terça-feira, 25 de junho de 2024

A exemplo do caso Coaf, com voto em 'javanês', Barroso pede explicação a Toffoli sobre drogas; veja vídeo, FSP

 Ana Pompeu

BRASÍLIA

No início do julgamento sobre porte de maconha no STF (Supremo Tribunal Federal) nesta terça-feira (25), Dias Toffoli pediu a palavra para fazer esclarecimentos sobre o voto que deu na semana passada. Na sessão anterior, o ministro avaliou que a legislação que trata do assunto é constitucional e já não criminaliza o usuário, ou seja, não tem natureza penal, mas administrativa. O entendimento foi interpretado como a abertura de uma terceira linha.

Toffoli disse que na manhã desta terça, o presidente da corte, Luís Roberto Barroso, o questionou sobre como fazer a proclamação do voto dele. Por isso, achou melhor explicar os termos do entendimento dele.

"Eu não delimitei quantidade no meu voto. Foi aí que muitas pessoas o interpretaram como criminalizante. Muito pelo contrário. Em mensagem de áudio eu disse a vossa excelência que o meu é o mais radical de todos. É descriminalizante para todas as drogas no que diz respeito a usuários" disse.

ACOMPANHE TUDO QUE ACONTECE EM BRASÍLIA NESTA TERÇA (25)

Em novembro de 2019, Toffoli votou por impor restrições ao compartilhamento de dados bancários e fiscais com o Ministério Público e a polícia sem autorização judicial prévia.

O ministro relatou um processo sobre a constitucionalidade do repasse de dados sigilosos de órgãos de controle —como a Receita e o antigo Coaf— para fins de investigação penal.

Na época, Toffoli, mas não ficou claro quais seriam as regras para cada um dos órgãos. Ao final da sessão, chamado por jornalistas, Barroso comentou: "Tem que chamar um professor de javanês, em referência ao conto de Lima Barreto.

Nesta tarde, Toffoli diz que o voto é "claríssimo" no sentido de que nenhum usuário de nenhuma droga pode ser criminalizado. "Esse foi o objetivo da lei de 2006. Porque a lei de 1976 travava como crime o uso de drogas e criminosos os usuários."

Segundo ele, a descriminalização, conta com seis votos. "O meu voto se soma ao voto da descriminalização." Pouco depois, no entanto, disse: "o meu voto não é pela descriminalização".

Pelo entendimento do ministro, a descriminalização já existe. Assim, ele manifestou preocupação de que, caso a corte dê a interpretação conforme apenas para a cannabis, os usuários de outras drogas poderiam ser criminalizados.

Simone Jardim - Sobre Dalgas Frisch

 O sorriso largo, a voz forte, aquele olhar vibrante e, sim, sua paixão pela avifauna era contagiante.

A primeira conversa que tive com o ornitólogo Johan Dalgas Frisch aconteceu em 19 de fevereiro de 2003. Ele tinha 73 anos e eu 37.

Não tenho como esquecer essa data, pois dias antes havia perdido precocemente meu pai.

A recepção calorosa daquele homem alto, de ascendência dinarmarquesa se mantém viva na minha memória.

Minha irmã Grace estava comigo. Ela também ficou impressionada com sua personalidade cativante.

O jornalista mineiro Silvestre Gorgulho, fundador da Folha do Meio Ambiente - merece um novo post esta nossa relação de trabalho e amizade - foi quem nos conectou.

Naquela época, Dalgas Frisch procurava alguém, como ele mesmo me descreveu:

— Que saiba ouvir com entusiasmo minhas experiências e colocá-las no papel com leveza e um toque de poesia. Assim como são os pássaros quando voam e trinam né, Simone?!

Aquela hora e meia de conversa com Dalgas foi, pra dizer o mínimo, encantadora.

Ele me fez "voar" para aquele seu "mundo mágico".

Na sua mesa de trabalho, cheia de pastas e papéis, Dalgas leu pra mim uma de suas anotações com referência às aves, é claro!

"Observem atentamente as aves do céu; elas não semeiam nem colhem, nem ajuntam em celeiros, contudo o Pai de vocês, que está nos céus, as alimenta. Será que vocês não valem mais do que elas? Quem de vocês, por estar ansioso, pode acrescentar um só côvado à duração da sua vida? Mateus 6:26-27

Então meu luto deu uma trégua.

