quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Antes os candidatos ofereceriam esperança, pelo menos de mentirinha, FSP

O pesquisador se aproxima do cidadão e lê o questionário: “Se as eleições fossem hoje e os candidatos fossem estes, para qual país o sr. gostaria de se mudar?”. A charge, um viral da internet criado a partir de desenho do gaúcho Kayser, é antiga. A piada está atualizadíssima.
Caso pudessem, 70 milhões dos 208 milhões de brasileiros iriam embora do país, como mostrou pesquisa recente do Datafolha. Entre os jovens, a proporção é de 2 a cada 3.
Os que tiveram chance já picaram a mula. As declarações de saída definitiva do país entregues à Receita Federal mais do que dobraram ao longo desta década. A desidratação escorre do topo da pirâmide: cerca de 12 mil brasileiros com mais de US$ 1 milhão se mudaram para o exterior nos últimos três anos, colocando o país entre os líderes da emigração de elite no mundo.
Charge de Kayser
Charge de Kayser - Kayser
Quem acredita que vai ligar a TV a partir desta sexta (31), início da campanha eleitoral, e ver as coisas clarearem está abusando do otimismo, para dizer o mínimo. Antigamente os candidatos apareciam na tela para oferecer esperança, mesmo que de mentirinha. Agora nem isso. 
Os presidenciáveis talvez nunca tenham sido tão entrevistados e sabatinados numa campanha, e isso só tem resultado em calor sem luz.
Do lado do eleitor, quem se entusiasma com a campanha e sai da toca não deixa a coisa mais bonita não. O debate na rua e nas redes rasteja no nível do chão. Discussões sobre propostas não duram três minutos. Em alguns círculos, a impressão que fica é que as pessoas simplesmente não estão mais nem aí. 
Enquanto isso, o governo fantasma coloca militares como policiais em diferentes cantos do país, sem que isso adiante de nada. Na fronteira de Roraima, os venezuelanos que fogem do péssimo para o ruim vão entrar num regime de senha para poderem ser atendidos. Quando chegarem aos postos de saúde, devem encontrar o Zé Gotinha redivivo lutando contra doenças que já não estavam mais por aqui.


Roberto Dias
Secretário de Redação da Folha.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Latam demite 1,2 mil funcionários após terceirizar serviços de solo, OESP

Beth Moreira, O Estado de S.Paulo
28 Agosto 2018 | 17h13
A Latam Airlines Brasil informa que está reduzindo seu quadro de colaboradores nos aeroportos de Guarulhos, em São Paulo, e do Galeão, no Rio de Janeiro em razão da transferência de toda a sua operação de rampa e limpeza (ground handling), gestão de equipamentos de solo (GSE) e atendimento a clientes com bagagens perdidas ou danificadas (Lost Luggage) para uma empresa terceirizada, a Orbital - WFS, empresa especialista nesta modalidade de serviços aeroportuários.
Segundo informações do Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos (Sindigru) foram 850 demissões em São Paulo. O número foi confirmado pela Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil (Fentac), que informa ainda outras 350 baixas no aeroporto no Rio de Janeiro. Procurada, a Latam não divulgou o número exato de demitidos, justificando que alguns colaboradores serão realocados.
Latam
Latam anunciou a demissão de 1,2 mil funcionários  Foto: Facebook/Latam
Em nota à imprensa, a companhia aérea diz que chegou a um entendimento com os sindicatos da categoria em Guarulhos e no Rio de Janeiro para que a empresa ofereça um pacote adicional às verbas rescisórias regulares aos funcionários que não tenham sido realocados em outras posições internas na Latam ou posições externas de empresas com as quais a Latam está trabalhando.
Entre as compensações oferecidas, a empresa cita seis meses de extensão dos benefícios: plano médico, odontológico e vale-alimentação e cinco bilhetes aéreos gratuitos para o funcionário e cada um dos seus beneficiários.
A empresa informa que a contratação do parceiro para realizar estas operações em Guarulhos e no Galeão é uma medida pontual, que se mostrou como a melhor alternativa para as necessidades da Latam Airlines Brasil neste momento. A decisão está em linha com o mercado nacional e faz parte de uma tendência mundial de contratação de serviços especializados.
"A Latam estabeleceu um sistema de gestão integrado com a Orbital - WFS para assegurar a eficiência e a manutenção da qualidade dos serviços prestados, que incluem carregamento de bagagens, traslado de aeronaves dentro do aeroporto, limpeza de cabines, entre outros", diz a empresa em nota.

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Escolhas de risco, Ruy Castro FSP

Outro dia sonhei que, em visita à aldeia tupinambá, fui convidado a almoçar pelo cacique Cunhambebe, sem perceber que, numa fase antropofágica, ele planejava me incluir no cardápio. Já sonhei também que fui jantar no restaurante do encouraçado Potemkin. Quem viu o filme de Eisenstein, de 1925, sabe que a comida do Potemkin era tão incomível e cheia de bichos que provocou uma revolta popular na Rússia de 1905. 
E imagine-se com sua namorada no Motel Bates. O dito motel é aquele de “Psicose”, o filme de Hitchcock, de 1960, em que o gerente, um tarado vestido de mulher, assassina quem se hospeda nele. Outro pesadelo: suponha-se na Vila Rica (MG) de 1792 com uma súbita dor de dentes. O único dentista à mão é um rapaz simpático e prestativo, mas que só sabe fazer extrações, o Joaquim José.  
Geraldo Alckmin, como médico, é especialista em anestesiologia
Geraldo Alckmin, como médico, é especialista em anestesiologia - Danilo Verpa - 10.out.08/Folhapress
E por aí vai. Essas situações se referem a riscos que podemos correr por desinformação ou erro de cálculo. Tome alguns dos atuaiscandidatos à Presidência. Conhecendo-os como políticos, como seria se os contratássemos nas profissões que originalmente exerceram?
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Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.