terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Seu dinheiro Etanol de Segunda Geração

 Quando pensamos em energia renovável no Brasil, não podemos nos esquecer do etanol. E hoje, quando pensamos em etanol, pensamos em Raízen.

A Raízen está entre os maiores produtores individuais de biocombustíveis no mundo e ocupa a posição de maior empresa global de etanol de cana de açúcar, tendo produzido 2,2 bilhões de litros em 2021.

Dentro de seu ecossistema integrado, a companhia controla e opera 26 parques de bioenergia, utilizando a sua própria biomassa (matéria-prima para geração de bioenergia) a partir da cana de açúcar.

Na vanguarda tecnológica da produção de bioenergia, a Raízen é a única companhia no mundo capaz de produzir o chamado etanol de segunda geração (E2G) em escala industrial.

O E2G é 80% menos poluente que os combustíveis fósseis e produzido a partir de açúcares extraídos da celulose, presentes na palha e no bagaço da cana de açúcar – diferentemente do etanol de primeira geração (E1G), produzido a partir do melaço da cana.


A Raízen firmou um contrato para venda de 3,3 bilhões de litros de etanol de segunda geração (E2G) para a Shell, por uma receita mínima de € 3,3 bilhões, diluídos ao longo de 12 anos (de 2025 a 2037). O contrato está conectado, também, a um investimento de R$ 6 bilhões em cinco novas fábricas que entregarão esse volume.

O E2G é uma importante avenida de crescimento para a Raízen, que, com esse anúncio, completa a contratação de 43% da capacidade de E2G prevista para 2030. Assim, essa alavanca de crescimento, que na nossa visão adiciona entre R$ 5 e R$ 8 ao valor justo de CSAN3, fica cada vez mais tangível.

Atualmente, a Raízen já tem uma planta de E2G em operação e outras três em construção, todas com os respectivos contratos de venda já firmados. Para atender a esse novo contrato com a Shell, a Raízen construirá cinco plantas adicionais, com investimento estimado em R$ 1,2 bilhão por cada uma.

Por um lado, esse valor está 50% acima dos R$ 800 milhões estimados à época do IPO, o que vemos como negativo; por outro, os preços do E2G também estão 80% superiores na mesma comparação (US$ 1,30/litro atualmente). Assim, a soma dos investimentos já anunciados pela Raízen em E2G se aproxima de R$ 10 bilhões.

Pelo fato de ser uma energia mais limpa, o E2G captura um prêmio de aproximadamente 70% em relação ao E1G nos mercados internacionais, permitindo ganhos robustos de margem para a companhia.

Além disso, a Raízen é capaz de aumentar sua produção de etanol em até 50% sem plantar um metro adicional de cana de açúcar, dado que a matéria-prima utilizada no E2G provém do bagaço. Hoje, a comercialização do E2G já se mostra rentável.

Vejo que a expansão bem-sucedida da produção de etanol de segunda geração deve destravar grande valor para a Raízen (RAIZ4), colocando-a em uma posição ainda mais importante na matriz energética global.

Que fim levou o Combustível do Futuro?, EPBR

 

Criado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) de Bento Albuquerque e engavetado pelo de Adolfo Sachsida, o programa Combustível do Futuro deixou para o governo Lula uma série de propostas de marcos e reformas legais com potencial para tirar do papel a economia verde tão celebrada nos discursos de posse da semana passada
 
O programa não é mencionado no relatório final da transição entregue ao ministro Alexandre Silveira (PSD) e, com a indefinição de comandos de segundo escalão na pasta, ainda não está claro quais propostas poderão sair da gaveta.
 
Dos sete subcomitês do programa, os únicos relatórios publicados são o do ciclo diesel e o de combustíveis marítimos (.pdf)

  • “Sobre os demais temas, que compuseram o Programa Combustível do Futuro, os resultados serão apresentados ao CNPE, oportunamente”, disse o MME em nota no final do ano passado ao político epbr
As entregas do Combustível do Futuro incluíam minuta de projeto de lei para revisão do Rota 2030 com integração do Renovabio, marco legal para captura e armazenamento de carbono (CCS) e mandato para combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, em inglês).

