segunda-feira, 3 de julho de 2023

Cientista quer levar mandioca gigante à Paraíba, FSP

 Paulo Ricardo Martins

SÃO PAULO

Nascido no Egito, o cientista Nagib Nassar, 85, tenta levar à Paraíba uma variedade de mandioca com um tamanho maior, capaz de produzir mais farinha, amido e outros produtos. Segundo ele, que é professor emérito da UnB (Universidade de Brasília), as raízes do tubérculo têm de três a quatro vezes o tamanho de uma variedade comum.

A mandioca foi batizada de quimera. Na mitologia grega, o termo é dado a um monstro cuja aparência revela um híbrido de vários animais. Na pesquisa de Nassar, por sua vez, o nome indica que o tubérculo reúne características de duas variedades compatíveis –uma delas é silvestre e a outra, cultivada– que foram postas em contato para que sintetizassem a nova mandioca, sem qualquer tipo de cruzamento sexual.

"A quimera estimula a produção de raízes. Nós aumentamos o tamanho da raiz e, então, elevamos a produção de fécula, da farinha, do amido. Nós aumentaríamos a produção nacional duas ou três vezes", diz Nassar.

Nassar segura uma mandioca com comprimento maior do que seu corpo. Ele está ao lado de um laboratório. É possível var algumas plantas.
A quimera, mandioca desenvolvida pelo professor Nagib Nassar - Arquivo pessoal

De acordo com o pesquisador, a ideia é que, juntas com outras variedades de mandioca melhoradas pelo pesquisador, estacas da quimera sejam levadas a cinco agricultores paraibanos depois do período de seca do inverno deste ano. A finalidade é aumentar a produção local.

Para isso, o professor afirma ter submetido o projeto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário. Segundo ele, as tratativas ainda estão no início e ainda há muito para ser organizado. Procurada pela Folha, a pasta diz que ainda não há nada de concreto que possa ser divulgado sobre a iniciativa.

As quimeras foram desenvolvidas há cerca de oito anos, segundo Nassar, e serão propagadas para os agricultores.

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De acordo com o cientista, também devem ser escolhidas casas de farinha para receber instruções sobre como enriquecer a farinha da mandioca por meio da folha do tubérculo. A adição, diz ele, é capaz de elevar o teor proteico de 1% para 9%.

Em seu mestrado, concluído em 2019, a agrônoma Deziany da Silva Ferreira, 28, usou as quimeras desenvolvidas por Nassar, seu coorientador à época, entre as variedades de mandioca analisadas pelo projeto. Ao final da experiência, ela verificou que as quimeras tinham boa resistência aos nematóides, vermes microscópicos que causam danos às raízes das plantas, e também era capaz de transferir resistência de uma variedade a outra em um curto período de tempo.

Segundo Ferreira, a pesquisa foi bancada pela Funagib, fundação criada por Nassar para promover e subsidiar, com recursos próprios, pesquisas sobre a mandioca.

"Foi um trabalho muito interessante. É muito importante, principalmente para a África, que utiliza muito a mandioca como manufatura", diz ela.

A fundação foi criada por Nassar depois de ele ter sido condecorado, em 2014, com o Kuwait International Prize of Environment por suas pesquisas em torno do melhoramento da mandioca. O cientista recebeu US$ 100 mil (cerca de R$ 250 mil, à época).

Há quase 50 anos no Brasil, Nassar veio ao país em 1974 para estudar a cultura da mandioca na região. Coletou e catalogou variedades silvestres e ajudou, ainda no século passado, a desenvolver um híbrido resistente ao mosaico africano, uma praga que assolou as plantações do tubérculo em países da África e causou fome na região.

Fora do meio acadêmico, o melhoramento genético da mandioca faz parte das pesquisas do IAC (Instituto Agronômico), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, desde a década de 1930, segundo José Carlos Feltran, pesquisador da instituição.

Ele afirma que o desenvolvimento de uma nova variedade melhorada pode levar mais de 12 anos e custar de US$ 1 milhão a US$ 2 milhões (cerca de R$ 4,8 milhões a R$ 9,7 milhões). "São considerados a equipe envolvida, a estrutura física, que inclui prédios, laboratórios, fazendas, veículos etc., e o salário das pessoas nesse tempo. Quem financia isso é o poder público", diz.

Diferentemente da técnica utilizada pelo professor Nagib, o melhoramento da mandioca no IAC cruza as variedades. Feltran explica que, a partir disso, é feita uma seleção a cada plantio com as plantas resultantes daquela fecundação até encontrar uma nova variedade com as características desejadas.

Até hoje, foram 24 novas variedades liberadas para agricultores pelo IAC, segundo Feltran, algumas para mesa (consumo humano) e outras para a indústria.

"A mandioca, para a indústria, tem como ponto principal a produção de farinha e amido. Ela tem alta produtividade, resistência a bacteriose, alto teor de matéria seca nas raízes, o que resulta em alto rendimento de farinha e fécula na indústria, e elevado teor de ácido cianídrico, que forma o cianeto, presente na raiz. Essas variedades não servem para consumo humano", explica.

A última variedade de mandioca catalogada pelo IAC, em 2021, tem de 680 a 800 unidades internacionais de vitamina A por cem gramas de raiz, de acordo com Feltran –mais que o triplo observado em outra variedade anterior.

PT entra com ação no STF contra lei que autoriza privatização da Copel, FSP

 Catarina Scortecci

CURITIBA

O diretório nacional do PT entrou com uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) no STF (Supremo Tribunal Federal) contra trechos da lei do Paraná que permite que a Copel (Companhia Paranaense de Energia) seja transformada em uma empresa de capital disperso e sem acionista controlador.

