terça-feira, 10 de agosto de 2010

Sayad explica planos a conselho da TV Cultura


Presidente da instituição anunciou o fim de alguns contratos, extinção de programas e a estratégia para diminuir déficit e aumentar produtividade

10 de agosto de 2010 | 0h 00
    Jotabê Medeiros - O Estado de S.Paulo
Conselheiros da Fundação Padre Anchieta, reunidos ontem de manhã na sede da TV Cultura, sabatinaram o presidente da instituição, João Sayad, a respeito das mudanças que ele planeja fazer na programação e na gestão da emissora. Sayad apresentou seus planos de reformulação da programação e enxugamento da estrutura da TV Cultura.
Cerca de 27 conselheiros participaram, entre eles Danilo Miranda, do Sesc São Paulo, o embaixador Rubens Barbosa e o poeta Jorge da Cunha Lima.
Sayad anunciou a extinção de programas (como o Manos & Minas e Login), o encerramento dos serviços terceirizados da fundação (gravações, por exemplo, para a TV Assembleia, TSE, Procuradoria da República e TV Justiça), o encerramento de contratos e seu plano para a diminuição dos déficits da TV, além do aumento da produtividade. Segundo Sayad, em 24 horas de programação, a TV Cultura só produz atualmente 6 horas de conteúdo próprio, o que é considerado muito pouco para o tamanho da folha salarial.
Os conselheiros resolveram, ao final da explanação, conceder uma espécie de "crédito" de seis meses para que o plano de Sayad surta resultados. Ao final desse período, haverá uma reavaliação das modificações. Sayad também teve de ouvir algumas advertências e recomendações. O conselho não concorda que ele extirpe totalmente da programação de música erudita as transmissões de orquestras brasileiras - o presidente preferiria exibir, como o núcleo central do programa, orquestras internacionais em apresentações consagradas.
Segundo um conselheiro, que preferiu não se identificar, foi sugerida a manutenção, pelo menos, das apresentações da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). Outro conselheiro sugeriu que Sayad abandone a pretensão de exibir daqui por diante apenas os documentários da mostra É Tudo Verdade, organizado pelo crítico Amir Labaki - para uma ala da fundação, é importante manter a exibição dos documentários financiados pelo programa Doc-TV, que Sayad pretendia diminuir drasticamente.
Cortes. O conselho deu carta branca ao dirigente porque avaliou que Sayad está cumprindo à risca os compromissos que firmou ao ser eleito para a presidência, entre eles o de comunicar previamente aos diversos comitês do colegiado, com antecedência, todos os seus passos. Os conselheiros não abordaram o tema das demissões, mas é certo que vai haver cortes na folha da fundação, hoje com cerca de 1,9 mil funcionários. Esses cortes, entretanto, avalia um executivo da emissora, só poderão ser realizados a partir do ano que vem. Até lá, deverão ser afastados apenas funcionários que mantêm contratos como pessoas jurídicas - não há uma estimativa de quantos seriam na TV.
O debate foi pontuado pelos gráficos e pela longa explanação de João Sayad, economista com reputação de rígido e metódico. O déficit de R$ 10 milhões no orçamento da emissora, este ano, não foi considerado desastroso pela administração, que pode buscar recursos em outras fontes para tapar o buraco. "O prestígio da TV Cultura depende de uma boa programação", disse Jorge da Cunha Lima. "Ninguém vai se incomodar com dívidas de sentenças trabalhistas se a emissora estiver cumprindo bem sua função. Na minha avaliação, a TV Cultura é uma emissora de conhecimento, com a missão de formar pessoas, não entreter."

PARA LEMBRAR
Emissora foi fundada em 1960
A TV Cultura foi fundada em 1960, ainda sob propriedade do grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand. Em 1967, o então governador de São Paulo, Roberto de Abreu Sodré, criou a Fundação Anchieta e comprou a TV Cultura. A emissora foi reinaugurada em 1969. É mantida pela Fundação, que é dirigida por uma Diretoria Executiva com o apoio de um conselho formado por representantes de universidades, institutos de pesquisa, entidades culturais e dos poderes Legislativo e Executivo. 

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

SP terá 1º incinerador de lixo doméstico


Pioneira no País, usina vai produzir energia e recuperar área ameaçada por risco de explosão e deslizamento em São Bernardo do Campo

