domingo, 25 de agosto de 2013

Luz engarrafada' sai de Minas e conquista pelo menos 15 países


Invenção de um morador de Uberaba ainda aguarda investidores para ganhar mercado

25 de agosto de 2013 | 2h 09

Rose Dutra / UBERABA - Especial para O Estado de S.Paulo
Morador de Uberaba (MG) desde 1980, o mecânico natural de Itajaí (SC), Alfredo Moser, 61 anos, inventou em 2002 a "luz engarrafada". O produto, criado para economizar energia e preservar o planeta, já beneficia milhares de pessoas pelo mundo. A "lâmpada de Moser" está em uso em pelo menos 15 países, entre eles Filipinas, Bangladesh, Índia, México, Colômbia.
Mesmo com todo esse sucesso, Moser, que concluiu apenas o ensino fundamental, permanece vivendo com extrema simplicidade ao lado da esposa Carmelinda, com quem é casado há 35 anos, e do filho Samuel, de 27 anos. Sua consciência ecológica e sua postura solidária impressionam.
"Nunca pensei em ficar rico, mas sim em ajudar a população, pois a energia elétrica é muito cara, e em contribuir para a preservação do planeta," diz. Dependendo da força do calor, segundo mediu um engenheiro da Cemig, a "lâmpada de Moser" é de 40 a 60 watts.
Além de usar sua lâmpada em casa, Moser já a instalou em casas de vizinhos e até em um supermercado do bairro. Ademar Bernardes Júnior, dono do estabelecimento, quer ampliar o uso da iluminação, que atualmente é restrita ao depósito, também para outros ambientes do supermercado.
"Eu gostaria que as autoridades políticas apoiassem a iniciativa que vem ao encontro do conceito de sustentabilidade", diz Bernardes Júnior.
A "lâmpada de Moser" já é usada em áreas mais pobres em estufa para a produção de alimentos. Há casos em que a economia com energia, de aproximadamente 30%, permitiu que a família carente comprasse o enxoval do bebê. E ele revela que já consegue colocar sua lâmpada até em casas com laje, utilizando baldes de plástico.
No Brasil, além de em Uberaba, sua lâmpada também é usada em Santa Catarina, instalada por um primo; em Osasco (SP), no Núcleo de Educação Ambiental, no Parque Chico Mendes; em Brasília e no Piauí.
Investidor. O sonho de Moser é que uma empresa se interesse pela sua invenção e possa investir em tecnologia para que ela tenha um formato mais decorativo, ilumine mais e também à noite. É que a lâmpada inventada por ele, usando garrafa pet com água e duas tampinhas de água sanitária, instalada no telhado com massa plástica, depende da luz do sol. "Eu já sei como fazer ela clarear à noite, mas preciso de apoio financeiro."
Moser já procurou políticos das esferas municipal, estadual e federal, mas ainda não conseguiu apoio para registrar o seu invento nos órgãos competentes. "O governo deveria ter um órgão de acesso fácil pelos inventores para patentear seus produtos, até porque cada invento movimenta diversos segmentos da economia", observa. Moser mostra uma lista de vários locais que já o instruíram a procurar, mas ele não possui recursos financeiros para cobrir os gastos com viagens. "Se gasta muito dinheiro para ir ao espaço, por exemplo, e coisas simples assim dificilmente têm respaldo", lamenta.
Nas Filipinas, o diretor executivo da Fundação MyShelter, Angelo Illac Diaz, segundo ele, conseguiu apoio e começou a fazer as lâmpadas em 2011, que já iluminam 140 mil casas.
"Isso é o que me deixa emocionado. Ver a alegria de pessoas que vivem na pobreza terem luz em casa sem custo nenhum", enfatiza. A luz engarrafada representa uma revolução, pois é limpa, eficiente e sem custo. Ele se emociona ao dizer que deixará um legado importante para a humanidade, pois esta será a luz do futuro, já que daqui a milhões de anos a água vai acabar e a "lâmpada de Moser" ilumina com energia solar. Seu projeto ganhou projeção nacional com a aprovação de engenheiros de centrais elétricas.
Tudo começou quando Moser trabalhava em Brasília, na década de 70. Como as quedas de aviões eram constantes, ele se preocupou em criar formas de sinalizar a ocorrência de acidentes. O chefe dele disse que se fosse necessário bastaria usar uma garrafa de vidro com água que refletiria o sol e pegaria fogo no capim. A fumaça sinalizaria e ele guardou a ideia sempre pensando em aperfeiçoá-la, mas sem o uso de vidro. Por isso optou pela garrafa pet.
Filho de pai de origem italiana e mãe de origem alemã, Moser foi trabalhador braçal para ajudar os pais a arcar com as despesas para manter os seus 11 irmãos na escola. A maior alegria de Moser é que, antes de seus pais morrerem, estavam orgulhosos da invenção do filho.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Grupo americano Laureate compra FMU por R$ 1 bilhão


