Os políticos costumam ser julgados por suas vitórias eleitorais. Mas, no caso de José Serra, as derrotas são muito mais interessantes. A de 2002, para Lula, marcou a chegada do PT ao poder central no Brasil. A de 2010, para Dilma, renovou o projeto de poder petista e reduziu a oposição ao que ela é hoje. A de 2012, para Haddad, estabeleceu uma cabeça de ponte no coração do poder tucano.
E o que acontece em São Paulo não fica em São Paulo.
A vitória petista na capital do capital foi ainda a melhor notícia que o partido poderia ter depois do julgamento do mensalão, passível de ser embalada como uma resposta dos eleitores da cidade mais inteligente do país aos implacáveis veredictos de corrupção do STF. E uma resposta qualificada, já que a vitória de Haddad é atribuída a Lula, presidente do país na época do mensalão.
Em "Entreatos", o revelador documentário de João Moreira Salles sobre a campanha presidencial de 2002, Lula explica assim sua primeira vitória sobre Serra: "Ninguém tem a base de apoio no Brasil, o alicerce que eu tenho. Tenho grande parte da Igreja Católica, os estudantes, a CUT, é muita coisa, ninguém tem isso, teve isso".
De fato, era uma base impressionante. E ela só cresceu desde então.
Apesar de seu verniz de esquerda, o PT conseguiu espertamente capitalizar os benefícios que o capitalismo trouxe ao país, o último e maior deles, pleno emprego com renda recorde em plena crise global.
Essa emergência de dezenas de milhões de brasileiros ao mercado consumidor é um fenômeno de longa duração com efeitos multidimensionais. O PT é o partido que melhor conseguiu até aqui se atrelar a ele. E assim vai longe.
Haddad, por exemplo, é muito diferente do petista "histórico" que metia medo na antiga classe média conservadora. O futuro prefeito é de classe média alta, empreendedor, descontaminado de ideologias e radicalismos do século passado. Escolhido a dedo e no dedaço por Lula, renova o partido no caminho certo.
Serra, diante dessa avalanche, até que travou um bom combate. Mas ele parece estar com frequência no lugar errado na hora errada. Elegendo os postes de Lula.
Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos "Dinheiro" (2004-2010) e "Mundo" (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve às quintas no site da Folha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário