segunda-feira, 23 de junho de 2014

O tamanho do PT in CC Análise/Marcos Coimbra

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Política


O partido perdeu apoio nos últimos anos, mas continua a ser de longe a principal, quando não a única, legenda reconhecida pela maioria da população
por Marcos Coimbra — publicado 21/06/2014 09:10
Na mais recente pesquisa CartaCapital/Vox Populi, realizada no início de junho, a identificação partidária com o PT ficou em 16%. Número modesto para um partido que, não faz muito tempo, chegou a alcançar o dobro.
O resultado é semelhante àquele de outras pesquisas das últimas semanas, amplamente festejado pelos “analistas” da mídia conservadora. Parecem estar contentes com o sucesso da estratégia de desconstrução da imagem do PT, à qual os veículos de comunicação têm se dedicado, com afinco, há tempos.
Ninguém duvide. Sempre foi essa a intenção subjacente à campanha para transformar o escândalo do “mensalão” no maior de nossa história e a caracterizar como criminosas algumas das mais importantes lideranças do partido. Queriam enfraquecê-lo eleitoralmente, já na eleição de 2012 e, em especial, nesta sucessão presidencial. Quem acreditou na cantilena de que desejavam a “regeneração moral” da política brasileira deve também imaginar que as cegonhas trazem os bebês. No intuito de atingir a imagem do PT, é verdade, acabaram por instituir um cenário de terra arrasada. Não apenas o PT perdeu eleitores, mas todos os demais partidos. Quando se compara a pesquisa de agora com aquelas de antes do carnaval midiático em torno do julgamento do “mensalão”, verifica-se que a soma de quem dizia identificar-se com qualquer outra legenda passou de 21%, em abril de 2012, para 13%, uma redução para perto da metade. Há dois anos, 48% dos entrevistados tinham alguma identidade partidária. Hoje, caíram para 26%. 
Quem mais perdeu foi o PT, por ser aquele que mais tinha a perder. O PMDB e o PSDB eram pequenos e assim permaneceram. Os restantes 30 e tantos partidos dividiam 10% do eleitorado e agora se contentam com 6%. O tamanho efetivo do PT não é, porém, adequadamente estimado pela proporção da população que se diz identificada com ele. Quando se pergunta aos eleitores se têm “simpatia” ou “antipatia” pelo PT, verifica-se que a base social do partido é maior.
São “simpatizantes” 32% dos entrevistados na pesquisa mais recente. Inversamente, 21% seriam antagonistas (ou “antipatizantes”). Os 47% restantes não são nem uma coisa nem outra. Nem a favor do PT nem contrários. É uma demonstração da força da sua imagem. Manter contingentes tão expressivos de eleitores identificados ou simpáticos, depois de passar pelo que passou de 2012 para cá, é sinal de enraizamento e solidez.
Em resumo: ainda que tenha perdido tamanho, o PT continua a ser, de longe, o maior e, provavelmente, o único partido reconhecido pela maioria da população. Com um terço de simpatizantes e somente um quinto de antagonistas, sua base de apoio na sociedade é superior à de qualquer adversário ou combinação de legendas oposicionistas. Assim, ao contrário do que afirmam os “analistas” da mídia conservadora, o PT não é um problema para a campanha à reeleição de Dilma Rousseff, mas uma sustentação.
Note-se: os números atuais da identificação com o PT não são muito diferentes daqueles que a legenda tinha nas suas três eleições vitoriosas. Em junho de 2002, diziam-se identificados com o partido 15% dos entrevistados. Em julho de 2006, o porcentual era de 17%. Somente em junho de 2010, quando Lula batia todos os recordes de popularidade, a identificação foi a 21% (dados sempre do Vox Populi). O que estava em alta há quatro anos era a “simpatia” pelo partido, que alcançava a marca de 60%. Número significativo, mas de impacto eleitoral discutível, pois não levou Dilma Rousseff a obter votação nesse patamar.
O que tivemos em 2010 e até cresceu em 2011 foi uma ilusória generalização do petismo, como se uma vasta maioria do País houvesse se rendido ao sucesso de Lula e ao bom começo do governo Dilma, provocando o quase desaparecimento das oposições. Mas se revelou uma percepção enganosa na eleição de 2010 e ficou ainda mais evidente de 2012 em diante.
Uma parcela da sociedade brasileira sempre rejeitou o PT, com maior ou menor intensidade. A novidade, nesta eleição, é o fato de uma parte hoje se expressar com desembaraço e violência, ecoando o que ouve dos porta-vozes do reacionarismo na mídia conservadora, no Judiciário e no empresariado.Isso não muda, contudo, o tamanho real do partido, o contingente de quem pode criticá-lo, mas se sente adequadamente representado por ele. Para Dilma Rousseff, é um ponto de partida fundamental, algo que nenhum de seus oponentes possui e adoraria ter.

