domingo, 9 de fevereiro de 2020

Fazendeiros que elegeram Trump se mantêm fiéis, apesar dos prejuízos, OESP

Beatriz Bulla, ENVIADA ESPECIAL / IOWA e ILLINOIS, O Estado de S.Paulo
09 de fevereiro de 2020 | 07h00


Wendel Lutz bufa e permanece alguns segundos com olhar vago, enquanto toma fôlego para descrever como foram os últimos anos em sua fazenda, na área rural de Champaign, no Estado de Illinois. “Esses bons resultados da economia? Não estão aqui”, começa. Ele foi um dos eleitores de Donald Trump, em 2016. Para 2020, diz que seu voto está indefinido, apesar de dar todos os sinais de concordar com a plataforma do presidente.
Terceira geração de fazendeiros da família, Lutz mora com a irmã nas casas da propriedade comprada por seus avós. Assim como ele, os fazendeiros americanos foram castigados em dois anos de guerra comercial travada pela Casa Branca com a China. O preço da soja despencou e as exportações do grão para os chineses, que compram um terço da produção americana, também. 
É difícil encontrar quem esteja feliz com a situação econômica entre os produtores de grãos. Com queda média de 10% na receita dos fazendeiros no ano passado, o apoio a Trump aparece tímido nas conversas no setor rural, mas continua presente.
O produtor rural Dave Walton em sua fazenda em Wilton, no estado de Iowa
O produtor rural Dave Walton em sua fazenda em Wilton, no estado de Iowa  Foto: BEATRIZ BULLA/ESTADAO
O índice de aprovação do presidente americano em zonas rurais nunca esteve abaixo dos 50% (o menor foi de 52%, em maio de 2019). Segundo uma pesquisa do Instituto Gallup do começo do ano, 60% dos moradores de zonas rurais aprovam o governo Trump – ante 42% das zonas urbanas.
Os americanos figuram entre os maiores exportadores de grãos no comércio global. O censo de 2010 apontava que 60 milhões de americanos, 20% da população, vivia em áreas rurais, estando a maioria ao leste do Rio Mississippi, que corta o país de norte a sul e divide os Estados de Illinois e Iowa.
Juntos, os dois Estados produzem um terço de toda a safra de milho do país e estão no topo da produção de soja. Os grãos, e o gado, são as principais produções das fazendas americanas, que em sua maioria (87%) são tocadas por famílias.
Da fazenda de 200 hectares onde produz soja e milho, Lutz ecoa insatisfação com as recentes perdas, mas diz que a situação já vinha se deteriorando antes da guerra de tarifas com Pequim. “Eu ouvi muitas histórias de pessoas tentando pagar alugueis mais baixos, e muitos não conseguem. Pegue qualquer setor da economia, ganhe apenas 70% do que você ganhava e tente pagar as suas contas do mesmo jeito”, diz Lutz.
Durante a conversa, o fazendeiro mostra desconfiança dos chineses, critica a qualidade dos grãos produzidos na América do Sul, fala de problemas com aumento das chuvas mas minimiza a crise climática. Para ele, “só uma peste mundial” esvaziaria os armazéns a ponto de atrair a atenção do mundo para a importância das safras. 

