quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Bolsonaro faz escola no Ministério Público da União,FREDERICO VASCONCELOS FSP

A intervenção de Augusto Aras na Escola Superior do Ministério Público da União (ESMPU) confirma sua afinidade com o estilo do presidente Jair Bolsonaro, tendência identificada quando o PGR ainda preparava o terreno para esvaziar a lista tríplice da categoria e suceder a Raquel Dodge sem submeter seu nome aos pares.
A interferência autoritária foi vista como uma tentativa de aparelhamento da escola que cuida da profissionalização de procuradores e servidores do Ministério Público da União.
Aras havia afirmado que existia uma “linha de doutrinação”, um alinhamento à esquerda.
O editor deste Blog fez exposições em “Cursos de Ingresso e Vitaliciamento para Procuradores da República” na ESMPU, em 2013 e 2014, em Brasília, nas gestões dos PGRs Roberto Gurgel e Rodrigo Janot.
Nas duas ocasiões, dividiu a mesa com a professora Maria Tereza Sadek, da USP, especialista em pesquisas sobre o Judiciário. Em clima democrático, cada um apresentou sua visão sobre a imagem externa do Ministério Público Federal, com total liberdade de crítica.
Há dúvidas se o tema estará entre as prioridades pedagógicas da nova gestão da escola.
Para o ex-procurador-geral Cláudio Fonteles (2003/2005) há o risco de se tolher a independência da escola, revelam Chaib e Valadares. “Toda e qualquer atitude pessoal do procurador-geral, revogando mandatos em curso, tem claro viés autoritário”, diz Fonteles.
O novo diretor da ESMPU é o subprocurador-geral Paulo Gustavo Gonet Branco. Seu nome foi antecipado internamente no início de dezembro.
Semanas antes do anúncio de Augusto Aras como sucessor de Raquel Dodge, Bolsonaro recebeu Paulo Gonet, fora da agenda.
O subprocurador-geral é ex-sócio do ministro Gilmar Mendes no IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público). Mendes e Gonet são autores da obra “Curso de Direito Constitucional”.
Entre os escolhidos para compor o conselho da ESMPU está o procurador regional Guilherme Schelb, do Distrito Federal, que conta com a simpatia do presidente Bolsonaro. O procurador é defensor do projeto Escola sem Partido.
Em 2007, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) censurou Schelb, acusado de tentar captar recursos de empresas ou entidades para um projeto empresarial que criou.
O procurador Sidney Pessoa Madruga foi nomeado suplente na coordenação de ensino da ESMPU na vaga indicada pelo MPF (Ministério Público Federal), informa a Folha.
No ano passado, atuando como procurador regional eleitoral do Rio de Janeiro, Madruga quis encerrar uma investigação contra o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) sem realizar nenhuma diligência.

Ouvidor da Polícia de SP é substituído por Doria no dia da divulgação de balanço de ações, FSP

O governador João Doria (PSDB) decidiu não reconduzir para o cargo o atual ouvidor da Polícia, Benedito Mariano, e, para seu lugar, escolheu o terceiro da lista tríplice, o advogado Elizeu Soares Lopes, que trabalhou na gestão Fernando Haddad (PT).
A decisão causou surpresa por ter ocorrido sem nenhum aviso prévio e no mesmo dia em que a Ouvidoria apresentaria seu balanço anual de trabalho que apontou, entre outros fatos, a explosão de mortes de civis provocadas por policiais da Rota, a tropa de elite do estado. 
 “Fui pego de surpresa. Fiquei sabendo às 8h30 de hoje. Ninguém do governo sinalizou de que teria a decisão”, disse Mariano.
"O governador foi muito deselegante comigo", afirmou ele.
Ouvidor Benedito Mariano
Ouvidor da Polícia de São Paulo, Benedito Mariano, fala sobre balanço anual de ações e de sua saída do cargo - Rogério Pagnan/Folhapress
Ligado ao PC do B e ao movimento negro, o novo ouvidor foi secretário adjunto de Promoção da Igualdade Racial da gestão de Fernando Haddad (PT) na Prefeitura de São Paulo. 
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Ele também atuou como chefe de gabinete da deputada estadual Leci Brandão (PCdoB).
Lopes é crítico do atual governador. No Twitter, em 2016, quando Doria disputava com Haddad a vaga de prefeito, o advogado criticou o tucano durante um debate. Ele escreveu que Haddad estava indo bem e que “o Doria é um fiasco, não fala lé com cré”.
Mariano havia sido o mais votado em novembro de 2019 para formação de uma lista tríplice. Todos os nove conselheiros do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Estado de São Paulo) votaram pela condução do atual ouvidor, incluindo o representante do governo paulista. Lopes foi o terceiro da lista com cinco votos.
 