Para o SAF, o subcomitê conseguiu fechar uma proposta em abril do ano passado com apoio dos diferentes segmentos do mercado que participaram da elaboração.
 
chegou bem perto de ser apresentado um projeto de lei – há quem diga que, se a chegada de Sachsida para comandar a pasta tivesse ocorrido duas semanas mais tarde, o resultado seria diferente.

Interlocutores relatam dificuldades em convencer Sachsida a respeito de um mandato para o SAF, mesmo com apoio das próprias companhias aéreas, que seriam obrigadas a usar combustíveis sustentáveis para reduzir suas emissões.
 
O então ministro teria argumentado que o uso poderia ser voluntário, já que elas querem substituir o querosene fóssil, seguindo uma lógica de “autorregulamentação”.

Agora, o setor precisará se mobilizar para resgatar a proposta e conquistar o apoio do novo governo.
 
Há um sentimento de urgência. Em 2027, começa a valer o Corsia, um acordo internacional para descarbonizar a aviação e que demandará o uso de SAF.
 
Se o Brasil não criar um marco legal para incentivar a produção e o consumo doméstico, poderá ficar para trás no estabelecimento de um mercado que tende a movimentar bilhões de dólares nos próximos anos. 

Proposta de 20% com rotas livres. O MME de Adolfo Sachsida também editou a versão aprovada pelo grupo de trabalho do ciclo diesel para cortar trechos que defendiam uma progressão da mistura de biocombustíveis até 20% em 2027, considerando a abertura do mercado para importação e inserção de outras alternativas no mandato.
 
No final do ano passado, o político epbr, serviço exclusivo para assinantes, teve acesso às partes suprimidas da versão original, que argumentam a favor da participação de renováveis em até 20% no ciclo diesel, com o aumento de um ponto percentual na mistura com o fóssil a partir de 2024.
 
A proposta era abrir espaço para o diesel verde e o coprocessado da Petrobras, dentro do mandato de biodiesel, mas sem estabelecer uma reserva para qualquer uma das rotas.
 
O estudo tentava demonstrar a viabilidade da mistura atingir 16% em 2024, 17% em 2025 e 18% em 2026. Em 2027, entraria em vigor um mandato de 20% de biocombustíveis, do qual 1% obrigatoriamente teria que ser diesel verde. 

  • O relatório foi aprovado pelo GT no final de 2021. O documento, no entanto, ficou sob sigilo até novembro de 2022, quando foi publicado com cortes pelo governo junto com a decisão de manter em 10% a mistura de biodiesel no primeiro trimestre do ano que vem (.pdf)

  • “O relatório publicado no site do MME foi submetido ao CNPE, sendo o único válido”, afirmou a pasta, em nota em dezembro. 

Vale dizer que o setor de biodiesel tinha resistência a uma proposta desse tipo, mesmo com a elevação da mistura – defendem a solução dos dois mandatos. Temem a escala da Petrobras, combinada com a emissão de CBIOs pela companhia.

ESTADÃO / RUBENS BARBOSA ESTADÃO / RUBENS BARBOSA A História se repete como farsa

 A invasão do Congresso norte-americano no dia 6 de janeiro de 2021 foi repetida, como farsa, no domingo, dois dias e dois anos depois, de maneira muito mais grave, porque atingiu, com criminosa destruição, também o Supremo Tribunal Federal (STF) e a sede do governo, o Palácio do Planalto. O ponto comum entre os dois eventos é o inconformismo de grupos políticos radicais com o resultado das eleições presidenciais.

O que explica essa ocorrência tão grave no começo do novo governo e que tanta reação causou no exterior? Não há dúvida de que houve falha no tratamento das informações de inteligência, além de omissão das autoridades do governo do Distrito Federal (DF) e incompetência na proteção e na segurança da Praça dos Três Poderes. A tentativa de destruição do Estado de Direito resulta de causas mais profundas.

