domingo, 11 de novembro de 2012

Lugar de bandido, por Jânio de Freitas


As medidas fixadas pelo acordo de conveniência entre os governos paulista e federal, para enfrentar a onda de criminalidade em São Paulo, capital, e seu entorno, só incluem uma que a experiência indica ser capaz de algum resultado em prazo mais curto --como a situação precisa. É contra tal medida que vêm de agentes penitenciários advertências suspeitas, dando-a como estimuladora de rebeliões de presos a título de reação do PCC & cia.
Iniciada com Fernandinho Beira-Mar, a transferência de chefes de bandos para o isolamento em penitenciárias de segurança máxima revelou, no Rio, efeitos surpreendentes e decisivos para que José Mariano Beltrame, secretário de Segurança, aplicasse o planejamento que vem mudando a cidade. O primeiro dos efeitos foi, com alcance até maior do que o esperado, conturbar todo o sistema entre hierarquia e ação do crime organizado. É o que interessa a São Paulo.
O governo paulista ainda não saiu da fase de dar prioridade à sua imagem. Em seguida à noite/madrugada de quarta para quinta com nove assassinados, o governador Geraldo Alckmin deixou de calar-se para dizer que os crimes "já estão em processo de queda". Na noite/madrugada seguinte, de quinta para sexta, a CBN noticiava 12 mortos e 11 feridos a tiros até as 9h. A queda vista por Alckmin era para cima.
Ainda sem saber sequer o motivo da repentina e persistente onda de criminalidade armada, o governo paulista e os "especialistas" ocupam-se em tergiversar com estatísticas comparativas entre Estados. Como o "especialista" coronel José Vicente, vários deles tiveram oportunidades cujo aproveitamento vê-se qual foi. Voltam, agora, ao mesmo truque das comparações usado quando a Folha o interrompeu, ao descobrir que as estatísticas criminais, em São Paulo, reduziam à metade os números reais.
Ao menos em relação às transferências de chefes, São Paulo precisa que suas autoridades paulistas deixem de subterfúgios verbais e adotem a providência na medida necessária. Sem ceder a alegadas cautelas com reação de presos à transferência dos seus chefes. O que no Rio começou pelas transferências já está no estágio de retirar a posse de fuzis por vários batalhões da PM, que voltam a ser mais polícia do que militar.
RESPOSTAS
"O petróleo é do país ou do Estado?" --foi todo o comentário, sobre os discutidos royalties do petróleo marinho, de um novo convidado do jornal da TV Cultura, o economista Fernando Sampaio. E o ferro, que se junta à soja para fazer o faturamento das exportações brasileiras, e o urânio, o ouro, o nióbio, as pedras preciosas, a madeira de lei tirada de áreas da União, e tanto mais: são do país, do Estado ou do município onde os exploram? E por onde andam os respectivos royalties?
Mais a sério: os cálculos de perda do Estado do Rio e do Espírito Santo, se lhes tomados os royalties que recebem por lei e por direito adquirido, divergem conforme a autoria e, com frequência, o desejo. Mas, por certo, seriam elevadíssimos. No ES, a retirada pararia a recuperação do Estado. No Rio, os governos estadual e carioca deveriam sustar a retirada de qualquer centavo dos custos de finalidade maior --educação, saúde, ordem urbana-- para obras exigidas pelos dois meses das impagáveis Copa e Olimpíada.
Daniel Marenco/Folhapress
Janio de Freitas, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros. Analisa com perspicácia e ousadia as questões políticas e econômicas. Escreve na versão impressa do caderno "Poder" aos domingos, terças e quintas-feiras.

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