Durante visita ao interior de São Paulo, ao ser questionado por jornalistas, o governador João Doria foi econômico a falar sobre o assunto. “É listra tríplice e, portanto, cabe ao governador escolher um dos três nomes. E foi feita a escolha. Ponto final.”
A decisão foi publicada no Diário Oficial desta quinta-feira (6) e quebra uma tradição da Ouvidoria, criada na gestão Mário Covas (PSDB), de sempre reconduzir o ouvidor para mais dois anos de mandato.
Deputados vinham pressionando Doria a não manter Mariano. O líder do governo na Assembleia Legislativa, Carlão Pignatari (PSDB-SP), chegou a dizer que Mariano é “mau-caráter” e deveria sair do posto. A situação piorou após ele criticar ação da PM em Paraisópolis
“Acho que pesou a Ouvidoria estar muito atuante. Esse foi principal ponto”, disse Mariano.
“Talvez o governador não nomeou foi pelo que eu fiz e não pelo que eu não fiz. Esses dois anos, dos 25 de existência, foram os anos de maior atuação da Ouvidoria. Nós produzimos uma pesquisa sobre força policial, inédita no país. Produzimos uma pesquisa sobre suicídio policial, inédita no país. Então, foi o ano de maior produtividade da Ouvidoria.”
Pela lei, cabe ao governador escolher qualquer um dos nomes da lista tríplice e não necessariamente o mais votado. A divulgação no Diário Oficial é irreversível.
“É legítimo escolher o terceiro, [mas] como nunca aconteceu do atual ouvidor não ser reconduzido, faltou delicadeza de ao menos avisar uma semana antes. Para avisar a equipe, preparar uma transição. Foi deselegante por parte do governador. Ele foi deselegante comigo.”
Mariano disse que, na semana passada, recebeu uma ligação do secretário-executivo da Polícia Militar, Álvaro Camilo, informando que a cúpula da Segurança Pública levaria ao governador Doria um pedido de recondução dele ao cargo em reconhecimento ao bom trabalho.
“Para mim, isso é muito caro. No período em que a Ouvidoria foi mais atuante, não criou tensão com o gabinete do secretário e com o comando das duas polícias. O governador não quis conduzir um ouvidor que tinha apoio das polícias e do secretário da Segurança Pública.”
O presidente do Condepe, Dimitri Sales, que estava com Mariano na apresentação do balanço dos trabalhos do Ouvidoria, disse considerar que o governador tomou uma decisão política para atender pedido dos deputados. “Essa decisão ocorre no contexto de disputa dentro da Assembleia Legislativa. Lá existem dois projetos, um querendo extinguir a Ouvidoria da polícia e outro para extinguir o Condepe."
"Nesse contexto, me parece que decisão do governador João Doria tem a ver com a disputa interna dentro da Assembleia, dentro da bancada da bala, por conta da autonomia da Ouvidoria do Condepe.  Me parece que atende à pressão da bancada da bala e sacrifica o ouvidor para agradar essa bancada.” 
Ainda segundo o presidente do Condepe, declarações de Mariano sobre a ação da PM em Paraisópolis, que terminou com a morte de nove pessoas, pesaram na decisão do governo. “Me parece, atende a pressão da bancada da bala e sacrifica o ouvidor para aguardar essa bancada”, disse.

PARAISÓPOLIS

Moradores da favela de Paraisópolis protestam contra a violência policial que, segundo eles resultou na morte de nove pessoas durante baile funk - Marlene Bergamo/Folhapress
De acordo com o ouvidor, ele deixa o cargo antes de terminar o relatório sobre o caso de Paraisópolis que iria detalhar os erros cometidos pela Polícia Militar na ação. O documento teria como base o inquérito da Polícia Civil, com mais de 1.100 páginas.
Mariano disse que a analise dessa documentação reforçou as declarações dadas por ele na época. “Eu só iria detalhar o que havia dito. A ocorrência de Paraisópolis foi improvisada, precipitada e desastrosa, dialogou diretamente com o resultado trágico. [...] Uma ocorrência com nove mortes não pode ser considerada uma boa ocorrência. Mesmo que as mortes tenham sido de maneira indireta”, disse.
No documento que vinha sendo elaborado haveria um mapa mostrando a localização de cada viatura na ocorrência, o que, segundo o ex-ouvidor, demonstraria a falha dos policiais. “A localização das viaturas no baile funk mostrava que a ação não seguiu o próprio manual da PM sobre intervenção em controle de distúrbios civis, que é deixar o máximo de rotas de dispersão”, disse.
Para o sociólogo, o novo ouvidor nem terá como produzir um relatório por não ter acompanhado o assunto até agora. O dele, segundo diz, morre com sua saída. “Não vai ter relatório de Paraisópolis deste ouvidor, porque não tem sentido eu ter uma manifestação pública de relatório como cidadão. Eu faria um relatório pela Ouvidoria da Polícia, a visão da Ouvidoria sobre a ocorrência sobre Paraisópolis”, disse.