05 de agosto de 2010 | 0h 00
    Eduardo Reina - O Estado de S.Paulo
A cidade de São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista, terá a primeira usina de incineração de lixo doméstico do Brasil. A estrutura vai ocupar a área do antigo Lixão do Alvarenga, na beira da Represa Billings, e vai gerar 30 megawatts por hora de energia elétrica. Ao lado, será criado um parque e haverá remoção de parte da população que hoje mora em cima do antigo lixão, uma área de risco de explosão e deslizamentos.
A usina terá capacidade para receber 1 mil toneladas de resíduos domésticos por dia. A energia gerada - 30 megawatts/hora - será suficiente para abastecer diariamente uma cidade de 300 mil habitantes. A obra inclui um setor de separação dos resíduos orgânicos e para reciclagem e está orçada em R$ 220 milhões.
Hoje na cidade de São Paulo há duas usinas de geração de energia por meio do lixo, nos aterros Bandeirantes (zona norte) e São João (zona leste). No entanto, esses funcionam com aproveitamento de gás metano gerado pelos resíduos. A novidade é o incinerador de lixo doméstico. Existem apenas usinas para incinerar lixo hospitalar e industrial no País.
"O sistema, além de fazer a queima da parte do lixo que não pode ser aproveitada, tem também o reaproveitamento de todo resíduo possível, até da fração orgânica", explica o professor Elcires Pimenta Freire, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e coordenador do plano de resíduos sólidos da cidade. O modelo escolhido mescla tecnologias da Alemanha, Holanda e Espanha.
O secretário de Planejamento Urbano de São Bernardo, Alfredo Buso, diz que o edital deve ser lançado em breve. A expectativa do prefeito Luiz Marinho (PT) é que o início da operação seja em 2012. A cidade gasta R$ 14 milhões por ano para descartar 650 toneladas de lixo por dia num aterro sanitário no município de Mauá. Para Buso, os gastos não serão superiores aos de hoje.
Remediação. A área do bairro Alvarenga no limite com Diadema abrigou um lixão de 1971 a 2001. No dia 13 de abril, o Estado lembrou que o bairro tem condições similares às do Morro do Bumba, em Niterói, que deslizou por causa da chuva e do acúmulo do lixo. Em Niterói, 51 pessoas morreram. Em São Bernardo do Campo, centenas de famílias temem o mesmo destino.
A área de 700 mil metros quadrados nunca teve um sistema de condução dos efeitos colaterais do acúmulo de lixo sob a superfície: gases e chorume. O metano também fica preso no solo, aumentando a cada dia o risco de explosões. Já o líquido que resulta da decomposição dos resíduos vai direto para a Represa Billings, a 200 metros do local.
O projeto de construção da usina e do parque atende a medida judicial que condenou as prefeituras de São Bernardo e Diadema e os donos do terreno a remediar o problema ambiental. Parte das 200 famílias que moram no terreno será removida.
A prefeitura estima que sejam necessários R$ 20 milhões para fazer a canalização de drenagem dos gases e captação do chorume. Os trabalhos devem começar em setembro, com conclusão prevista para o fim de 2011.
O ambientalista Virgílio Alcides Farias, que defende a desativação do Lixão do Alvarenga, acredita que a criação da usina é uma boa notícia. "Está dentro do que se chama de ação sustentável. Mas é preciso manter um monitoramento contínuo e seguir as normas existentes de controle, principalmente na emissão de gases." A prefeitura afirma que o modelo de usina de São Bernardo segue as diretrizes estaduais para o tratamento térmico de resíduos sólidos.

LÁ TEM...
Áustria
A usina de Viena é uma das mais modernas da Europa. Tem capacidade para queimar 720 toneladas/dia.
Alemanha
Há duas unidades em Ingolstadt, que processam 600 toneladas/dia cada.
Inglaterra
Em Marchwood, a usina local incinera 560 toneladas/dia.
França
Uma das maiores da Europa fica em Paris, com capacidade para 1,6 mil toneladas/dia.
Estados Unidos
A maior do país está em Miami e chega a 4,2 mil toneladas/dia.

Energia
5 horas
é o período em que um computador poderia funcionar com a queima de um quilo de lixo
24 minutos
duraria um secador de cabelo ligado, segundo Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A reinvenção do carpete

