segunda-feira, 30 de setembro de 2024

As bitucas que emporcalham as cidades, Vicente Vilardaga, FSP

 Vicente Vilardaga

São Paulo

Bitucas de cigarro jogadas no chão são uma praga ambiental. Mesmo pessoas que costumam cuidar de seu lixo se liberam tranquilamente para lançar suas baganas em qualquer lugar, como se fosse um mal menor. Seja nas grandes cidades, seja nas pequenas, esse comportamento se repete. É algo universal. Há uma inconsciência geral sobre o problema e sobre suas consequências para a natureza.

Mundialmente, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), existem 1,6 bilhão de fumantes e, de acordo com a ACT (Autoridade para as Condições de Trabalho), cada um deles joga, em média, 7,7 bitucas por dia nas ruas.

Isso significa que 12,3 bilhões de guimbas são descartadas todos os dias emporcalhando as cidades e mostrando que a maioria dos tabagistas é irresponsável e desleixada.

Imagem de uma guimba de cigarro sobre um bueiro na Vila Madalena: irresponsabilidade e desleixo

No Brasil, o ato de jogar bitucas nas vias públicas se naturalizou. Por aqui, segundo a PNS (Pesquisa Nacional de Saúde), de 2019, há 26,9 milhões de fumantes, 12,6% da população, o que representa sete pontos percentuais a menos do que a média mundial. Mas considerando as 7,7 baganas lançadas por fumante todos os dias chega-se ao estratosférico número de 207,1 milhões. Desse total, cerca de 13,8 milhões sujam o município de São Paulo.

Basta andar pelas ruas para constatar que a situação é grave. Elas estão em toda parte, principalmente diante de bares e lugares de grande aglomeração onde não há cinzeiros disponíveis para os fumantes.

É bom saber que o tempo de degradação de um filtro jogado no asfalto ou num canteiro é de até dez anos. A maioria deles é feita de acetato de celulose, material de difícil degradação.

Outro problema é que o cigarro contém mais de 4,7 mil substâncias tóxicas, incluindo nicotina, monóxido de carbono, amônia, arsênico, pólvora, solventes como benzeno e metais pesados como acetato de chumbo, cádmio e níquel, entre outros.

Todos os dias são lançadas 13,8 milhões de bitucas nas ruas do município de São Paulo

Os filtros de cigarro contaminam o solo e também córregos, rios e mares. Em termos de impacto ambiental sobre as águas e a vida aquática ele é tão destrutivo como sacolas e canudos de plástico, podendo causar intoxicação ou a morte de peixes, tartarugas e aves.

Durante as estações secas, segundo informações da Semil (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística) do governo do estado de São Paulo, as bitucas se transformam num risco sério e imediato. Lançadas inadvertidamente nas estradas são capazes de causar acidentes de grandes proporções e muitos prejuízos financeiros.

As baganas acesas são uma das principais causas de incêndios florestais, que destroem a vegetação e, por causa da fumaça, reduzem a segurança dos motoristas em locais próximos das vias de rodagem. "É importante conscientizar a população sobre os riscos envolvidos", diz a Semil.

Frequentemente cigarros jogados na beira das estradas são causa de incêndios florestais

Não bastasse esse malefícios, as bitucas vão para nos bueiros e também causam obstrução dos sistemas de drenagem e favorecem o alagamento de áreas urbanas. Sem contar que agravam a poluição visual e podem expor as pessoas, em especial as crianças, a substâncias químicas nocivas.

A lista de danos causados por um simples lançamento de uma bagana na rua é extensa. Para combater o problema o primeiro passo é uma campanha de educação para conscientizar os fumantes de que eles devem apagá-la e colocá-la num recipiente ou no próprio maço de cigarro até encontrar uma lixeira ou um cinzeiro disponível.

Estabelecimentos comerciais também deveriam manter sempre cinzeiros na calçada para que os transeuntes tenham onde colocá-las. Finalmente, é fundamental a manutenção de políticas antitabagistas, o que fará com que a quantidade de fumantes e de filtros descartados diminuam. Parar de jogar bitucas na rua é uma questão de consciência e civilidade. Além disso, serve para diminuir bastante o trabalho dos garis.

Dora Kramer - 'Direitas' entram em cena, FSP

 Brigas internas e divisões entre partidos sempre foram características da esquerda. Isso deu origem ao termo "esquerdas", falado como se houvesse mais de um lado esquerdo a se contrapor ao flanco direito.

Pois agora já se pode atualizar a imprecisão e permitir referência a "direitas". Junto à perda de inibição dessa banda em dizer seu nome em voz alta, surge nesse espectro ideológico o elemento da divisão.

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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em Campinas - Zanone Fraissat/ Folhapress

Hoje não é mais possível juntar todos sob a denominação de "bolsonaristas". Jair Bolsonaro (PL) tirou esse pessoal do armário, mas nem por isso ficou dono de toda a mobília da casa.

As "esquerdas" se abrigam sob a marquise de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas as "direitas" não se mostram confortáveis todas só ao abrigo do guarda-chuva do ex-presidente, hoje um inelegível à procura de anistia.

Na contestação à liderança de Bolsonaro temos, ao contrário do que ocorre com a esquerda em sua submissão ao petista, brigas de gente grande por esse eleitorado.