A rede Laureate já é dona da Anhembi Morumbi. A FMI tem cerca de 9 mil alunos e faturamento estimado de R$ 450 mi este ano

Naiana Oscar, do 


Wikimedia Commons
Sala de aula
Sala de aula: a FMU tem cerca de 90 mil alunos e faturamento bruto estimado para este ano de R$ 450 milhões
São Paulo - Uma das instituições de ensino superior privado mais cobiçadas do mercado, a paulistana FMU, foi vendida, por R$ 1 bilhão, para a rede americana Laureate, que já é dona da Anhembi Morumbi.
O negócio, que vinha sendo costurado há quase um ano, será anunciado oficialmente nesta sexta-feira, 23. Essa é a maior transação feita no setor desde a fusão que criou, em abril, o maior grupo de educação superior do mundo, com a união de Kroton e Anhanguera.
Fundada em 1968 pelo advogado Edevaldo Alves da Silva - ex-secretário de governo de Paulo Maluf e de Celso Pitta e hoje um octogenário -, a FMU tem cerca de 90 mil alunos e faturamento bruto estimado para este ano de R$ 450 milhões.
Embora não esteja no topo do ranking das maiores instituições privadas do País, a FMU sempre despertou o interesse dos concorrentes por ser uma marca forte no mercado mais importante para o setor de educação. Ela tem em torno de 40 prédios só na cidade de São Paulo.
Em 2008, a instituição começou uma guinada. Os donos contrataram um grupo de executivos da concorrente Uninove, entre eles Arthur Sperandéo de Macedo, para promover uma reestruturação que tirasse a rede da estagnação.
A FMU, que tinha como carro-chefe o curso de Direito e foi criada para atender o público das classes A e B, decidiu reduzir o preço das mensalidades em 25% para atrair alunos com renda mais baixa.
A empresa, que antes disputava universitários com instituições como PUC e Mackenzie, passou a concorrer diretamente com redes mais populares, como a Anhanguera. “Isso deixou a empresa ainda mais interessante”, disse um executivo do setor.
O problema é que o dono não tinha interesse de vender. “O professor Edevaldo fazia questão de dizer que não queria se desfazer do negócio”, disse um ex-funcionário da FMU. “Mas os filhos queriam e acabaram convencendo o pai.”
A venda para a Laureate inclui todas as unidades da FMU em São Paulo: Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), Faculdades Integradas de São Paulo (Fisp) e Fiam-Faam Centro Universitário.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Carajás é da China, Por Lúcio Flávio Pinto