RELATÓRIO

Um dos destaques do relatório de prestação de contas da Ouvidoria é quantidade de pessoas mortes pela Rota (tropa de elite da PM paulista), que praticamente dobrou no ano passado.
Segundo o balanço do ouvidor, com base em números da Corregedoria, os policiais desse grupo mataram no ano passado 101 pessoas durante o trabalho. Em 2018, foram 51.
Para Mariano, foi a letalidade dos homens da Rota que provocou uma elevação em todos os números do estado. Em 2018, a PM matou 642 pessoas durante a intervenção policial. No ano passado, foram 716. Somando as duas polícias, as mortes decorrentes de intervenção policial foram de 655 para as 733 anotadas, na mesma comparação dos anos.
A reportagem entrou em contato com o coronel Álvaro Camilo, mas ainda não teve resposta.
Folha também tentou um posicionamento do secretário da Segurança, João Camilo Pires de Campos, e o governador João Doria, mas nenhum deles se manifestou ainda.
Em nota, a Secretaria da Justiça da gestão Doria informou que "a escolha de um novo mandato de Ouvidor das Polícias a cada dois anos é uma regra prevista pela Ouvidoria. Por se tratar de um cargo de fiscalização indicado por representantes da sociedade civil, cuja função é ser o porta-voz da população, a escolha é baseada estritamente em critérios técnicos."
 

Mamãe Falei se filia a partido que 'namorou' Bolsonaro e mira Prefeitura de SP,FSP

SÃO PAULO
deputado estadual Arthur do Val, o youtuber Mamãe Falei, se filiou ao Patriota para concorrer à Prefeitura de São Paulo neste ano. No sábado (1º), em uma convenção partidária, o comando do diretório municipal da sigla foi entregue a ele. 
Arthur escolheu como presidente do diretório paulistano de sua nova legenda Renato Battista, um dos coordenadores nacionais do MBL (Movimento Brasil Livre), grupo do qual o deputado faz parte. O plano é lançar sua candidatura em evento após o Carnaval. 
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O deputado estadual Arthur do Val, o Mamãe Falei, em seu gabinete na Assembleia Legislativa - Eduardo Knapp/Folhapress
O Patriota quase foi o partido de Jair Bolsonaro na eleição de 2018, mas o presidente recuou e fechou com o PSL, do qual também acabou se desfiliando em 2019. Ele busca fundar seu novo partido, a Aliança pelo Brasil. 
"Está tudo certo do ponto de vista jurídico para a candidatura de Arthur. Pelas ideias que ele defende, pela idade, ele está apto a ser o candidato do Patriota à Prefeitura de São Paulo", diz Adilson Barroso, presidente nacional do partido. 
"O Patriota foi o único partido que aceitou minha intenção de ser candidato à prefeitura sem fazer negociações espúrias, sem que eu tivesse que dar nada em troca, o que me deixou muito feliz", disse Arthur. 
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"São Paulo está parada no tempo, tem muitos espaços abandonados, tem a cracolândia que é um Estado paralelo. Precisamos de alguém com coragem para enfrentar, inclusive, o crime organizado", completou o deputado. 
Arthur, que foi o segundo deputado estadual mais votado (com 478 mil eleitores), é conhecido pelos discursos inflamados e pelas polêmicas na Assembleia Legislativa, onde exerce seu primeiro mandato. Foi eleito pelo DEM, mas terminou expulso do partido em novembro passado por fazer críticas à cúpula do próprio partido e também ao governador João Doria (PSDB). 
Sua maior polêmica se deu no mês seguinte, quando chamou sindicalistas que acompanhavam a sessão de vagabundos. Deputados petistas reagiram e ameaçaram agredi-lo, o que gerou uma confusão no plenário. Em entrevista à Folha, Arthur afirmou que sua postura como prefeito seria diferente. 
Apesar de defender ideais de direita, como o liberalismo econômico, e se definir como conservador, ele é rompido com o bolsonarismo —o MBL costuma fazer críticas ao presidente. 
Arthur, no entanto, chegou a flertar com o ex-partido do presidente, o PSL, que hoje é comandado em São Paulo por desafetos do bolsonarismo. A costura esbarrou na deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), que pretende ser candidata a prefeita pelo partido e não abriria mão por Arthur. 
No PSL, o youtuber teria mais tempo de TV e maior fundo partidário. Mas ele também não abriu mão de ser cabeça de chapa e não cogita ter Joice como vice. As conversas com o PSL, iniciadas em janeiro, não estão encerradas —mas as chances de um casamento são mínimas e, por isso, o acordo com o Patriota foi firmado. 
No fim do ano passado, Arthur também chegou a conversar com Andrea Matarazzo (PSD), outro que pretende ser candidato à Prefeitura de São Paulo. Houve o mesmo problema: nenhum deles estava disposto a renunciar à candidatura para ser vice do outro. 
O prefeito Bruno Covas (PSDB) buscou trazer o Patriota para seu arco de alianças à reeleição e chegou a oferecer à sigla a prefeitura regional da Casa Verde. O partido, no entanto, resolveu lançar candidatura própria. 
Arthur está filiado no Patriota desde 18 de dezembro, mas não divulgou esse fato enquanto ainda conversava com outras legendas. 
O vereador Fernando Holiday (DEM), que é candidato à reeleição, deve acompanhar Arthur e migrar para o Patriota na janela partidária deste ano. A chapa de vereadores do partido ainda terá o advogado Rubinho Nunes, do MBL, como candidato.