As virtudes elementares são quatro mais três. As quatro virtudes "cardinais" —justiça, temperança, coragem e prudência— eram especialmente valorizadas nas cidades-Estado do antigo Mediterrâneo. As três virtudes "cristãs" —fé, esperança e amor— foram assim chamadas porque Jesus Cristo as pedia, não porque os cristãos fossem especialmente bons em praticá-las. Os papas medievais e alguns modernos eram cinicamente desinteressados em fé e esperança, preferindo luxúria e ganância. E os cristãos evangélicos de hoje, no meu país e no seu, recorreram ao ódio, contrariando o Evangelho.
Versões das sete virtudes elementares podem ser encontradas em todas as tradições humanas, porque são caracteristicamente humanas. Toda vida é prudente, ou fracassa. Mas as demais, em outras espécies, são apenas metafóricas. Os leões não são realmente corajosos, apenas prudentes e famintos.
Os humanos precisam de todas as sete numa espécie de equilíbrio idiossincrático para florescer. Você e eu conhecemos freiras e soldados, homens de negócios e professores virtuosos, com todas as sete em suas próprias combinações especiais.
A esperança, por exemplo, é a virtude de ter um projeto. Se você literalmente não tem nada por que esperar, vá para casa esta noite e dê um tiro em si mesmo. Por favor, não!
Assim como todas as virtudes, a esperança por si só, a menos que seja contrabalançada por outras, torna-se um vício. O conservador nacionalista, sem o equilíbrio da justiça ou do amor, espera a conquista ou a pureza racial. Um conservador mais normal tem nostalgia dos anos 1950. Ele também tem pouca justiça na alma. Não se importa que pessoas pobres, negras, homossexuais e mulheres fossem reprimidas na época. Homens ricos, brancos e heterossexuais governavam. Bem, na verdade ainda o fazem. Mas pelo menos agora estamos trabalhando nisso.
A socialista tem esperanças que não fazem sentido histórico. Ela espera que Brasília seja sábia. Suas esperanças não estão de acordo com o que Freud chamou de princípio de realidade, a percepção adulta de que as palavras de desejos, intenções e planos não são realizações de fato.
Quando eu, criança, dizia que "esperava" algo inconveniente ou alguma indulgência, meu pai trazia à tona o provérbio medieval inglês —o português deve ter um semelhante— "Se os desejos fossem cavalos, os mendigos cavalgariam".
Nós, liberais, temos uma esperança que já foi otimista e irreal, numa época de escravidão e hierarquia. Mas hoje nossas esperanças parecem razoáveis.
A esperança de um Brasil liberal.