A divisão política e social do País, com crescente radicalismo por parte de grupos minoritários, está na base de grave crise política que terá desdobramentos sérios, inclusive pelo aparelhamento da máquina estatal com a contaminação ideológica das instituições públicas, como no caso dos agentes de segurança, tanto federais como do DF. O desrespeito às instituições caracteriza um estado de anomia por parte de uma parcela radical da sociedade brasileira. Depois do ocorrido no domingo, a ideia de convergência, união e pacificação, anseio de muitos e promessa de campanha, fica mais difícil de ser alcançada.

O ex-presidente Jair Bolsonaro, depois de muitas horas, a exemplo de Donald Trump, procurou se dissociar dos atos violentos, mas acentua a divisão ao comparar o que aconteceu no domingo às ações da esquerda em 2013 e 2017. A responsabilidade política do ex-presidente foi apontada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. A responsabilidade jurídica terá de ser apurada. O governo observou que o ocorrido foi um ato terrorista e uma tentativa de golpe nunca registrada na história do País. A tentativa de eventual condenação de Bolsonaro por suas ações contra o resultado das urnas deverá acirrar os ânimos ainda mais.

A reação do governo federal tem de ser rápida para apurar as responsabilidades do crime e punir os culpados pelos atos de terrorismo. Algumas decisões foram prontamente tomadas: a intervenção federal na área de segurança por 30 dias no governo do Distrito Federal, a ser apreciada pelo Congresso; a prisão de quase 300 invasores em flagrante e 1.500 nos acampamentos; a investigação sobre os mandantes e financiadores do movimento; a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso; o pedido de cessão de membros das Forças Armadas para completar as forças que garantirão a lei e a ordem. O Judiciário determinou o afastamento do governador do DF por 90 dias e o fim dos acampamentos em frente e nas adjacências dos quartéis.

A crise desencadeada pela invasão e destruição de Brasília gerou forte turbulência política e piora no ambiente dos entendimentos que o novo governo está desenvolvendo para ampliar a margem de governabilidade. O radicalismo político deverá continuar e a oposição ao governo Lula vai se acirrar no Congresso e nas ruas. O presidente Lula terá de criar um clima político estável para a condenação dos criminosos e para impedir a repetição dessas ações.

Um dos fatores mais importantes para a difícil superação da turbulência deverá ser a firme manifestação da autoridade presidencial em todas as áreas, para liderar os esforços para o fortalecimento das instituições do centro democrático e para a retomada da agenda econômica e social.

Do ponto de vista político, um dos fatores mais sensíveis, com importante repercussão na evolução das ações do governo Lula, é o relacionamento entre civis e militares. Alguns fatos indicam a incerteza dessa relação: a politização de parte dos militares da ativa, como se viu concretamente na recusa do comandante da Marinha em participar da posse do seu substituto nomeado pelo presidente Lula, apesar das gestões do ministro da Defesa; a complacência até ontem das lideranças das Forças Armadas em relação à permanência dos acampamentos de seguidores de Bolsonaro que se multiplicaram em frente a quartéis militares; e o fato de Lula ter optado por não convocar ação das Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), talvez pela incerteza da reação dos militares. A não manifestação das Forças Armadas durante os acontecimentos, contudo, foi um dos poucos aspectos positivos de toda a crise. Se tivesse havido uma efetiva tentativa de golpe às instituições, a não interveniência das Forças Armadas – que haviam dado mostras de que não tomariam partido, nem sairiam das linhas constitucionais – frustrou a expectativa. As instituições, bem ou mal, saíram fortalecidas.

Outra importante consequência da crise é a mudança da agenda, que deixa a economia e a governabilidade em um segundo plano para dar relevância à defesa das instituições e do Estado Democrático de Direito. As tensões deverão aumentar e ter desdobramentos em todos os níveis. As ações do Executivo, do Legislativo e do Judiciário contra os invasores, organizadores, financiadores e incentivadores tornarão a divisão do País ainda mais acentuada e radicalizada.

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PRESIDENTE DO CENTRO DE ESTUDOS DE DEFESA E SEGURANÇA NACIONAL (CEDESEN)