Na outra margem

Dave Walton está entre os fazendeiros que ficam do lado oeste do rio, em Iowa. Ele diz que seu voto na eleição em 2020 “ainda está em disputa”. “Sou registrado como eleitor independente, voto no melhor candidato, independentemente de partido”, afirma, no início da conversa sobre política.
Ele é a quarta geração de fazendeiros de sua família. O terreno onde cultiva soja, milho e cria gado foi comprado por seu bisavô, em 1901. O pai, que nasceu e cresceu ali, ainda mora na propriedade. Walton e a família vivem em uma casa a 3 quilômetros de distância.
Wendel Lutz diz não ter visto melhora na economia
Wendel Lutz diz não ter visto melhora na economia  Foto: BEATRIZ BULLA/ESTADAO
Mas não demora muito para que o fazendeiro mostre sua preferência: “Há coisas das quais posso discordar de Trump, mas ele merece crédito por ter feito a campanha eleitoral dizendo que levaria adiante algumas questões, como a da China. Talvez não tenha sido a abordagem mais fácil para nós pessoalmente, mas é preciso dizer: ele enfrenta alguns temas que outros políticos não encaram”. 
Nos últimos dois anos, Walton viu sua renda familiar cair em ao menos 20% e a produção de grãos, tradicionalmente dividida igualmente entre milho e soja, mudar. A briga com Pequim evoluiu mais rápido do que os fazendeiros esperavam, com a escalada de tarifas de ambos os lados. O valor de produtos agrícolas exportados para a China caiu de US$ 19,5 bilhões em 2017 para US$ 9,2 bilhões em 2018. 
Na fazenda de Walton, 60% do terreno passou a ser destinado ao milho e o restante à soja. “Foi muito penoso. Algumas conversas com o banco foram dificílimas. Saímos de um nível de lucro para a beira da falência”, conta. Mas a confiança em Trump permanece. “No longo prazo, estaremos melhores. Era preciso lidar com a China”, afirma.
A fazenda de Dave Walton fica na região de Wilton, uma cidade com pouco menos de 3 mil habitantes que está a 3 horas de carro da capital de Illinois e a 2 horas da capital de Iowa. Do centro urbano mais movimentado de Davenport até a fazenda, são 48 km na estrada cruzando campos cobertos por neve em janeiro e onde, no verão, estão as plantações de grãos. 
Trump selou a trégua com os chineses, com a assinatura da primeira fase de um acordo comercial em dezembro, antes de entrar no ano eleitoral. O setor rural foi responsável por boa parte dos votos que o fizeram chegar à Casa Branca. Nas regiões urbanas, Hillary Clinton saiu na frente, mas Trump ganhou 62% dos votos das pequenas cidades rurais dos EUA, enquanto a democrata recebeu 34%. Em 2020, ao menos nestas duas margens do Mississippi, o apoio deve continuar.

Distância dos democratas

Na véspera do final de semana de aquecimento das prévias democratas, no começo de fevereiro, em um comício em Iowa, Trump fez uma declaração de amor aos fazendeiros do Estado, pouco depois de fazer uma ameaça: “Se eu não vencer, suas fazendas irão para o inferno”.
O discurso de que ele é o melhor nome para brigar pelos fazendeiros e que o cenário pode se deteriorar caso um dos democratas vença já se espalha no campo. Para Dave Walton, fazendeiro na região de Wilton, em Iowa, candidatos democratas podem demonstrar fraqueza na negociação com os chineses e impor um revés nas negociações. 
“Temos que ser cuidadosos com o candidato que escolhemos. Esses acordos comerciais ainda não estão completos. Se tivermos uma mudança e o próximo governo for muito flexível no comércio ou fraco na política externa, nós definitivamente podemos sofrer”, diz. 
Não é apenas a questão comercial que afasta os fazendeiros dos candidatos democratas. Ao citar os problemas que vê em cada um deles, Walton isenta de críticas apenas um dos nomes: o da senadora Amy Klobuchar. Tida como a mais conservadora entre os democratas, ela aparece sempre na lanterna das pesquisas eleitorais, em quinto lugar nas intenções de voto.
“Votei no Trump porque não queria a alternativa a ele em 2016. Essas outras pessoas, eu não sei, o jeito que agem, que se comportam, nenhum deles é muito bom”, afirma Wendel Lutz, fazendeiro de Illinois. Ambos receberam pagamentos do governo, na verba injetada no setor rural afetado diretamente pela guerra comercial, mas afirmam que o dinheiro não foi suficiente para repor as perdas. 
“Muitas das pessoas com quem converso olham para Joe Biden da mesma forma que olhavam para Hillary Clinton. Ele esteve no governo por anos, não é o candidato que vai mudar as coisas, porque se fosse já teria feito”, afirma Walton. 
Se em Biden o problema é ser parte do establishment, Pete Buttigieg, para o fazendeiro, não mostrou experiência suficiente. “Não estou seguro sobre sua experiência”, afirma Walton. “Ele era um prefeito. Daremos uma chance a ele para ser líder não só do nosso país, mas um líder mundial, com tão pouca experiência?”, questiona.
No lado do espectro progressista, composto por Sanders e por Elizabeth Warren, fazendeiros apontam um medo: a tributação de renda alta. Parte da plataforma democrata durante as prévias é focada na taxação de bilionários como estratégia para financiar saúde e educação. “Há alguns candidatos no lado democrata que prometem que irão pagar por alguns de seus programas com mais imposto, isso nunca é uma coisa boa. Taxar a renda vai reduzir a renda”, afirma Walton.

