quarta-feira, 24 de abril de 2019

General a postos, FSP

Mourão está fazendo um excelente contraponto às temeridades de Bolsonaro

Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão em cerimônia de comemoração dos cem primeiros dias do governo, no Palácio do Planalto, neste mês
Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão em cerimônia de comemoração dos cem primeiros dias do governo, no Palácio do Planalto, neste mês - Evaristo Sa/AFP
Já defendi algumas vezes neste espaço a extinção dos cargos de vice. Eles são uma relíquia do século 19 que não faz mais sentido no mundo de hoje, onde tudo pode ser controlado à distância e não há muita dificuldade em organizar rapidamente uma eleição em caso de impedimento definitivo.
vice-presidente Hamilton Mourão ainda não me fez mudar de ideia —estamos falando não de um, mas de 5.598 cargos, aos quais se somam os de assessores, motoristas etc. Devo, porém, admitir que o general está fazendo um excelente contraponto às temeridades de JairBolsonaro. Tão bom que ele já se tornou o alvo principal da ala olavista do governo, a desbocada combinação de extremismo ideológico com paranoia.
Há uma diferença importante entre Mourão e Michel Temer, o mais recente vice a ascender ao poder. Enquanto o substituto de Dilma Rousseff atuou ativamente na costura política que levou ao impeachment da titular, o general se limita a emitir opiniões sensatas, deixando que o contraste com os desvarios do chefe o transforme numa alternativa potencialmente atraente. Objetivamente, não dá para apontar um único ato de deslealdade de Mourão para com Bolsonaro.
O irônico nessa história, como eu já havia apontado, é que o general foi escolhido pelo clã Bolsonaro justamente para servir de seguro contra o impeachment, já que, à época, ele era visto como mais extremado do que o próprio candidato.
Bolsonaro dificilmente irá arbitrar de modo decisivo entre a ala olavista e a dos militares. É da natureza dos regimes populistas estimular intrigas e rivalidades internas para fidelizar colaboradores e energizar a base de eleitores. O problema desse arranjo é que ele não ajuda na governabilidade, e Bolsonaro precisa, se não governar bem, pelo menos evitar um novo mergulho recessivo, hipótese em que um impeachment se torna verossímil. Aí é muito melhor ter um Mourão do que um Olavo de Carvalho na reserva.

terça-feira, 23 de abril de 2019

Doria promete entregar em dezembro estações do monotrilho, atrasadas há 6 anos, RF