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Na esfera caricata, Pablo Marçal (PRTB), candidato a prefeito de São Paulo. Fora do contexto circense, uma penca de governadores se apresenta como possibilidades à disputa em 2026. Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, e Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, e outros três ou quatro menos considerados/votados.

Na briga interna, certo de que o PT não é páreo muito perigoso na corrida pela conquista de prefeituras, o PL deixa Lula de lado e se volta contra o PSD de Gilberto Kassab, homem forte de Tarcísio.

São, por enquanto, quatro os embates entre eles. Além da corrida por prefeituras há as divergências em torno da presidência da Câmara dos Deputados, das propostas de impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes e da ofensiva por anistia aos condenados do 8 de janeiro.

Nos palanques, principalmente digitais, Caiado vira "covarde", Tarcísio de Freitas um inadmissível moderado e o inelegível Bolsonaro um rendido ao "sistema".

A sorte das "direitas" é que as "esquerdas" vivem de um passado que já passou.

Bets, influencers e golpistas enganam na era do 'rent-seeking', FSP (definitivo)

 Em teoria econômica, existe um conceito muito bem consolidado chamado "rent-seeking" que foi introduzido inicialmente por Gordon Tullock e Anne Krueger.

É uma falha de mercado onde um agente econômico influencia ou manipula o ambiente regulatório ou político para aumentar sua renda sem engajar em atividades produtivas que gerem riqueza para a sociedade.

As consequências são extremamente negativas para a economia, gerando ineficiências de mercado, sentimento de injustiça e erodindo a confiança em instituições.

As casas de apostas (ou "bets") estão nos holofotes desse problema, mas existe todo um submundo nas redes sociais que se materializa na comunidade online de "renda extra". É uma estrutura complexa que vai desde o mercado de apostas, cursos de influenciadores, investimentos duvidosos e até "bicos online" como clicar em links ou avaliar produtos em troca de remuneração.

Adolescente segura celular e visualiza site de casa de apostas
Apostas em bets por beneficiários do Bolsa Família preocupam governo - Pedro Ladeira-12.jan.2024/Folhapress

Isso virou o grande novo problema para o governo federal e a pasta de Fernando Haddad, que se preocupa hoje com o mercado de apostas. O problema de "rent-seeking" dos cassinos digitais se escancara com o lobby da indústria de aposta junto ao fato de que essas empresas se aproveitam de políticas como o Bolsa Família para aumentar sua receita.

Como mostra a reportagem da Folha, apenas no mês de agosto, brasileiros transferiram R$ 21,1 bilhões às casas de apostas, sendo R$ 3 bilhões de beneficiários do Bolsa Família, o que representa 20% do valor repassado.

É alarmante ver que uma política planejada para ajudar as famílias em situação econômica vulnerável se tornou uma forma de transferir renda para grupos econômicos e também agrava problemas sociais como vício em jogos de azar e inadimplência.

Através da plataforma de inteligência de redes sociais da Palver, é possível analisar uma amostra de mais de 80 mil grupos de WhatsApp. Quando pesquisamos dicas de "renda extra", "bets" e "cassinos online" em grupos de WhatsApp, as mensagens alcançaram mais de 1 milhão de usuários nos últimos três meses e possuem um volume de menções médio superior ao de figuras públicas notórias como o presidente Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Foi possível identificar diversas modalidades de fraudes divulgadas em grupos de WhatsApp, como cassinos online, revenda de serviços piratas, golpes do Pix, plataformas de investimentos falsos, venda de cursos e a indústria de cortes.

O incentivo a cassinos online consiste em mensagens que recomendam diversos jogos no estilo caça-níquel, um deles é o famoso "Jogo do Tigrinho". Exemplos são "Fortune Tiger", "Dragon Luck", "Fortune Rabbit", "Circus" e muitos outros.

Mensagens com a chamada "Horários Pagantes" recomendam jogar em horários específicos como entre 17h01 e 17h05, para garantir pagamentos maiores. Vídeos do YouTube também são compartilhados e aparecem aos montes em canais com por volta de 1 milhão de inscritos.

Alguns vídeos informam que existem "bugs" ou erros nas plataformas que garantem vitória, e que devem ser aproveitados o quanto antes porque serão corrigidos, criando a sensação de urgência para apostar.

indústria de cortes também promete riquezas através de cursos para fazer cortes de vídeos de influenciadores.

Um exemplo de mensagem disparada por robôs tem a chamada "Prospere com Cortes do Marçal". A mensagem disponibiliza um link onde o usuário pode comprar por R$ 12 acesso a um ambiente de cortes que promete gerar pelo menos R$ 10 mil reais de renda mensal com cortes de Pablo Marçal.

Links com instruções para vender plataformas de cursos direcionam a um site chamado Black Bot que afirma oferecer uma "Máquina de Comissões". O site mostra vídeos de participantes que dão depoimentos mostrando que ganharam os seus primeiros R$ 10 mil reais em apenas um mês utilizando a plataforma

A análise destes sistemas de divulgação raspa apenas a superfície do que foi encontrado. Fica evidente que existe uma grande indústria de propaganda que busca enganar usuários na internet.

Preocupa ver que parte significativa da renda nacional está sendo direcionada para este tipo de serviço que, em última instância, é improdutivo para o país e gera apenas consequências negativas não apenas para as vítimas, mas para toda a sociedade.