Família carbonizada em São Bernardo vivia ascensão econômica, OESP

Felipe Resk, O Estado de S.Paulo
09 de fevereiro de 2020 | 06h00


Às 2h32 de terça-feira, 28 de janeiro, o sinal da radiopatrulha interrompeu o plantão até então sossegado do 6.º Batalhão da Polícia Militar. Um incêndio aparentemente em um carro de luxo acabara de ser controlado pelo Corpo de Bombeiros em um recôndito da Estrada do Montanhão, periferia de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. O chamado para viaturas era urgente. Pelo que diziam, havia cadáveres escondidos no porta-malas.
A ocorrência deixou os policiais em ronda intrigados. A delegacia daquela região registrou menos de um homicídio por mês no ano passado: não deveria ser um caso comum. Pelas coordenadas do local, viram que correspondia à uma área de terra batida e cascalho, quase sem luminosidade, e toda ladeada por matagais.
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Vera Lúcia Conceição, mãe de Flaviana: "Sempre que eu via um caso na TV, pedia a Deus para consolar a família. Agora me vejo nessa" Foto: FELIPE RAU/AE
Quando a viatura chegou, os agentes se depararam com a imagem: os corpos, carbonizados, estavam colados uns aos outros. Foi preciso analisar com cautela para confirmar que eram três mortos. “Dois aparentavam ser do sexo masculino, não sendo possível precisar”, registrou-se no boletim de ocorrência. Do outro cadáver nem sequer dava para arriscar o sexo.
Por causa do estrago provocado pelas chamas, a perícia não conseguiu coletar impressões digitais na lataria destruída. Só um pedacinho escapou do fogo, justamente onde fica a placa traseira. A sequência DWQ-7944 era a única pista em mãos. 
Após consultas no sistema, descobriram se tratar de um Jeep Compass, ano 2019, de cor azul. O proprietário era o empresário Romuyuki Veras Gonçalves, de 43 anos, que vivia no condomínio Morada Verde, em Santo André, a 6,5 quilômetros dali. Como de praxe, policiais se deslocaram até a casa e logo perceberam que não havia mais ninguém para responder ao som da campainha – a não ser as cadelinhas July e Belinha.
Levou menos de 24 horas para a polícia confirmar Romuyuki entre os corpos no porta-malas. Também identificaram a mulher dele, Flaviana Gonçalves, de 40 anos, e o filho caçula Juan Victor, de 15. Chamou a atenção da polícia que, apesar de a casa estar trancada e sem sinais de arrombamento, os cômodos se encontravam revirados e faltava uma TV, videogame, uma caixinha de moedas antigas, joias e cerca de R$ 8 mil.
A tragédia da família causou ainda mais comoção quando, no dia seguinte, os investigadores prenderam os primeiros envolvidos no crime: a filha mais velha do casal, Anaflávia Gonçalves, de 24 anos, e a mulher dela, Carina Ramos, de 26. Em depoimento logo após o caso, elas alegaram inocência e apontaram um agiota, para quem supostamente a família estaria devendo, como possível mandante.
Duas semanas depois, Anaflávia e Carina mudaram a versão e confessaram ter tramado roubar R$ 85 mil para depois repartir o valor com comparsas – mas sob condição de não haver violência física ou xingamentos durante o assalto. “A coisa saiu do controle”, diz a advogada de defesa Isabel Cristina Rotta. Até agora, elas negam participação nos assassinatos.