Doria promete entregar em dezembro estações do monotrilho, atrasadas há 6 anos
Após refazer a licitação para retomar as obras que estavam paradas há oito meses, o governador João Doria (PSDB) prometeu nesta segunda-feira, 22, concluir até dezembro a construção de quatro estações da Linha 15-Prata, do Metrô, o monotrilho da zona leste. Com previsão para começar a operar em janeiro de 2020, as Estações Jardim Planalto, Sapopemba, Fazenda da Juta e São Mateus já deveriam estar prontas desde 2013.
Nesta segunda, Doria e o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), fizeram uma visita técnica para anunciar a retomada da obra. Os canteiros estavam paralisados desde o ano passado, após o governo rescindir o contrato com a empreiteira responsável pela construção e multá-la em mais de R$ 7 milhões por abandono de serviço.
"A obra está em curso e deverá ser concluída até 31 de dezembro. Em janeiro, iniciam as operações do monotrilho aqui para a zona leste da cidade de São Paulo", disse Doria. Segundo o governador, a expectativa é de que a linha transporte cerca de 300 mil pessoas por dia.
Para retomar a construção, o governo do Estado teve de relicitar as obras e contratou a STER Engenharia por R$ 47,5 milhões. O investimento inclui implantação de ciclovia e paisagismo sob o traçado do monotrilho. "Essa revitalização vai trazer também mais movimento no comércio varejista e vai impactar na geração de novos empregos na região", disse .
O leilão para concessão da Linha-15 foi realizado em março, na Bolsa de Valores de São Paulo, e só teve um interessado. Quando a etapa até São Mateus for concluída, a Linha-15 terá 13 quilômetros de extensão e dez estações, segundo planejamento do governo. O trajeto começa na Vila Prudente, a primeira das seis estações que estão hoje em operação.
Já a Estação Jardim Colonial - que ficará depois da São Mateus e será a 11ª parada do modal - tem previsão para ser aberta só em 2021. O investimento total no monotrilho é de R$ 5,2 bilhões, segundo o governo.
O projeto inicial, no entanto, previa 18 estações e deveria ir até Cidade Tiradentes, no extremo leste. A obra foi prometida em 2009 e deveria ficar pronta até 2013, mas acumulou atrasos e revisões.
Para Doria, a retomada das obras deve valorizar a região, com ganhos para residências e comércio. "Valorização é proporcionada com uma obra acabada e funcionando. Exatamente o oposto de obras inacabadas, paralisadas, como tínhamos até o final do ano passado."
Linhas de ônibus devem mudar
A conclusão das estações do monotrilho deve provocar alterações nas linhas de ônibus na zona leste a partir de janeiro. Segundo Doria, as mudanças vão acontecer para que os meios de transportes se completem e deem mais "eficiência e economia de recursos públicos".
"O Município já começa a estudar readequações de linhas de ônibus para que possa complementar e também ajudar a diluir a população que chega e sai desse entorno", confirmou Bruno Covas. Também deve haver investimento em reforma de asfalto e iluminação da região, segundo o prefeito.

Mágicas de linguagem, FSP

FGTS é mais um confisco do que um direito

Nas contas da Econometrica, entre 1997 e 2017, o FGTS rendeu 202%, contra 465% da poupança
Nas contas da Econometrica, entre 1997 e 2017, o FGTS rendeu 202%, contra 465% da poupança - Gabriel Cabral/Folhapress
A linguagem é uma ferramenta poderosa. Tão poderosa que basta insistir por alguns anos numa propaganda bem-feita para convencer pessoas inteligentes até de que algo que as prejudica é um direito inalienável.
Victor Klemperer (1881-1960), o filólogo judeu que conseguiu sobreviver durante a Segunda Guerra na Alemanha, registrando num diário a ascensão do nazismo, faz uma análise primorosa de como a manipulação da linguagem pode servir a propósitos ideológicos. Se você pensou na “novilíngua” de George Orwell, acertou, mas Klemperer escreveu suas observações antes do inglês, e elas diziam respeito ao mundo real, e não ao da ficção.
No Brasil, o FGTS é um bom exemplo dessa mágica operada pela linguagem. Quase todos, da esquerda à direita, passando pela própria Constituição, o tratam como um direito. Mais até, como cláusula pétrea da Carta, que só poderia ser extinta por revolução (essa é a posição da OAB).
Não é preciso, porém, mais do que noções elementares de economia e desprendimento em relação às “idées reçues” para constatar que o Fundo é mais bem descrito como um confisco do que como um direito.
Para início de conversa, num mercado de trabalho competitivo, se não houvesse FGTS, os vencimentos mensais recebidos pelos assalariados seriam 8% maiores. Na verdade, o que o FGTS faz é impor ao trabalhador uma poupança compulsória, da qual ele não pode dispor nem em emergências, cujos rendimentos são fixados pelo governo num valor que fica sistematicamente abaixo do da inflação. Nas contas da Econometrica, entre 1997 e 2017, o FGTS rendeu 202%, contra 465% da poupança, 756% do Ibovespa e 1.724% do CDI. O IPCA no período foi de 250%.
Basicamente, o governo tirou dinheiro do trabalhador. Num mundo não povoado por singularidades de linguagem, sindicatos e organizações que defendem direitos difusos pediriam o fim do FGTS, não sua perpetuação.
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".