domingo, 8 de julho de 2018

Criada para produzir até 2.000 vagões por ano, fábrica faz primeira entrega, FSP

Inaugurada em março, mas em operação desde janeiro, a Randon iniciou a entrega do primeiro lote de vagões ferroviários produzidos em sua fábrica em Araraquara (a 273 km de São Paulo), região que tem atraído empresas do setor nos últimos anos.
O primeiro lote de vagões foi destinado à MRS, concessionária que administra 1.643 quilômetros de trilhos em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e transporta principalmente cimento, bauxita, produtos agrícolas, siderúrgicos, carvão e minério de ferro.
Foram investidos R$ 100 milhões na unidade, que foi lançada em outubro de 2014.
O total de vagões adquiridos pela empresa não foi informado. São modelos plataforma, projetados para transportar materiais siderúrgicos e contêineres, com destino aos portos. Além dos vagões, a unidade de Araraquara produz semirreboques para o transporte de cana-de-açúcar.
“A fábrica tem vantagem por operar em dois segmentos, então está menos suscetível a paradas por problemas [na economia] em um ou outro mercado. Claro que tem a ver com a competitividade do Brasil”, disse Sandro Trentin, diretor de tecnologia e inovação da Randon e diretor da unidade de Araraquara.
A empresa ingressou no segmento ferroviário em 2004 e, atualmente, vê no setor de 15% a 20% de sua receita. Inicialmente, a produção tem como destino o mercado nacional, que viu crescer a produção ferroviária em 170% desde o início das concessões do setor, há 21 anos, segundo dados da ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários). Nos próximos cinco anos, devem ser investidos mais de R$ 25 bilhões no setor.

Vagão semirreboque para trens produzido em Araraquara (M. Scalco/Divulgação)

A Randon se instalou numa região que está se tornando um polo do setor.
Além da rede ferroviária que corta os municípios do entorno de Araraquara –que tem um grande pátio ferroviário–, a cidade também abriga uma unidade da Hyundai Rotem Brasil, inaugurada há dois anos e que também teve investimentos de R$ 100 milhões em sua fábrica.

Cidade do interior de SP exibe bom e mau exemplos de preservação ferroviária, FSP

Marcelo Toledo
Onde não há mais trilhos, o prédio está conservado. Onde a linha férrea ainda existe, a antiga estação está totalmente abandonada.
Os controversos cenários descritos acima convivem a poucos quilômetros de distância em Estiva Gerbi (a 168 quilômetros de São Paulo), município da região de Campinas.
A primeira estação, cujo prédio está conservado, manteve as características originais e atualmente abriga uma delegacia de polícia.
A história da estação teve início em 1897, ano em que foi inaugurada oficialmente pela Companhia Mogiana de Estradas de Ferro.
Dez anos depois, o prédio passou por reformas e, desde então, Estiva Gerbi –hoje com 11.067 habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)– se desenvolveu.
A estação funcionou até 1979, quando foi desativada e deu lugar a outra, localizada fora da área urbana do município.
Esta tem os trilhos até hoje, mas… só tem isso. Já sob gestão da Fepasa (Ferrovias Paulista S.A.), transportou passageiros por 18 anos, até a interrupção das operações da linha, em 1997.
No mesmo ano, o estado assinou contrato com o governo federal, que resultou na incorporação da Fepasa à Rede Ferroviária Federal.
As últimas duas décadas foram marcadas pelo abandono da estação, com vidros quebrados, portas arrancadas, pichações e muito lixo no interior do prédio.

Estação da Fepasa completamente abandonada em Estiva Gerbi (Silva Junior/Folhapress)

A história da cidade, aliás, está ligada intimamente à ferrovia, inclusive no nome. Embora seja um dos mais novos municípios paulistas, Estiva Gerbi tem trajetória que iniciou em 1878, quando trabalhadores chegaram à região para construir o prolongamento da linha férrea a partir de Mogi Mirim.
Segundo a prefeitura, surgiu um imprevisto quando a linha chegou perto do rio Oriçanga e era preciso romper uma área de alagamento. Isso obrigou os empregados a estivar, marcando com galhos e folhas os locais para serem aterrados para que os trilhos pudessem passar.
Da palavra surgiu o nome da estação e, posteriormente, da cidade –a emancipação de Estiva Gerbi ocorreu apenas em 1991. O Gerbi do nome se deve à família do empresário Lourenço Gerbi, que tinha uma indústria de cerâmica com essa denominação.