Já no dia seguinte, iniciamos uma longa série de entrevistas.

Dalgas contava com detalhes suas aventuras e apuros nas florestas, as homenagens que recebeu, mas acima de tudo, como toda essa intensa jornada mexeu com suas emoções e crenças mais profundas.

Em 2005 saiu o primeiro livro dessa escuta e escrita tão prazerosas pra mim, intitulado "Aves brasileiras Minha Paixão".

Cinco anos mais tarde, outro livro nasceu desses nossos felizes encontros, "Para Que as Primaveras Não Se Calem para Sempre..."

O fato é que o estimado e caloroso Johan Dalgas Frisch partiu neste 22 de Junho de 2024.

Eu não tenho dúvidas.

Ele não precisa nem gostaria que lamentássemos sua saída de cena.

Afinal, ele nos deixou seu legado, a paixão genuina pelos fascinantes seres emplumados dos quatro cantos do planeta.

A trajetória de Dalgas Frisch sempre nos fará "voar" e apreciar os cantos celestiais dos pássaros.

Se lermos, agora, sua obra e continuarmos passando para amigos, pais, filhos, netos, bisnetos e quem estiver perto de nós, a paixão de Dalgas Frisch continuará viva, fortalecendo o circulo de admiração e cuidados com todas as aves e pássaros da Terra.

Clique em https://www.dalgasavesbrasil.com.br/prod.../categoria/livros

ou se preferir procure na Estante Virtual pelos livros de Johan Dalgas Frisch.

#dalgasfrisch

#avesbrasileiras

Direita disputa narrativa sobre PL Antiaborto por Estupro, Juliano Spyer, FSP

 O aborto é assunto que mobiliza rápida e facilmente o campo evangélico. Por que então as informações sobre o PL Antiaborto por Estupro não têm circulado nos espaços online e presenciais de suas igrejas?


Na semana passada, especulei aqui se haveria uma ação orquestrada para evitar que o debate acontecesse nas igrejas. Mas não é o caso; o motivo para o silêncio é mais complexo.


Quem lê o texto do PL nota que seus proponentes são indiferentes ao sofrimento de quem engravida como consequência de estupro. O PL apenas propõe que o aborto após a 22ª semana de gestação seja interpretado como homicídio simples.

Protesto em Brasília contra o projeto da Câmara - Pedro Ladeira/Folhapress


O objetivo foi criar uma situação de "perde-perde" para o governo. Se o presidente veta o projeto, passa a impressão de defender a legalização do aborto. Se ele não se manifesta —como fez inicialmente—, são os eleitores da esquerda que ficam descontentes, porque querem que haja menos punição para quem aborta.
Felizmente, a artimanha foi exposta, e os proponentes do PL, que esperavam constranger, terminaram constrangidos e adiaram a votação.


Evangélicos foram vítimas da mesma armadilha que travou o governo. Assuntos relacionados à política têm sido evitados nas igrejas desde a última eleição presidencial. A pessoa escolhe não falar sobre o PL para não se desgastar com seus pares de congregação, dando a impressão —equivocada— de defender a descriminalização do aborto.


Por esse motivo, a maioria dos cristãos se manifestou contra o projeto, se abstendo de defendê-lo publicamente. Afirmaram, dessa maneira, considerar desumano penalizar mais quem já foi vítima de violência sexual e engravidou.


Mas influenciadores de direita já atuam para recapturar o controle da narrativa entre conservadores, evangélicos ou não. Argumentam que o feto, após a 22ª semana, sexto mês de gestação, pode sobreviver em incubadeira e ser entregue para adoção. "Por que punir a criança pelo crime do estuprador?", perguntam às suas audiências.

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Se quiser vencer a disputa sobre o projeto, a esquerda deve seguir defendendo que o Estado não deve aumentar o sofrimento da mulher já vítima de violência. Mas perderá apoio de cristãos se a meta passar a ser a legalização do aborto para além do previsto em lei.


Mesmo evangélicos alinhados ao pensamento de esquerda —como o pastor presbiteriano Antônio Carlos Costa— são atacados por serem contrários à legalização do aborto. Esse tipo de crítica promove a percepção de que a esquerda quer o apoio dos cristãos ao mesmo tempo em que exige que eles abram mão de suas convicções de fé. Isso dificulta o diálogo.


spyer@uol.com.br