Casos Práticos / InterfaceFLOR

Em 1994, a norte-americana InterfaceFLOR, maior fabricante de carpetes modulares do mundo, decidiu
transformar a sua maneira de fazer negócios. Sensibilizado com as questões ambientais, seu presidente,
Ray Anderson, implantou em sua companhia um processo de gestão sustentável que incluiu mudanças
profundas. Ao repensar como os produtos são concebidos, manufaturados, distribuídos, instalados e
recuperados, a InterfaceFLOR tornou-se um símbolo do movimento pelo desenvolvimento sustentável
e provou que empresas podem ser (mais) competitivas trabalhando de forma responsável do ponto de
vista social e ambiental.
Em 14 anos, a InterfaceFLOR reduziu 60% das emissões de gases causadores do efeito estufa, 68%
do consumo de energia, 80% do consumo de água na organização nos Estados Unidos e 95% do
consumo de água nas instalações no Canadá – e aumentou a quantidade de matéria-prima reciclada e
biomaterial de 0,5% para mais de 20%. Com todas essas mudanças, obteve uma economia superior a
US$ 300 milhões, boa parte reinvestida em pesquisa e desenvolvimento de novos processos de gestão
sustentável dos negócios.
O processo começou com um diagnóstico preciso de como a corporação retirava, utilizava e descartava
os recursos da natureza. Com as informações em mãos, a organização traçou um plano de ação para
zerar o seu impacto no meio ambiente até 2020. O desperdício, por exemplo, representava 10% do
faturamento da companhia. Em 14 anos, foi reduzido para 1%, diz Claude Ouimet, vice-presidente da
Produção da fi bra base: tecnologia permite separação dos fi os, sem mescla dos materiais
Divulgação
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Espaço de Práticas em Sustentabilidade
Casos Práticos / InterfaceFLOR
InterfaceFLOR para a América Latina e Canadá. Agora, a empresa está mais perto da meta de zerar essas
perdas. O fi nal, porém, é sempre mais difícil, pois não há tantas gorduras para queimar. “Agora, temos
que encontrar novas formas de pensar”, afi rma Ouimet.
Inovação inspirada pela natureza
Criar formas alternativas de conduzir os negócios vem trazendo ótimas oportunidades para a
InterfaceFLOR. No desenvolvimento de produtos, a empresa, que em 1995 fabricou o primeiro tecido a
partir de garrafas PET, hoje emprega o biomimetismo, um jeito de pensar o design inspirado pela natureza.
Ao questionar como a natureza faria
um piso, por exemplo, a InterfaceFLOR
criou um produto chamado Entropy.
Os carpetes de um escritório, hotel ou
residência são montados com placas que
diferem em cores e padrões. Isso porque
os fenômenos naturais acontecem ao
acaso e são diversos.
Além de esteticamente interessante,
esse produto trouxe vantagens para
a companhia e seus clientes. Se o
carpete é danifi cado, é possível trocar
uma placa por qualquer outra. Não é
preciso encomendar da InterfaceFLOR
outro carpete do mesmo lote –
simplesmente porque o conjunto não
tem uma seqüência determinada. Basta instalar uma placa de carpete em qualquer direção. Para a
InterfaceFLOR, não há perdas com modelos que saem de linha. Na empresa, não existe o conceito de
design ultrapassado: o que há é uma mistura de cores e estilos. “Economizamos em estoque”, avalia
Claude Ouimet. O Entropy tornou-se o carro-chefe da organização.
Para os biólogos que trabalham na InterfaceFLOR os desafi os também são enormes. O processo de
fabricação da empresa considera o descarte como um centro de lucro. O produto é desenhado para
gerar uma forma lucrativa de reutilizá-lo no futuro. A organização reutiliza todos os seus carpetes
recuperados – e adquiriu tal expertise que também recicla os carpetes da concorrência. Desde 1995, a
InterfaceFLOR reutilizou mais de 50 mil toneladas de carpetes que teriam como destino os aterros.
Mudança nos processos
A inovação está hoje em cada elo do processo de produção e envolve todos os públicos da empresa.
Durante a confecção de estampas dos carpetes, por exemplo, detectou-se um grande desperdício de
água. Para fazer os decalques em cada metro quadrado de carpete, eram necessários 55 galões de água.
“As estampas não faziam nenhuma diferença no desempenho do produto. Então decidimos eliminálas”,
diz Ouimet. O consumo de água caiu, de um dia para o outro, em dois terços. Até a companhia
responsável pelo fornecimento de água fi cou espantada e, sem saber o que se passava, alertou a fábrica
para um possível defeito no medidor.
A InterfaceFLOR resolveu ainda eliminar todos os produtos tóxicos utilizados na composição da cola
para fi xar o carpete. Assim, passou a economizar na energia empregada no processamento da cola e
também cortou os gastos obrigatórios para obter as certifi cações exigidas pelo governo americano e
canadense para o uso destes produtos. Mas também foi além e, inspirada novamente na natureza, criou
o sistema de instalação Tactiles, deixando os carpetes livre da cola.
Divulgação
Painel solar na unidade de LaGrange, na Georgia (EUA):
redução de 68% no consumo de energia
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Espaço de Práticas em Sustentabilidade
Casos Práticos / InterfaceFLOR
Outro foco da organização é experimentar formas de energia alternativas. A energia renovável
representa 17% do total usado nas plantas da InterfaceFLOR. Energia de biomassa, biogás de aterros
sanitários e eletricidade verde são parte da estratégia global para aumentar o uso de energia renovável,
que leva em conta a localização da instalação das fábricas, a demanda de energia e o clima local.
Os executivos da InterfaceFLOR atualmente viajam pelo mundo não apenas para fechar negócios, mas
para disseminar as práticas sustentáveis da empresa. Para compensar o impacto do vôo dos executivos
da Interface, foi implementado um programa em 1997, o Trees for Travels. As emissões geradas por
essas viagens são contrabalançadas com o plantio de árvores. “A companhia ganhou reputação e
reconhecimento. É admirada por cada vez mais clientes e tem conseguido conquistar os melhores
fornecedores e empregados”, avalia Ouimet. A rotatividade na InterfaceFLOR é de 5,6%, contra 30% de
média do mercado. “Assim, temos um custo menor de treinamento e podemos contar com um pessoal
mais qualifi cado para desenvolver as inovações que almejamos”, completa o vice-presidente.
Ficha da Prática
Empresa:
InterfaceFLOR
O que faz:
Maior fabricante de carpetes modulares do mundo
Prática:
Grupo Iniciou uma jornada para se tornar resíduo-zero até 2020