terça-feira, 7 de agosto de 2018

Software de identificação biométrica do TSE foi desenvolvido por startup, Pesquisa Fapesp


07 de agosto de 2018
Suzel Tunes  |  Pesquisa para Inovação – Nas próximas eleições, mais de 2.800 municípios brasileiros utilizarão a biometria na identificação dos eleitores. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), até o mês de julho mais de 87 milhões de pessoas já haviam cadastrado suas impressões digitais.
A meta do TSE é concluir o cadastro das digitais de todos os eleitores do país – mais de 147 milhões de pessoas – até o ano de 2022. E para atingir esse objetivo, o TSE conta com um software desenvolvido pela startup Griaule Biometrics, que garante a comparação biométrica.
Única fornecedora do TSE, contratada por meio de licitação, a Griaule foi criada há 16 anos e se consolidou com o apoio do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE). Contou também com subvenção da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
João Pedro Weber, gerente de projetos da Griaule, conta que a empresa nasceu em 2002, quando seu fundador, o engenheiro eletricista Iron Calil Daher, mudou-se de Goiânia para Campinas para que a Griaule fosse incubada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “A proximidade com a universidade permitiu trazer grandes talentos para compor a equipe da empresa”, afirma João Weber.
A Griaule ficou incubada entre 2002 e 2005, período “primordial para construção de uma base sólida” tanto do ponto de vista técnico como empresarial, segundo o gerente. O primeiro projeto PIPE, realizado com o apoio do PIPE foi submetido direto à Fase 2 – de desenvolvimento de projeto inovador. Começou em 2004, com o propósito de aprimorar o sistema de identificação automática de impressões digitais, tecnologia já então comercializada pela empresa.
O reconhecimento veio rapidamente: em 2005, a empresa conquistou o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica, na categoria “Pequenas Empresas da Região Sudeste”. Um ano depois ganhou visibilidade internacional vencendo a Fingerprint Verification Competition com o algoritmo de identificação de impressões digitais com menor taxa de erro, destacando-se dentre 150 concorrentes.
A empresa desenvolveu ainda mais dois projetos com o apoio do PIPE Fase 2, o que contribuiu para que se consolidasse no mercado: Detecção e reconhecimento digital da face humana, concluído em 2009, e Reconhecimento por voz: verificação de locutor, encerrado em 2011.
Tendo iniciado com cinco pessoas, a empresa conta, atualmente, com aproximadamente 40 funcionários, de estagiários a pós-doutorados, dos quais 60% atuam diretamente com P&D em distintas frentes de atuação. Desde 2007, implantou uma unidade nos Estados Unidos; inicialmente no estado da Califórnia e, mais recentemente, em West Virginia, na cidade de Morgantown. “A unidade tem estações de trabalho, salas de reuniões e espaço para comportar servidores rodando nossa solução em larga escala, contribuindo nas vendas e no suporte local para o mercado norte-americano, utilizando o mesmo modelo implementado com sucesso na cidade de Campinas”, diz Weber.
Segundo Weber, a utilização de uma arquitetura aberta, amplamente utilizada por empresas como Google e Amazon, também contribui para o sucesso dos produtos da empresa. “Em diversas instituições, tanto públicas como privadas, a solução biométrica oferecida em plataforma proprietária tornava os clientes inteiramente dependentes dos fornecedores.” Já o sistema oferecido pela Griaule confere ao cliente maior autonomia e transparência sobre o funcionamento do sistema.
À prova de fraude