A ação foi protocolada no STF na noite de sexta-feira (30) e é assinada pela presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. Ela atende a um pleito dos deputados estaduais do seu partido no Paraná, que fazem oposição ao governador Ratinho Junior (PSD).

Gleisi Hoffmann, presidente do PT, durante cerimônia de encerramento dos grupos de trabalho do governo de transição
Gleisi Hoffmann, presidente do PT, durante cerimônia de encerramento dos grupos de trabalho do governo de transição - Pedro Ladeira-13.dez.2022/Folhapress

Ao STF, o PT ainda faz um pedido de liminar para que os efeitos da lei fiquem suspensos até a análise do mérito do caso. A ideia do partido é impedir a realização da assembleia geral de acionistas marcada pela Copel para segunda-feira (10), e na qual já seriam feitas alterações estatutárias na empresa com base na lei estadual.

A lei foi sancionada em novembro do ano passado pelo governo do Paraná com aval da Assembleia Legislativa, onde Ratinho Junior detém uma ampla base aliada.

A nova legislação autoriza a Copel a não ter mais um acionista controlador, papel atualmente exercido pelo Estado do Paraná, e propõe regras para que nenhum acionista venha a exercer votos correspondentes a mais do que 10% do total. Também prevê a criação de uma golden share, ação especial que seria de titularidade do Estado do Paraná.

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Na ação, o PT reclama que houve supressão do debate parlamentar durante a aprovação do projeto de lei e que a privatização da Copel representa "grave lesão causada ao patrimônio e ao interesse público".

Também aponta violação ao pacto federativo, já que o BNDES, através do BNDESPar, detém 24% do capital social da Copel. A ação aponta "interferência, por parte do Estado Paraná, em direito de propriedade da União, por meio da vedação de que acionista ou grupo de acionistas exerça votos em número superior a 10% da quantidade de ações em que se dividir o capital votante da Copel".

A totalidade das ações que compõem o capital do BNDES é de propriedade da União.

A Casa Civil e a Copel foram procuradas nesta segunda, mas não quiseram se manifestar

Marcos de Vasconcellos Gigante da saúde completa um ano, mas não fica em pé, FSP

 Foi nos primeiros dias de 2021 que a Hapvida, então uma das maiores operadoras de saúde do Brasil, anunciou sua proposta de oferecer um caminhão de dinheiro para sua concorrente, a Notre Dame Intermédica, e criar a maior empresa do ramo no Brasil.

No dia do anúncio (8 de janeiro), em um corre-corre danado, investidores tentaram pegar carona no nascimento do gigante. As ações das empresas dispararam. Os papéis da Hapvida (HAPV3) subiram 17,5%. Os da Notre Dame (GNDI3) voaram ainda mais alto: 27,5%. Em um só dia.

Na época, eram duas empresas rentáveis. A Hapvida tivera um lucro de mais de R$ 850 milhões em 2019 e de R$ 785 milhões em 2020. A cada R$ 100 investidos na empresa, ela era capaz de gerar mais de R$ 10 de lucro —o que é medido pelo indicador ROE (Return on Equity).

Logos da Hapvida e da Notre Dame Intermédica - Divulgação

Pouco mais de um ano depois, em fevereiro de 2022, o Sistema Hapvida e o Grupo Notre Dame Intermédica concluíram a fusão, formando a maior empresa de saúde suplementar do hemisfério Sul.

A nova companhia nasceu com 15 milhões de beneficiários, 60 mil funcionários e uma rede de 7.000 leitos de atendimento. As expectativas eram altas em relação ao potencial de sinergias e eficiências proporcionadas pela fusão.

Três meses depois, o primeiro balanço pós-fusão da Hapvida não atingiu a ambição do mercado. O desempenho financeiro ficou abaixo do esperado, e as ações mostraram bem a opinião dos investidores: derreteram 16,7% em um só dia.

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Trimestre após trimestre, o desafio de fazer do novo negócio uma operação lucrativa foi ficando mais claro para analistas e investidores. No acumulado de 2022, houve um prejuízo de R$ 775 milhões. No primeiro trimestre deste ano, foram mais R$ 341,6 milhões.

E, assim, a ação HAPV3, que, na criação do gigante, em 2022, custava R$ 12, tombou quase 65% e hoje é negociada na casa dos R$ 4,40. O Ibovespa, no mesmo período, subiu mais de 5%.

Os indicadores da empresa deixam claro o esforço que é para virar as chaves. Se, em 2020, a cada R$ 100 investidos, a Hapvida devolvia R$ 10 de lucro, agora, a mesma quantia resulta em mais de R$ 1,50 de prejuízo, segundo dados do Monitor do Mercado.

Para tentar melhorar isso, a companhia resolveu concentrar esforços não em buscar novos clientes, mas em aumentar os preços para aqueles que já contrataram seus planos de saúde.

A estratégia ficou clara para quem acompanhou, em 15 de junho, um evento chamado "Investor Day", com a alta cúpula da Hapvida. A empresa "continuará priorizando a rentabilidade mesmo que prejudique o crescimento de sua base de beneficiários", escreveram analistas do BTG Pactual.

Já a integração da fusão com a Notre Dame continua se mostrando "difícil e lenta, gerando desafios operacionais", conforme especialistas da Genial Investimentos.

Em resumo, o gigante da saúde já comemorou seu primeiro aniversário, mas ainda não fica em pé. Os desafios para aprender a andar dependem de ele conseguir aumentar preços para seus clientes sem perder espaço no mercado.

Para quem comprou as ações com o anúncio da operação, esperando um salto, esse desenvolvimento parece um movimento demorado.

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