Caso de família.

Em dezembro, a avó Vera Lúcia Conceição, de 57 anos, estava feliz. Os exames mais recentes não indicavam nenhum avanço do câncer de mama, contra o qual faz tratamento há dez anos. Às vésperas da festa de Natal, aguardava ansiosa para receber a filha Flaviana e a família na sua casa em Extrema, cidade da região sul de Minas.
Tomou um susto quando viu o carrão que parou na frente do portão. “Cadê o pretinho?”, Vera perguntou, se referindo ao veículo antigo da família. Descrita como extrovertida, Flaviana apontou o Jeep Compass, modelo que não sai a menos de R$ 99 mil da concessionária, e respondeu: “Mãe, a gente queria fazer uma surpresa!”. No momento, a avó também não deixaria de notar que a neta Anaflávia não participava da viagem de fim de ano.
O carro zero quilômetro era um sinal da prosperidade da família de raízes humildes. O casal se conheceu ainda na infância, quando os dois eram vizinhos em Cidades Tiradentes, bairro pobre da zona leste da capital. Com cerca de 10 anos, Romuyuki já ajudava o pai a bater de porta em porta, tentando vender produtos de limpeza que eles mesmos fabricavam. “Foi o primeiro namorado da minha filha”, conta Vera.
O primeiro emprego formal de Romuyuki foi como office-boy. Depois, formou-se em Administração e trabalhou por 23 anos em uma multinacional. Entrou auxiliar administrativo e saiu representante internacional. Em 2016, lançou o livro de autoajuda Adaptações às Mudanças em Tempos Acelerados. Por sua vez, Flaviana era formada em Enfermagem. 
Há menos de dois anos, o casal resolveu investir em um negócio próprio e abriu, em um shopping de São Bernardo, a primeira loja de perfumes. Instalado na entrada da praça de alimentação, o quiosque era alvo de reclamações de lanchonetes vizinhas (segundo funcionários, o cheiro dos produtos se misturava ao das comidas), mas todos por lá afirmam que as vendas, em si, iam muito bem.
Em questão de meses, inauguraram uma filial em Mauá e preparavam a terceira em Extrema. Sem ter concluído o curso de Engenharia, a filha mais velha passou a trabalhar, de carteira registrada, nas lojas dos pais. Ao fim do dia, via a mãe contabilizar o dinheiro dos negócios.
Já Juan Victor era estudante e tinha o sonho de virar astronauta – a diferença para a irmã mais velha é de uma década. Curiosamente, quando Flaviana estava na gestação do caçula, Vera também esperava uma menina temporã. “Fiquei grávida junto com a minha filha”, comenta a avó.

Juntos.

