocou o país. Na época, ela tinha quase 19 anos e era estudante de direito da PUC-SP.

Segundo depoimento dos acusados à polícia, antes do assassinato, o irmão de Suzane —então com 15 anos— foi levado por ela até um cybercafé. Em seguida, ela e o namorado, Daniel Cravinhos, à época com 21, encontraram o irmão dele Cristian, 26, e seguiram para a casa. Suzane entrou e foi ao quarto dos pais para constatar que eles dormiam. Depois, acendeu a luz do corredor, e os irmãos golpearam o casal.

Inicialmente, a polícia acreditava se tratar de um caso de latrocínio (roubo seguido de morte). Porém, a casa não tinha sinais de arrombamento, e tanto o alarme quanto o sistema interno de vigilância estavam desligados.

Dias após o crime, a compra de uma moto com parte do valor paga em dólares levou a polícia a desconfiar dos irmãos. Em 8 de novembro de 2002, Suzane, Daniel e Cristian foram presos e confessaram ter planejado e matado o casal.

Suzane obteve liberdade provisória em junho de 2005 por decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Ela voltou a ser presa meses depois após a exibição de uma entrevista concedida ao "Fantástico", da Rede Globo, durante a qual ela foi orientada pelos advogados a chorar e demonstrar fragilidade diante das câmeras.

Em 2006, ela teve a domiciliar provisória permitida pelo então ministro Nilson Naves, do STJ, mas a decisão foi cassada no mês seguinte.

Dentro da prisão, Suzane se tornou evangélica, conselheira de outras detentas, abriu mão de lutar pela herança dos pais, tentou se reaproximar do irmão e, em 2014, se casou com Sandra Regina Ruiz Gomes, presa por sequestro.

No ano seguinte, ela foi para o semiaberto. Em 2016, saiu pela primeira vez da prisão durante o feriado de Páscoa.

Dois anos depois, em 2018, no mesmo dia em que foi beneficiada com a saída temporária de fim de ano, Suzane foi levada de volta à prisão após ser flagrada em uma festa de casamento em Taubaté.

A relação com Sandra durou até 2016. No mesmo ano, Suzane começou a namorar o empresário Rogério Olberg. Em entrevista na época, ele afirmou que o sonho dela era constituir família. "Ela gosta muito de crianças. Sim, eu me vejo casado com a Suzane", disse Olberg.

O caso ganhou dois filmes lançados na mesma data em 2020. Os longas são baseados nos autos do processo do assassinato do casal Von Richthofen e abordam as versões apresentadas por Suzane e Daniel ao tribunal.

Às vésperas da estreia, Suzane entrou com uma ação contra a produtora Santa Rita Filmes por causa dos longas "A Menina que Matou os Pais" e o "Menino que Matou Meus Pais". A produtora, no entanto, ganhou todas as etapas em primeira instância do processo, que já foi transitado em julgado.

Lula expõe desconfiança com segurança no Planalto e diz que Forças Armadas não são poder moderador, FSP

 Matheus Teixeira

BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, nesta quinta-feira (12), que as Forças Armadas não são "poder moderador como pensam que são" e expôs desconfiança com a segurança do Palácio do Planalto ao dizer que tem convicção de que policiais e militares deixaram os manifestantes golpistas invadirem a sede do Poder Executivo no último domingo (8).

O petista afirmou ainda que confia em José Múcio Monteiro, apesar dos desgastes que ele vem sofrendo, e disse que ele continuará à frente do Ministério da Defesa.

"Essa a imagem que eu tenho das Forças Armadas. Uma Forças Armadas que sabem que seu papel está definido na Constituição. As Forças Armadas não são o poder moderador como pensam que são. As Forças Armadas têm um papel na Constituição, que é a defesa do povo brasileiro e da nossa soberania contra possíveis inimigos externos. É isso o papel das Forças Armadas e está definido na nossa Constituição. É isso que quero que seja bem feito"., disse o petista, em café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto.

O presidente Lula, durante reunião com parlamentares, no Palácio do Planalto - Lucio Tavora/Xinhua

Lula disse ainda estar "convencido" de que gente de dentro do palácio deixou golpistas entrarem no dia da invasão ao Planalto.

"Eu estou esperando a poeira baixar. Eu quero ver todas as fitas gravadas dentro da Suprema Corte, dentro do palácio. Teve muito agente conivente. Teve muita gente da PM conivente. Muita gente das Forças Armadas aqui de dentro coniventes. Eu estou convencido que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para essa gente entrar porque não tem porta quebrada. Ou seja, alguém facilitou a entrada deles aqui", afirmou.

Múcio está sob intensa fritura de aliados, após os atos golpistas de vandalismo no último domingo (8), que depredaram a sede dos Três Poderes em Brasília. O ministro era adepto da tese de saída pacífica dos manifestantes em frente ao quartel-general do Exército.

"Quem coloca ministro e tira ministro é o presidente da República. O Zé Múcio fui eu quem trouxe para cá, ele vai continuar sendo meu ministro, porque eu confio nele",

"Se eu tiver que tirar cada ministro a hora que ele comete um erro, sabe, vai ser a maior rotatividade de mão de obra da história do Brasil. Todos nós cometemos erros. Zé Múcio vai continuar", completou.

Lula recebeu, pela primeira vez, jornalistas nesta manhã. Mas, ao final do encontro, apenas cinco veículos puderam perguntar, e a Folha não fez parte do grupo.

Como a Folha mostrou, Múcio chegou a ser criticado, reservadamente, pelo próprio presidente.

Irritado com a facilidade com que os invasores chegaram ao Palácio do Planalto, Lula criticou, duramente, o desempenho de sua equipe frente aos atos de vandalismo que resultaram na depredação da sede do Executivo federal e também dos prédios do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal).

Enquanto acompanhava a evolução dos ataques por meio de publicações nas redes sociais, Lula se queixou, especialmente, de Múcio e do ministro-chefe do GSI (Gabinete da Segurança Institucional), general Gonçalves Dias —aos quais telefonou, em tom de cobrança, já no início das invasões.

Segundo seus aliados, Lula reclama que Múcio tenha subestimado ameaças à segurança, apostando na saída gradual dos bolsonaristas acampados diante do quartel do Exército em vez de determinar sua retirada, como, por fim, aconteceu nesta segunda-feira (9).

De acordo com relatos desses interlocutores, o presidente avalia ainda que faltou firmeza a Múcio na relação com os comandantes das Forças Armadas e que o ministro não teria exercido sobre eles qualquer influência.

A cúpula do PT também passou a torcer, nos bastidores, para que o ministro da Defesa pedisse para deixar o cargo espontaneamente, citando desgaste pessoal ou apelo de familiares.

Seria uma saída honrosa para ele, que pouparia Lula da tarefa de demitir um aliado antigo com poucos dias de governo.

A aliados, contudo, Múcio admitia a pressão, mas disse nesta semana que é o momento de pessoas responsáveis se juntarem para ajudar o governo.