quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A reinvenção do carpete

Casos Práticos / InterfaceFLOR

Em 1994, a norte-americana InterfaceFLOR, maior fabricante de carpetes modulares do mundo, decidiu
transformar a sua maneira de fazer negócios. Sensibilizado com as questões ambientais, seu presidente,
Ray Anderson, implantou em sua companhia um processo de gestão sustentável que incluiu mudanças
profundas. Ao repensar como os produtos são concebidos, manufaturados, distribuídos, instalados e
recuperados, a InterfaceFLOR tornou-se um símbolo do movimento pelo desenvolvimento sustentável
e provou que empresas podem ser (mais) competitivas trabalhando de forma responsável do ponto de
vista social e ambiental.
Em 14 anos, a InterfaceFLOR reduziu 60% das emissões de gases causadores do efeito estufa, 68%
do consumo de energia, 80% do consumo de água na organização nos Estados Unidos e 95% do
consumo de água nas instalações no Canadá – e aumentou a quantidade de matéria-prima reciclada e
biomaterial de 0,5% para mais de 20%. Com todas essas mudanças, obteve uma economia superior a
US$ 300 milhões, boa parte reinvestida em pesquisa e desenvolvimento de novos processos de gestão
sustentável dos negócios.
O processo começou com um diagnóstico preciso de como a corporação retirava, utilizava e descartava
os recursos da natureza. Com as informações em mãos, a organização traçou um plano de ação para
zerar o seu impacto no meio ambiente até 2020. O desperdício, por exemplo, representava 10% do
faturamento da companhia. Em 14 anos, foi reduzido para 1%, diz Claude Ouimet, vice-presidente da
Produção da fi bra base: tecnologia permite separação dos fi os, sem mescla dos materiais
Divulgação
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Casos Práticos / InterfaceFLOR
InterfaceFLOR para a América Latina e Canadá. Agora, a empresa está mais perto da meta de zerar essas
perdas. O fi nal, porém, é sempre mais difícil, pois não há tantas gorduras para queimar. “Agora, temos
que encontrar novas formas de pensar”, afi rma Ouimet.
Inovação inspirada pela natureza
Criar formas alternativas de conduzir os negócios vem trazendo ótimas oportunidades para a
InterfaceFLOR. No desenvolvimento de produtos, a empresa, que em 1995 fabricou o primeiro tecido a
partir de garrafas PET, hoje emprega o biomimetismo, um jeito de pensar o design inspirado pela natureza.
Ao questionar como a natureza faria
um piso, por exemplo, a InterfaceFLOR
criou um produto chamado Entropy.
Os carpetes de um escritório, hotel ou
residência são montados com placas que
diferem em cores e padrões. Isso porque
os fenômenos naturais acontecem ao
acaso e são diversos.
Além de esteticamente interessante,
esse produto trouxe vantagens para
a companhia e seus clientes. Se o
carpete é danifi cado, é possível trocar
uma placa por qualquer outra. Não é
preciso encomendar da InterfaceFLOR
outro carpete do mesmo lote –
simplesmente porque o conjunto não
tem uma seqüência determinada. Basta instalar uma placa de carpete em qualquer direção. Para a
InterfaceFLOR, não há perdas com modelos que saem de linha. Na empresa, não existe o conceito de
design ultrapassado: o que há é uma mistura de cores e estilos. “Economizamos em estoque”, avalia
Claude Ouimet. O Entropy tornou-se o carro-chefe da organização.
Para os biólogos que trabalham na InterfaceFLOR os desafi os também são enormes. O processo de
fabricação da empresa considera o descarte como um centro de lucro. O produto é desenhado para
gerar uma forma lucrativa de reutilizá-lo no futuro. A organização reutiliza todos os seus carpetes
recuperados – e adquiriu tal expertise que também recicla os carpetes da concorrência. Desde 1995, a
InterfaceFLOR reutilizou mais de 50 mil toneladas de carpetes que teriam como destino os aterros.
Mudança nos processos
A inovação está hoje em cada elo do processo de produção e envolve todos os públicos da empresa.
Durante a confecção de estampas dos carpetes, por exemplo, detectou-se um grande desperdício de
água. Para fazer os decalques em cada metro quadrado de carpete, eram necessários 55 galões de água.
“As estampas não faziam nenhuma diferença no desempenho do produto. Então decidimos eliminálas”,
diz Ouimet. O consumo de água caiu, de um dia para o outro, em dois terços. Até a companhia
responsável pelo fornecimento de água fi cou espantada e, sem saber o que se passava, alertou a fábrica
para um possível defeito no medidor.
A InterfaceFLOR resolveu ainda eliminar todos os produtos tóxicos utilizados na composição da cola
para fi xar o carpete. Assim, passou a economizar na energia empregada no processamento da cola e
também cortou os gastos obrigatórios para obter as certifi cações exigidas pelo governo americano e
canadense para o uso destes produtos. Mas também foi além e, inspirada novamente na natureza, criou
o sistema de instalação Tactiles, deixando os carpetes livre da cola.
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Painel solar na unidade de LaGrange, na Georgia (EUA):
redução de 68% no consumo de energia
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Outro foco da organização é experimentar formas de energia alternativas. A energia renovável
representa 17% do total usado nas plantas da InterfaceFLOR. Energia de biomassa, biogás de aterros
sanitários e eletricidade verde são parte da estratégia global para aumentar o uso de energia renovável,
que leva em conta a localização da instalação das fábricas, a demanda de energia e o clima local.
Os executivos da InterfaceFLOR atualmente viajam pelo mundo não apenas para fechar negócios, mas
para disseminar as práticas sustentáveis da empresa. Para compensar o impacto do vôo dos executivos
da Interface, foi implementado um programa em 1997, o Trees for Travels. As emissões geradas por
essas viagens são contrabalançadas com o plantio de árvores. “A companhia ganhou reputação e
reconhecimento. É admirada por cada vez mais clientes e tem conseguido conquistar os melhores
fornecedores e empregados”, avalia Ouimet. A rotatividade na InterfaceFLOR é de 5,6%, contra 30% de
média do mercado. “Assim, temos um custo menor de treinamento e podemos contar com um pessoal
mais qualifi cado para desenvolver as inovações que almejamos”, completa o vice-presidente.
Ficha da Prática
Empresa:
InterfaceFLOR
O que faz:
Maior fabricante de carpetes modulares do mundo
Prática:
Grupo Iniciou uma jornada para se tornar resíduo-zero até 2020

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