 Parentes dizem que os quatro eram muito unidos e costumavam compartilhar das mesmas programações. A família gostava de ir à praia, mesmo na época em que precisavam acampar em barraca. Apesar da distância de idades, Anaflávia e Juan Victor também eram próximos e curtiam até jogar videogame juntos.
“Era uma família bem tradicional: o pai sério e a mãe brincalhona”, afirma o primo Diogo Reis. “Tudo que eles conseguiram foi com muito trabalho.”
O comportamento de Anaflávia teria mudado após ela conhecer Carina, por meio de uma rede social, em meados de 2018, segundo relatam os parentes. Na época, a filha mais velha era casada com outra mulher.
O primeiro casamento aconteceu em 2017 e Romuyuki e Flaviana foram padrinhos da cerimônia. Artesã, Vera lembra que Anaflávia decidiu casar “de uma hora para outra”, por isso a avó teve de correr para arranjar o vestido e confeccionar o buquê. A família sempre cita o episódio como evidência de que o casal lidava bem com o fato de Anaflávia ser homossexual. Também “de uma hora para outra”, ela teria rompido a relação e pedido para a ex sair de casa.
Descrita como ciumenta e possessiva, Carina já havia terminado outros dois relacionamentos estáveis antes de se envolver com Anaflávia. No primeiro casamento, com um homem, teve duas filhas biológicas. No outro, com uma mulher, adotou outra menina.
Ela e Anaflávia passaram a morar juntas no Jardim Santo André, uma comunidade perto da casa da família, e se casaram em 9 de janeiro, pouco antes do crime. Parentes relatam não terem sido chamados e dizem que só ficaram sabendo da união mais tarde. 
“Com o passar do tempo, Anaflávia passou a se distanciar cada vez mais da família”, diz Reis. De acordo com parentes, Carina exerceria uma espécie de “domínio” sobre a mulher e acabou sendo proibida de frequentar a casa após conflitos com Romuyuki. O episódio central aconteceu após o pai presentear Anaflávia com um Fiat Palio. Em seguida, a filha teria sido obrigada por Carina a passar o carro para o nome dela.
A advogada Isabel Cristina Rotta afirma que as duas protagonizavam “brigas normais de casal” e que não haveria grandes conflitos entre o casal e a família de Anaflávia – exceto “um pouco de aversão” de Romuyuki que tomava partido da filha durante essas desavenças. “Ela frequentava a casa, saía com eles. Estavam sempre perto”, diz.

O crime.

Ainda de acordo com a advogada, a ideia do suposto assalto teria surgido porque todos os envolvidos estariam passando por “dificuldades financeiras”. O plano começou a ser traçado ainda no ano passado.
Para a Polícia Civil, outras três pessoas – incluindo dois primos de Carina – participaram dos homicídios. Além do casal, também estão presos Juliano de Oliveira Ramos Júnior (um dos primos) e Guilherme Ramos da Silva, um amigo delas. O outro parente, Jonathan Fagundes Ramos, está foragido.
Naquela noite, a quadrilha usou o Fiat Palio para entrar no condomínio. Uma vez na casa, rendeu Romuyuki e Juan Victor – inicialmente, ela e Carina ainda simulavam serem vítimas do assalto. Flaviana só chegaria mais tarde e também acabou rendida.
Armados com pistola glock, os criminosos teriam amarrado pai e filho com fitas adesivas. Depois passaram a bater neles e a sufocá-los com um saco plástico, enquanto exigiam a senha do cofre. Com medo, o jovem chegou a urinar nas calças.
“Naquela euforia toda de não saber a senha, eles passaram a agredir os dois e a coisa saiu do controle”, diz Isabel. “Anaflávia começou a chorar e aí ameaçaram matar as duas, se não colaborassem. Eles tomaram conta da situação.”
Após descobrir que não havia a quantia de R$ 85 mil, os comparsas teriam decidido executar a família, segundo afirma a defesa do casal. Elas não saberiam dizer como os assassinatos aconteceram, diz Isabel.
“Anaflávia está abaladíssima. Ela falou que, se soubesse que alguma coisa fosse dar errado, não teria feito. Nunca pensou que iria perder a família por causa disso”, diz a advogada. Já Carina estaria arrependida e com “sentimento de culpa”. “Elas não imaginaram esse final.”
Já a versão de Juliano é diferente. À polícia, ele diz que as duas participaram ativamente da ação e deram aval para as mortes. Anaflávia teria concordado por causa de uma suposta herança de um seguro de vida feito pelos pais.
Agora, os investigadores trabalham para confirmar o papel específico de cada um. Com o processo sob segredo de Justiça, um policial comentou em anonimato: “Muitos ficam dizendo que Carina que é a cabeça. Pode até ser. Mas, honestamente, eu não sei ainda. O que é certo é que eu não chamaria nenhum dos cinco para tomar um cafezinho na minha casa”.
No dia seguinte ao crime, os muros do condomínio amanheceram pichados com a palavra “Justiça”. “Queremos respostas”, havia em outra inscrição.
Também foi nessa ocasião que a avó Vera chegou a entrar, de fato, no imóvel. Lá, percebeu os objetos espalhados pelo chão, o cofre escancarado e marcas de sangue no quarto de Juan Victor. Desde então retorna – dia sim, dia não – para alimentar as cachorrinhas, mas não passa da área externa.
“Sempre que eu via um caso na TV, pedia a Deus para consolar a família. Agora me vejo nessa situação... Se eu chorar é porque a dor é grande demais, mas estou forte. Tenho Deus. Não quero a pena de ninguém, só peço que rezem”, diz a avó.
Para ela, o crime tem motivo. “A ganância subiu à cabeça, infelizmente”, afirma Vera. “Perdoar (a neta), já perdoei, mas eu quero Justiça. Eu vou até o final, tenho de saber toda a verdade. Preciso disso."