A Griaule já tem mais de 4 mil clientes, espalhados em 70 países. No Brasil, a Griaule tem presença em diversos mercados, como o setor bancário, onde a Diebold Nixdorf integrou a tecnologia Griaule nas principais instituições financeiras do país; no setor de certificação digital e varejo, com o exemplo de clientes como Serasa Experian; e no segmento de identificação civil, como é o caso do Tribunal Superior Eleitoral.
O software que o TSE adquiriu da Griaule – resultado de mais de uma década de pesquisas com apoio de agências de fomento governamentais e da Inova Unicamp, agência de inovação da universidade – tem a capacidade de armazenar, validar e autenticar os dados biométricos dos eleitores. “Ele garante a unicidade dos registros da população visando a extinção de fraudes na emissão de títulos de eleitor e na votação”, afirma Weber.
Também são clientes da Griaule a Caixa Econômica Federal – que utiliza a tecnologia tanto em suas unidades de atendimento quanto no controle do sistema de repasse de pagamentos do programa social Bolsa Família – e a Fundação Casa, que recorre à biometria para a identificação de crianças e adolescentes que chegam à instituição sem documento de identidade. Na Fundação Casa, além das digitais dos 10 dedos das mãos, são feitos registros biométricos de fotos, tatuagens, cicatrizes e marcas de nascença.
Embora o sistema de reconhecimento de impressões digitais seja o carro-chefe da empresa, a Griaule também desenvolve softwares de reconhecimento para face, íris, voz, palmar (verificação da palma da mão, tanto de adultos quanto de recém-nascidos), além da chamada “pesquisa de latentes”. O gerente de projetos Davi Gouvea Martins explica que a pesquisa latente é a análise de fragmentos de biometrias para uso forense. “Numa investigação podem ser utilizados diferentes tipos de fragmentos, como impressão digital ou palmar, por exemplo. O software compara esses fragmentos com a base de dados para a identificação do suspeito”, diz Martins.
Segundo os especialistas da Griaule, cada uma das formas de identificação biométrica possui vantagens e desvantagens, a depender do cenário de uso. “A identificação por íris e palmar possui números de precisão elevados. Todavia, os dispositivos para coleta biométrica dessas modalidades ainda são, muitas vezes, invasivos e caros. Levando isso em conta, a impressão digital ainda oferece a melhor relação custo-benefício para implementação de sistemas biométricos”, diz João Weber. “Além de bem aceitos, os fabricantes de hardware estão conseguindo oferecer produtos melhores e mais baratos”, diz ele.
Davi Martins explica que a Griaule optou por se especializar nos softwares de identificação biométrica, que podem ser utilizados em diferentes tipos de hardware, não se limitando à coleta biométrica, mas também ao processamento das informações. Ou seja, de leitores de impressão digital, câmeras, servidores e bases de dados existentes no mercado. Com foco no software, tem se dedicado a desenvolver algoritmos cada vez mais “robustos” e sistemas mais seguros, capazes também de prevenir fraudes na coleta biométrica, como o uso de dedos falsos de silicone ou látex. “O software identifica características que não conseguem ser reproduzidas pelo dedo falso, como a circulação sanguínea e a refração da luz que ocorre quando a pele é iluminada”, afirma Martins.
Griaule Biometrics
www.griaulebiometrics.com/newEndereço: Av Romeu Tortima, 1448, Cidade Universitaria, 13083-897, Campinas, SP
Fone: (19) 3289 2108
Contato: info@griaulebiometrics.com
Palavras-chave: biometria, TSE, Griaule, João Pedro Weber, reconhecimento de voz, reconhecimento digital