Ainda falta muito (1,2, e 3) - PAULO GUEDES

Ainda falta muito

A transição do antigo regime militar para a “Grande Sociedade Aberta” segue incompleta. A corrupção a céu aberto na política e a estagflação na economia são claros sintomas de uma travessia inacabada. Mas não há razão para desespero. Afinal, esta viagem histórica de aprofundamento nas práticas de democracia e mercado é a própria síntese de nossa marcha civilizatória. “A civilização ocidental começa com os gregos, os primeiros a iniciarem a transição de uma sociedade tribal submetida a poderes mágicos para a sociedade baseada na liberdade e na racionalidade humana. Começou na Grécia antiga esta grande revolução, que mesmo após milênios parece estar ainda em seu início: a transição para a “Grande Sociedade Aberta” registra o formidável filósofo da ciência Karl Popper, em seu clássico “A sociedade aberta e seus inimigos” (1945). Globalização, telecomunicações e internet? “A causa mais poderosa da ruptura das sociedades fechadas foi sempre o desenvolvimento do comércio e das comunicações. Muita evidência disso pode ser encontrada na história da Guerra do Peloponeso de Tucídides, o choque entre a democracia de mercado ateniense e o tribalismo oligárquico de Esparta” observa Popper.
Corrupção a céu aberto na política e estagflação na economia são claros sintomas de uma travessia inacabada rumo à Grande Sociedade Aberta
Outro episódio de proporções épicas nesta marcha evolucionária por aperfeiçoamento é descrito por Joseph Ellis, em “Verão revolucionário: o nascimento da independência americana” (2014): “As colônias acreditavam no princípio de que nenhum cidadão britânico teria de pagar tributos legislados sem seu consentimento. Como os americanos não tinham representação no Parlamento, revoltaram-se contra os impostos. Em 1774, em resposta ao quebra-quebra no porto de Boston, os britânicos impuseram lei marcial, transformando uma disputa constitucional em um conflito militar. Em 1775, o rei George III bloqueou ativos americanos, fechou portos e convocou extraordinária força militar para esmagar a incipiente rebelião. A incompetência dos britânicos e de seu rei foi uma providencial oportunidade para um script que seria intitulado a Grande Revolução Americana” Os desafios da globalização, das comunicações e do excesso de impostos são, como se vê, históricos. O importante é transformar tais desafios em oportunidades de aperfeiçoamento nessa longa travessia.
Fonte: O Globo, 09/06/2014.

Ainda falta muito II, por Paulo Guedes

Paulo Guedes, O Globo
A corrupção a céu aberto na política e a estagflação na economia são os sintomas de uma transição incompleta do Antigo Regime militar rumo à Grande Sociedade Aberta. A hipertrofia do Estado e a concentração de recursos e poderes na esfera da União são heranças malditas de um regime político fechado.
A centralização administrativa e a concentração de verbas no governo federal desvirtuam nossas práticas políticas. Em sua inapetência por reformas, sem ousar um ataque frontal às deformações herdadas, perdeu-se a social-democracia brasileira nessa dimensão fiscal.
Pela ausência de uma reforma fiscal, somos prisioneiros de práticas políticas degeneradas e de uma armadilha de baixo crescimento econômico. Décadas de combate à inflação sem disciplina fiscal resultaram em décadas de juros altos e câmbio baixo, derrubando as taxas de investimento e de crescimento econômico. Com os juros elevados, os sucessivos governos transferiram centenas de bilhões de reais aos rentistas.
Com a sobrevalorização cambial, aceleraram o ritmo da desindustrialização. A ininterrupta escalada dos gastos públicos trouxe também uma parafernália de impostos não compartilhados com estados e municípios, fugindo ao espírito descentralizador da Constituição de 1988. Verdadeiro manicômio tributário. Antirrepublicano. O Brasil se tornava o paraíso dos rentistas e o inferno dos empreendedores.
Uma mudança do regime fiscal que descentralize poderes e recursos para as diversas esferas administrativas de uma autêntica Federação completaria a passagem de um regime político fechado para a Grande Sociedade Aberta. Para auxiliar no combate à inflação, teria também de recalibrar a trajetória futura dos gastos públicos.
Por ignorância econômica, predisposição ideológica e conveniência política, tucanos e petistas mantiveram as engrenagens centralizadas do Antigo Regime. Receberam em troca apoio das criaturas do pântano, políticos fisiológicos e grupos econômicos oportunistas.
“Ventania por mudanças”, “um tsunami que vai varrer o PT do poder”, anuncia Aécio Neves, o principal candidato oposicionista. Seria apenas nova batalha partidária, limitada à tomada de poder? Por que não há uma proposta de reforma política? Como mudar o regime fiscal praticando o presidencialismo de cooptação?