A nova frente de produção que a Vale está abrindo em Carajás, no Estado do Pará, é superlativa. Trata-se do maior investimento as mineradora em toda a sua história, de 70 anos. Quando os 19,7 bilhões de dólares (em torno de 40 bilhões de reais) tiverem sido inteiramente aplicados, a mina de Serra Sul estará em condições de acrescentar 90 milhões de toneladas anuais à produção da ex-estatal. Com duas outras expansões na área, a província mineral de Carajás passará de 120 milhões para 250 milhões de toneladas por ano de minério de ferro.
Isso acontecerá em 2017, quando o Pará passará à frente de Minas Gerais como a maior fonte de minério de ferro da antiga Companhia Vale do Rio Doce. Será mais do que a relação de 250 milhões para 200 milhões de toneladas de produção entre os dois principais Estados mineradores do Brasil.
O minério de Carajás é mais rico e mais fácil de extrair. Com a exaustão de algumas jazidas de Minas, a Vale terá que se aventurar no seu Estado de origem pelo itabirito, minério mais duro e pobre, para manter a escala de produção.
A diferença mais importante, porém, é o destino da produção. Carajás consolidará a posição da Vale de maior vendedora interoceânica de minério de ferro do mundo. Seu minério, com teor de hematita superior a 66%, tem mercado garantido no exterior, enquanto o produto de Minas será cada vez mais destinado a abastecer o mercado nacional. Carajás será a principal mina de atendimento internacional que existe.
Daí a dimensão extraordinária do projeto de expansão. Enquanto a primeira jazida levou alguns anos para chegar ao seu tamanho de projeto, de 25 milhões de toneladas, S11D dará partida já com 90 milhões de toneladas na bitola.
A partir do início das obras de terraplenagem, que aconteceu no começo deste mês, essa meta será atingida em apenas quatro anos, graças às inovações e à diretriz de investir maciçamente no empreendimento, 30% maior do que o custo da polêmica hidrelétrica de Belo Monte.
O mundo tem pressa de se servir de um minério rico, fácil de extrair e de custo proporcionalmente inferior ao de qualquer outra mina das mesmas dimensões, em valores absolutos, embora sem o mesmo teor. Por isso, imune – ou, pelo menos, bem protegido em relação – às flutuações previstas para o setor pelos próximos anos. Uma fonte cativa para os grandes consumidores de minério, sobretudo as siderúrgicas asiáticas, à frente a China.
Mas isso interessa realmente ao Pará e ao Brasil? Numa entrevista que deu ao Valor, o geólogo Breno Augusto dos Santos, o primeiro a identificar o minério de ferro de Carajás, em 31 de julho de 1967 (cujos 46 anos da descoberta motivaram o interesse do jornal paulista), observou: “Se Carajás fosse na China, na Coréia ou na Alemanha, de lá estariam saindo automóveis, locomotivas ou computadores”. E logo acrescentou: “Mas essa não é uma função da Vale”.
Não é mesmo? Este é o aspecto chave da questão. A Vale se livra das responsabilidades pela exploração de minério bruto alegando ser apenas uma mineradora. Outras empresas deviam cuidar do beneficiamento. E o governo, principalmente, devia exercer o seu papel de fomentador desses investimentos.
A empresa não tem culpa se as outras partes não fazem o que lhes cabe. Daí a inexpressividade dos rendimentos que uma atividade de tão grande porte proporciona ao Pará.
O Estado não tem agregação de valor à sua riqueza natural e ainda é privado da receita tributária que essa atividade devia lhe oferecer, por causa da imunidade conferida às matérias primas e produtos semiacabados pela nefanda “lei Kandir”, de autoria do então deputado e economista de São Paulo, que lhe emprestou o nome.
Não é bem assim. O Programa Grande Carajás foi induzido pela então estatal CVRD durante o início do governo Figueiredo, o último do regime militar, a partir de 1980. Interessava à empresa ter um prospecto de aproveitamento econômico mais amplo, que valorizasse e legitimasse a concessão federal dada à ferrovia de Carajás.
Fazendo uma análise retrospectiva do “Carajazão”, delegado a um conselho interministerial, diretamente subordinado à presidência da república, pode-se chegar à conclusão de que foi um foguetório de ilusão, uma espécie de para-raios e habeas corpus a um projeto de mera extração mineral. Um boi atirado às piranhas para permitir a passagem da boiada de minério.
Mesmo com a Vale estatal já era difícil ao governo exercer controle sobre os impulsos da empresa e a teia dos seus interesses internacionais, criados, confirmados e cultivados por seus agentes, uma autêntica tecnoburocracia cosmopolita (cujo modelo é Eliezer Batista, o pai de Eike).
Essa lacuna se acentuou com a privatização. Tornou-se mais nítida a distinção entre os negócios feitos pela empresa no exterior e os interesses nacionais. Mais do que distinção, o antagonismo.
Ficou evidente o interesse da Vale em agradar aos seus grandes clientes chineses, japoneses e de outros países, sem os quais sua grandiosidade estaria comprometida. A empresa passou a atuar como viabilizadora desses interesses na medida em que se restringia à extração mineral em escala crescente para a exportação.
Adaptando a frase de Breno, pode-se dizer que nenhum governo na China, Coréia e Alemanha permitiria que uma empresa de mineração crescesse de forma a exercer controle total sobre o circuito da extração, transporte e exportação de matéria prima bruta, como faz a Vale no Brasil.
É por isso que sua parte de logística cresceram para dar suporte à sua atividade de mineradora. Ela se agigantou ainda mais, num esquema que tem proporcionado mais divisas ao país, como nunca, mas à custa da exaustão de uma riqueza natural não renovável, como o minério de ferro.
Tente-se calcular quanto o Brasil perdeu por não ter feito o beneficiamento do minério de ferro de Carajás. Um cálculo simples levará a muitos bilhões de dólares em quase 30 anos de extração maciça de minério bruto, que, no caso, é quase sinônimo de minério puro, tal a riqueza de hematita contida na rocha de Carajás.
Para se ter uma ideia da grandeza do novo capítulo que se inicia em Carajás, basta considerar que a Serra Sul possui 10 bilhões dos 18 bilhões de toneladas estimados de reserva, com teor médio de 66,5% de ferro. O primeiro corpo a ser lavrado nessa mineração, que leva a letra D do título do projeto, acumula 4,2 bilhões de toneladas, com nove quilômetros de extensão, a uma profundidade de até 250 metros.
Ao ritmo previsto, a jazida terá 40 anos de vida útil. Ao fim desse período, a maior mina de ferro do planeta será só lembrança – amarga e frustrante por certo, para os nativos. Chegará ao fim sem motivar qualquer reação dos paraenses, que veem o buraco ser aberto sem usufruir o melhor que o minério lhes poderia dar.