terça-feira, 11 de agosto de 2015

O nexo água-energia na capital paulista, por Sergio Pacca, in FSP



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Uma das questões ambientais emblemáticas na cidade de São Paulo é a limitação na operação da usina hidrelétrica Henry Borden que depende do bombeamento de água dos rios Tietê e Pinheiros para a Represa Billings.
Por meio de algumas estações de bombeamento a água é elevada algumas dezenas de metros pelo rio Pinheiros até a represa para, em seguida, ser conduzida por dutos forçados até os geradores elétricos localizados ao nível do mar em Cubatão. Trata-se de um magnifico projeto de engenharia que é viabilizado pela diferença entre a elevação do planalto paulista (700 metros) e o nível do mar.
Contudo, como a água dos rios Tietê e Pinheiros é muito poluída, o bombeamento da mesma para o reservatório só é possível em caráter emergencial visando o controle das cheias na cidade de São Paulo ou a prevenção da intrusão salina no rio Cubatão.
Atualmente, parte do reservatório Billings é utilizada para o abastecimento, mas grande parte não. As comunidades ao redor da represa também são uma fonte de poluição e o bombeamento de água do rio Tietê poderia agravar a qualidade do reservatório, que ainda serve como repositório do passado industrial poluidor da cidade.
Este quadro faz com que haja uma limitação na operação da usina hidrelétrica Henry Borden, que conta com 890 MW de potencia instalada. Uma relíquia pela proximidade desta geradora à maior região metropolitana do país.
Ou seja, atualmente temos uma usina com capacidade de gerar energia e um volume significativo de água poluída no rio Tietê. Dois recursos inúteis.
Sabe-se que o tratamento da água e o seu transporte dependem do consumo de energia. Nesse sentido, em vista da crise de abastecimento em que nos encontramos atualmente, é oportuno avaliarmos a recuperação da capacidade de geração de energia da Henry Borden como uma forma de alavancar a produção de água visando o abastecimento da região.
A osmose reversa é um processo que transforma água salgada em água potável. Tal processo também pode servir para despoluir a água. O processo depende em grande parte do trabalho de bombas e do consumo de eletricidade.
A viabilidade da ativação da Henry Borden e da produção de água potável depende da eficiência do processo de osmose reversa. Considerando que toda a eletricidade gerada pela Henry Borden fosse destinada à osmose reversa e considerando tecnologia comercialmente disponível.
Se para cada metro cúbico de água filtrada fosse necessário o consumo de 1,5 kWh de energia, seria possível operar a hidrelétrica com água limpa e ainda sobrariam cerca de 20 m3/s de água para o abastecimento da cidade. Além disso, a água turbinada na baixada santista também poderia ser utilizada para o abastecimento da região.
A operação da Henry Borden geraria uma receita de mais de R$ 100 mil por hora. Infelizmente, toda a energia gerada seria utilizada para produzir água e não poderia ser comercializada.
Contudo, em alguns momentos futuros de abundância, a água poderia ser transformada novamente em energia e a receita poderia ser utilizada para recuperar os investimentos feitos na infraestrutura necessária para viabilizar a operação do sistema Billings. "Se non è vero, è ben trovato".
SERGIO PACCA, 50, é doutor em energia e recursos pela Universidade da Califórnia, Berkeley eprofessor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP
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