O GLOBO - 23/06

Reforma política daria sequência ao impeachment de Collor e ao julgamento do mensalão como episódios de aperfeiçoamento institucional

Os países escolhem a prosperidade ou a pobreza de acordo com as instituições que plantam. O empobrecimento da Argentina, de Cuba e da Venezuela não se deu por acidente. E as melhorias no Chile, na Colômbia e no Peru não foram obra do acaso. O Brasil precisa avançar nessa longa estrada de aperfeiçoamento institucional que conduz à Grande Sociedade Aberta. Somos uma democracia, mas ainda em construção. Uma economia de mercado emergente, embora travada por intervencionismo excessivo. Um estado de direito também em construção. Temos redes de solidariedade, ainda precárias. Uma imprensa livre, mesmo sob ameaça de controle social pelo Estado. Moeda decente, apesar de indefinições nos regimes monetário e fiscal. Marcos regulatórios ainda instáveis. Muito a construir.
O impeachment do presidente Collor, há pouco mais de 20 anos, teria sido o momento de afirmação do Congresso com a demarcação da independência do Poder Legislativo. Da mesma forma que os ministros do Supremo tribunal Federal (STF) teriam agora demarcado a independência do Poder Judiciário pela condenação da compra de apoio parlamentar por representantes do Executivo. Mas pode haver também uma interpretação bastante cética sobre tais avanços. Teria Collor caído porque era de direita e não quis repartir o butim? Teria caído por arrogância frente à esquerda hegemônica e inexperiência ante um establishment conservador e corrupto? Teria sua queda apenas revelado o lubrificante da governabilidade , essa busca disfuncional e despolitizada de sustentação parlamentar movida a corrupção, tráfico de influência e desvio de recursos públicos? Estaríamos sob a ilusão da independência do Judiciário exclusivamente pelo histórico protagonismo de Joaquim Barbosa?

O julgamento da História dirá se foram ilusões momentâneas ou episódios virtuosos de uma evolução institucional. Esta última interpretação, favorável, seria reforçada por um compromisso dos candidatos à Presidência com a reforma política. Com práticas decentes de sustentação parlamentar, como fidelidade partidária e cláusula de votação em bloco, fortalecendo os partidos, reforçando alianças partidárias no atacado e eliminando a compra de votos no varejo. Não haveria melhor celebração dos 30 anos de redemocratização.

Solene esnobada - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 23/06

RIO DE JANEIRO - Quem imaginava que a Copa seria uma vitrine para o Brasil vender seu potencial turístico --com clipes espetaculares de paisagens brasileiras, antes e depois da transmissão dos jogos pelo pool controlado pela Fifa-- já tirou o cavalo da chuva. As vinhetas oficiais se limitam a um desenho chinfrim e a um rápido sobrevoo de cada cidade-sede, logo cortando para o estádio visto de cima e mergulhando direto no gramado. O governo, ao sentar-se com a Fifa para planejar a Copa, esqueceu-se de reservar uma cadeira para o ministro do Turismo.

Com isso, a plateia de bilhões da Copa continuará alheia à Floresta Amazônica, às cidades mineiras, às igrejas baianas, às cataratas do Iguaçu, ao Pantanal, ao Círio de Nazaré, ao bumba meu boi, ao Carnaval etc. Nem mesmo a orla do Rio mereceu um singelo take. Só há uma explicação para essa solene esnobada: a Fifa não conseguiu registrar o domínio dos nossos postais. E ela só se interessa pelos produtos e marcas que detém.

Daí que as únicas imagens oficiais da Copa são as que se passam dentro das "arenas". E nada mais parecido com uma "arena" da Fifa do que outra "arena" da Fifa. A grã-fina de Nelson Rodrigues pode ter entrado no Maracanã e perguntado quem era a bola, mas sabia que estava no Maracanã. Hoje, para identificar um estádio brasileiro, só lendo o nome da cidade na lateral à beira do gramado.

O SporTV faz bem em cobrir a Copa a partir de um cenário querido dos cariocas e, até então, nunca usado para esse fim: a ilha Fiscal. Palco do último baile do Império, com o Pão de Açúcar e a baía de Guanabara ao fundo, a ilha Fiscal não tem nem sombra da visitação que merece ter. A tremenda exposição que está recebendo deverá multiplicar seu apelo no turismo interno.

Só falta algum governante em fim de mandato criar coragem e resolver dar um baile por lá.