CELSO MING - O Estado de S.Paulo
O comportamento da inflação neste ano é a boa surpresa deste governo Dilma, embora o Banco Central prefira atribuir os maiores créditos pelo resultado à "fragilidade da economia global", que vem derrubando os preços lá fora e aqui dentro.
Em junho, a inflação medida pelo IPCA foi de apenas 0,08%, metade do que vinham prevendo as cem instituições consultadas semanalmente pelo Banco Central, por meio da Pesquisa Focus. Esse 0,08% perfaz uma acumulada de 2,32% no primeiro semestre do ano; e de 4,92% no período de 12 meses terminado em junho (veja o gráfico). Apesar das novas altas do IGP-M, já detectadas, aumenta a probabilidade de convergência dos preços para o centro da meta, de 4,5%, que há alguns meses parecia difícil.
Na próxima quarta-feira, o Copom voltará a se reunir para rever o nível dos juros básicos (Selic). Parece mais alta a probabilidade de que o Banco Central reduza mais uma vez os juros básicos em 0,5 ponto porcentual, dos atuais 8,5% para 8,0% ao ano.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, vem avisando que a derrubada dos juros na ponta do crédito e a desvalorização do real, cada um deles em aproximadamente 20% neste ano, são o resultado da adoção do novo mix de política econômica, que, segundo ele, deve criar condições para a retomada do crescimento do PIB.
Não há ainda informações de que o governo consiga entregar um desempenho aceitável, de 3% a 4% ao ano, como prometido. E ele próprio não consegue convencer os empresários a pisar no acelerador. Além do efeito colateral, que é a derrubada da inflação, a crise externa vem produzindo enorme desânimo nos agentes econômicos. Se ela se prolongar por muitos meses - como prevê o ministro Mantega - aprofundará o desânimo entre os empresários. Isso significa que será necessário um fato novo, hoje não observado na linha do horizonte, para mudar esse estado de espírito, condição necessária para uma virada consistente.
É possível - como admitido acima - que os juros básicos continuem caindo e que, com eles, também continuem caindo os juros cobrados nas operações de crédito. Mas é improvável que o governo consiga avançar muito mais do que já avançou na desvalorização do real diante do dólar.
Em outras palavras, se o governo continuar bem-sucedido na condução de sua política fiscal (formação de um superávit primário, de 3,1% neste ano, ou economia de R$ 140 bilhões para amortização da dívida), manterá aberto o corredor para a continuação da redução dos juros. O mesmo não se pode dizer da utilização do câmbio como instrumento de política industrial, prática reconhecida pelo ministro Mantega e pelo diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Luiz Mendes, porque esse recurso tem seus limites.
A melhor maneira de estimular investimentos e assegurar maior crescimento econômico é acionar projetos de infraestrutura, tanto por meio de novas concessões ao setor privado quanto por meio das Parcerias Público-Privadas (PPPs) - desde que o governo consiga também agilizar a liberação de licenciamento ambiental.
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