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Querem resolver eleição nos gabinetes ou em celas, diz Ciro Gomes, FSP

Candidato ao Planalto também defendeu sua vice, Kátia Abreu, dizendo que ela foi mais heroica que petistas

Daniel CarvalhoTalita Fernandes
BRASÍLIA
Aliado apenas com o nanico Avante, o candidato à Presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes, disse nesta segunda-feira (6) que adversários que o isolaram na disputa eleitoral querem decidir o pleito de dentro de gabinetes e celas, limitando seu tem de televisão a apenas 33 segundos.
"Querem resolver a eleição nos gabinetes ou em celas, o que é até pior em certos aspectos", afirmou, em crítica velada à aliança do centrão (DEM, PP, PR, PRB e SD) com Geraldo Alckmin (PSDB) e às articulações promovidas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para que PSB e PC do B não aderissem à sua campanha.
Após mais de uma hora de sabatina com empresários ligados à Coalizão pela Construção, coletivo de entidades que representam o setor, Ciro fez críticas nominais a seus adversários.
O presidenciável Ciro Gomes (PDT) durante evento em Brasília
O presidenciável Ciro Gomes (PDT) durante evento em Brasília - Adriano Machado/Reuters
Aos jornalistas, disse que o PT fez aliança de neutralidade do PSBpor medo e acusou Lula de agir diretamente para levar o centrão para Alckmin.
"O Lula trabalhou para o Valdemar Costa Neto [comandante do PR] ir para o Alckmin. O Lula trabalhou para o PR ir para o Alckmin. E eu me recusei a conversar com o Valdemar por razões antigas. Tá tudo certo. Eu só acho que é um erro grave. E não é nobre, mas ninguém precisa ser nobre. E pegou mal pra cacete. O que é, afinal de contas? É tirar o meu direito de falar uns segundinhos a mais", afirmou.
O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) também foi alvo de críticas por se esquivar de perguntas sobre economia. O candidato de direita foi convidado, porém não participou do evento.
"No Brasil, iniciou-se de um tempo para cá, a apologia da ignorância. Porque isso dá uma certa afinidade com o nosso povo. Virou um atributo. 'Sei de nada não, vou chamar o posto Ipiranga'", ironizou Ciro Gomes.
Ciro também justificou sua aliança com a senadora Kátia Abreu (PDT), oficializada como sua vice, que, aliás, ele chamou de vice-presidenta. Ela foi ministra da Agricultura do governo Dilma Rousseff e era ligada a pautas conservadoras.
"Duvido que tenha um petista que tenha sido mais heroico e mais sacrificado do que a Kátia Abreu foi, com decência e fidelidade à democracia, ao Brasil e a [ex-presidente] Dilma [Rousseff], ao PT. Ela foi expulsa do partido [MDB] pelos quadrilheiros golpistas porque foi fiel [na época do impeachment]", disse Ciro Gomes.
Aos empresários da construção, falou de quatro pontos que pretende atacar caso seja eleito: os colapsos do crescimento e fiscal, o endividamento do empresariado e o desequilíbrio da balança comercial brasileira.
O presidenciável criticou a concentração de bancos no país, comparando com o número em países como os Estados Unidos.
"No Brasil, de forma absolutamente irresponsável, permitimos ao longo dos últimos 15 anos que 85% das transações financeiras do país se concentrem em cinco bancos, dois dos quais estatais [Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal], que participam do cartel", afirmou.
O candidato disse também que Banco do Brasil e Caixa têm que ser forçados a competir com outras instituições financeiras e criticou qualquer possibilidade de privatizar os bancos estatais.
Ao contrário do que aconteceu em sabatina da CNI (Confederação Nacional da Indústria), quando foi vaiado, há pouco mais de um mês, desta vez Ciro foi aplaudido pelos empresários.
O candidato criticou o que considera abusos regulatórios e, para exemplificar, disse que um "garoto do Ministério Público" dita as regras e que órgãos de fiscalização como o TCU (Tribunal de Contas da União) "tem mais engenheiro que os órgãos de execução, só para botar defeito no trabalho dos outros".
Afirmou que, eleito, fará uma série de mudanças nas leis de improbidade, das licitações, de desapropriações e na estrutura de órgãos de controle.
Ciro prometeu "passar uma lupa" nas despesas de estado e nos R$ 354 bilhões de renúncia fiscal. Se comprometeu também a levar a taxa de câmbio a um patamar estimulante.
O presidenciável criticou o pensamento de estimular a economia através do consumo. "Não podemos mais acreditar que o consumo vai fazer o país crescer."
Ciro também criticou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), afirmando que ele "jogou no lixo" a oportunidade de reformar o país.

Roubo da Medalha Fields ainda tem capítulo aberto, FSP


Caucher Birkar recebeu nova láurea, mas ladrões ainda estão soltos



O curdo radicado no Reino Unido Caucher Birkar recebe uma nova medalha, no Rio  - Lucas Landau/Folhapress
Fernando Tadeu Moraes
RIO DE JANEIRO
A cerimônia de abertura do 28º Congresso Internacional deMatemáticos,  no Rio, havia acabado e eu já enviara para a Redação o texto sobre o ponto alto do dia, a entrega da Medalha Fields, prêmio mais importante da matemática. Era quarta-feira.
Almoçava num dos food trucks espalhados pelo evento quando começou a circular o boato de que a medalha de um dos laureados fora roubada. Minha reação inicial foi de incredulidade. Seria possível?
Corri para a área onde ficam os assessores de imprensa do evento. A sala estava fechada. Consegui falar com um deles, que me disse que eles ainda estavam tentando entender o que havia acontecido, mas que, sim, a medalha de um dos vencedores fora roubada.
Nesse momento os pontos se ligaram. De pronto, lhe perguntei: foi a do curdo, né? Sim, respondeu o assessor. 
Havia entendido por que, quando fui para a frente do palco observar de perto os vencedores da medalha, vi um dos laureados, o curdo radicado no Reino Unido Caucher Birkar, tenso. Ele falava com um membro da organização. Havia muita gente ali, conversando e tirando fotos. Aproximei-me de Birkar. Em meio à algaravia eu o ouvi dizer: “My medal”. Tinha acabado de se dar conta de que a pasta em que estava sua medalha sumira.
O roubo, claro, tornou-se o assunto do dia. Escrevi rapidamente um novo texto e enviei ao jornal. No dia seguinte, apareceram imagens dos suspeitos. Colegas jornalistas e amigos matemáticos estavam desolados. Na sexta-feira, uma boa notícia: Birkar receberia uma nova medalha.
Era, de certa forma, um final feliz para ele. No sábado, acompanhei a entrega da nova láurea, o penúltimo capítulo dessa história. O último, o da prisão dos ladrões, ainda está em aberto.