Coronavírus na China faz despencar cotações de commodities brasileiras, OESP

Cristiane Barbieri, Fernanda Guimarães, Wagner Gomes, Matheus Piovesana, O Estado de S.Paulo
09 de fevereiro de 2020 | 05h00

A cotação dos principais produtos exportados pelo Brasil despencou após o aparecimento do surto de coronavírus na China, o principal comprador das commodities nacionais. Desde a segunda quinzena de janeiro (quando o coronavírus começou a ter efeito nos mercados globais), o preço da soja em grão caiu 5,13%, o do petróleo recuou 15,5% e o minério de ferro teve retração de 14,3%. Em 2019, esses três produtos responderam por 78% das vendas externas brasileiras – que totalizaram US$ 177,3 bilhões.
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Disseminação do coronavírus afetou o preço das commodities agrícolas e minerais Foto: Clayton de Souza/Estadão
Para analistas, mais do que qualquer escassez de insumos da indústria, o principal impacto de uma crise mais longa provocada pelo coronavírus para o Brasil deve ser exatamente na balança comercial. “Se a epidemia (na China) continuar, pode afetar ainda mais profundamente os preços de alguns produtos de exportação relevantes, como minério de ferro, petróleo e soja”, diz Welber Barral, sócio da BMJ Consultores Associados e ex-secretário de Comércio Exterior. “A questão é o tempo que vai durar a epidemia.”
Especialistas afirmam que ainda é muito cedo para dizer de quanto será esse impacto. 
Consultores da área de mineração, por exemplo, ainda não veem a necessidade de mudança de estratégia por parte das empresas. Até porque, afirmam, não haveria muito o que fazer, uma vez que a China compra hoje 64% de todo o minério de ferro produzido no Brasil, segundo a BMJ. 
“Com as premissas de que o governo chinês manterá os estímulos à economia, que a questão do coronavírus se dissipe ainda no primeiro semestre e as usinas voltem, no segundo semestre, em ritmo mais forte, a demanda por minério de ferro será impulsionada e, assim, puxará os preços”, afirma Yuri Pereira, analista da XP.

Novos mercados

De todo modo, a Petrobrás começou a se movimentar tão logo as engrenagens chinesas passaram a reduzir o ritmo. A China consome quase 65% do petróleo produzido pelo Brasil e também é o maior destino das exportações da estatal, que disse estar pronta para buscar novos mercados, caso haja queda na demanda chinesa. Para a estatal, o petróleo do pré-sal é muito bem aceito na Europa por seu baixo teor de enxofre. “A Petrobrás entende que os preços internacionais e fluxos se ajustarão naturalmente e a companhia está pronta para se adequar a um eventual novo cenário”, afirmou a estatal.
É claro que conquistar clientes não será simples. “O Brasil tem duas possibilidades: tentar exportar petróleo para quem já compra ou ir para novos mercados”, diz Shin Lai, analista da empresa de análises de investimentos Upside Investor. “Só que essas estratégias também estão sendo analisadas por todos os outros países exportadores.”