Diz aí, vai, quem ganhou?, FSP

Você, habitante do futuro, sabe quanto foi Brasil x Bélgica, enquanto eu não

Meu deadline para a crônica deste domingo é sexta-feira, três horas da tarde. O deadline para o Brasil nas quartas de final é sexta-feira, cinco horas da tarde —mais meia hora de prorrogação, em caso de empate, mais os pênaltis, em caso de enfarte.
Assim sendo, você, habitante do futuro, sabe quanto foi Brasil x Bélgica, enquanto eu, nesta prisão de pigmento e celulose, não —e a menos que nas próximas horas surja um DeLorean deixando uma freada de fogo nos tacos da sala e Marty McFly desça pra me dar um spoiler, terminarei o texto ignorando se ganhamos ou perdemos. 
Curioso pensar como podem ser distintos os jornais de amanhã (mais conhecido por vocês como "ontem"). Se vencermos —e vencermos bem—, colunistas como eu decretarão que é uma nova fase no futebol brasileiro, que o jogo coletivo do Tite dá harmonia aos talentos individuais, que o país deveria se espelhar na seleção; não faltarão aqueles que verão, no bom momento do time, a possibilidade de melhora em outros campos. 
Já se perdermos, especialmente se tomarmos um chocolate belga, nos regozijaremos chafurdando na lama da desesperança, duzentos milhões de Neymares estrebuchando sob o pisão do destino: "Esse país é uma droga", "nada nunca vai dar certo", "vou-me embora pra Pasárgada", "a solução é alugar o Brasil".
Não vejo exagero em qualquer uma das visões. Sou escritor. Trabalho com metáforas e metonímias. Acredito no futebol oráculo, no ludopédio Tirésias, estou até hoje tentando interpretar o 7 x 1 de Delfos.
Nada me tira da cabeça que aquela goleada destampou uma caixa de Pandora nacional, foi um refluxo cultural cujo amargor seguimos sentindo na boca. Quatro gols em seis minutos pariram um buraco negro que engoliu a economia, a política, a esperança. Klose, aos 23', instaurou a recessão. Kroos, aos 24' e 26', sacramentou Eduardo Cunha. Khedira, aos 29', abriu caminho pro Bolsonaro. Mas tenho esperanças, meu amigo, sentado aqui na cômoda poltrona de antanho, ignorando alegremente o que o destino nos reserva, tenho esperanças de que as engrenagens desparafusadas pelos gols, pelos gols hão de voltar pros eixos.
Não, não é ingenuidade minha. Os marxistas acreditam que a economia é o motor da cultura, que as relações de produção expelem o pensamento de uma época como um carburador expele fumaça. 
Max Weber é mais poético. A cultura é uma espécie de nuvem que emana de inúmeras evaporações. Uma nuvem capaz de se mover pelo espaço e pelo tempo, fazendo chover ideias aqui e ali, irrigando a realidade. O futebol é um vaporzinho nesta nuvem. 
Meu tio avô dizia que "desmantelo só quer começo", por isso não deixava uma lâmpada queimada, uma calota rachada, um pente desdentado sobre a pia do banheiro: consertava tudo correndo, antes que o desmantelo se instalasse. Concordo com ele. Mas o reerguer-se também pode começar assim, por acaso. Uma música no rádio. O telefonema de um amigo. Uma vitória na Copa. Quem sabe? 
Se eu achasse que o futebol não tem qualquer importância não estaria agora, às 14:58 da sexta-feira, molhando o teclado com o suor dos meus dedos. Parafraseando o oráculo Nelson: sem esperança não se chupa nem um Chicabon. Ou um moules-frites. (Diz aí, vai? Quem ganhou?).
Antonio Prata
Escritor e roteirista, autor de “Nu, de Botas”.